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~JENNA~

Emma se despediu de mim na entrada do refeitório. Foi a sala da coordenação, pelo que parece, sua mãe queria conversar com ela.

Fiquei tão preocupada que não consegui comer quase nada. Saí do refeitório e fui atrás de Emma, eu precisava saber o que estava acontecendo.

Assim que cheguei ao corredor que dava caminho à sala onde ela estaria, vi ela saindo, sendo puxada. Sua mãe segurava seu braço com firmeza e a levava em direção a saída. Agora estou ainda mais preocupada do que antes.

Como hoje é segunda, assim que saí da escola fui direto para o consultório da minha mãe; ainda pensativa sobre o que aconteceu mais cedo.

J*- oi, mãe. Só vim perguntar se já almoçou?! - digo assim que entro na sala da minha mãe.

N*- já sim, filha. Jenna, posso te perguntar uma coisa? - apenas afirmo com a cabeça. - aconteceu alguma coisa com a Emma?

Neste momento, a lembrança de seu rosto confuso e atordoado, enquanto sua mãe a leva pelo braço, passa na minha cabeça. O que aconteceu...?

J*- não sei dizer, mãe... A mãe dela a buscou na escola hoje, antes do almoço. Mas... Por quê a pergunta? - não sei se quero saber a resposta, mas preciso dela.

N*- oh, é que a mãe dela ligou hoje, mais cedo, e cancelou a consulta da Emma. Achei que você soubesse de alguma coisa. - neste momento, meu corpo gelou e eu não sei o que pensar. Sei o quão difícil a mãe da Emma consegue ser. - Mas não se preocupe, filha. Não deve ser nada de mais.

J*- ok... A senhora tem razão. Não deve ser nada. - espero que não seja nada.

Vou até minha mesa e passo o resto do dia atendendo ligações e pacientes. Mesmo que meu pensamento esteja apenas em Emma.

~EMMA~

Assim que desço as escadas (após um banho completamente dedicado a tentar entender a cabeça da minha mãe), a encontro sentada no sofá, à minha espera.

E.S*- oh, você demorou, agora entendo porque a conta de Luz tem vindo tão alta. - comenta ela, assim que paro em sua frente. - sente-se, Emma.

Me sento no lugar vago ao seu lado no sofá. Ela vira seu corpo até que esteja completamente de frente para mim.

A cena a seguir é muito rápida. Apenas viro meu rosto, sentindo um ardor em minha bochecha esquerda, não tive nenhum tempo para raciocinar o que havia acontecido.

E.S*- Por que tem mentido para mim, Emma? Sou sua mãe, querida. Não deveria me esconder nada.

E*- d-do que a senhora está falando...? - pergunto, levando minha mão até minha bochecha, onde queimava.

E.S*- oh, Não. Não se faça de inocente Emma! Sei de suas escapadas, as que me diz que vai para a casa de seu pai, mas só Deus sabe onde você tem passado os fins de semana.

Não... Não pode ser.

E*- como...?

E.S*- como eu descobri? Ah, Emma, vocês não foram muito discretas. Sair por aí, com toda aquela melação e esperar que ninguém veja vocês, é um tanto quanto burro.

E*- m-mãe... Por favor... - a está altura do campeonato eu já tremia o corpo todo, minha respiração já tinha ido embora a muito tempo.

E.S*- o que é, Emma? Por favor, o que? É tão covarde que não consegue nem implorar? FALE, GAROTA!

outro tapa... Dessa vez, na minha bochecha direita, é mais forte que o primeiro; resultando em minha queda.
Minha mãe se abaixa e agarra com firmeza em meus cabelos.

E.S*- eu quero ver você implorar, para que eu não faça um inferno na vida da sua namoradinha! Ah, Emma... Achei que você já tivesse aprendido a lição, filha. Enquanto você morar embaixo do meu teto, e for sustentada pelo meu dinheiro, você vai ser como eu quero que você seja!

Eu não acredito que isso está acontecendo de novo... As lágrimas já rolavam livres, por minhas bochechas. Eu tentava de tudo para me soltar, mas seu aperto era forte, o que me machucava.

E.S*- se continuar com essa historinha de ser lésbica, você vai queimar no inferno, junto com sua namoradinha! Eu estou te dando mais uma chance de ser minimamente normal, então aproveite, pois não vou colocar minha mão no fogo por você! Você é uma decepção pra mim! Eu tenho nojo de você!

Não sei se isso deveria me machucar tanto quanto machuca... Mas dói. Dói ouvir isso de alguém que você sempre esperou apoio. Dói ouvir isso que alguém que você amou incondicionalmente e tudo que esperava era a reciprocidade.

E*- tem razão... - pressiono seu punho até que ela afrouxe o aperto em meu cabelo e me livro de suas mãos. - você sempre tem razão. Mas quer mesmo saber Esther?! Eu não ligo para o inferno! Mas se o preço para ser feliz e amada é o inferno, eu irei. Mas irei feliz... Porque saberei que vivi com pessoas que realmente me amam e se importam comigo. Enquanto você vai morrer sozinha!

E.S*- que menina insolente! Solte-me garota! - ela puxa seu punho, em uma tentativa falha de se soltar.

E*- aaahh, pimenta no cu dos outros é refresco. não é, dona Esther?! O papai te deixou, por que já não aguentava mais você! Eu já não aguento mais você! Então esqueça que tem uma filha, sua maluca. Estou pegando minhas coisas e indo embora! Sinta-se feliz em morrer sozinha. - solto seu punho e dou as costas a ela, indo em direção às escadas.

E.S*- VOCÊ NÃO VAI TIRAR NEM UMA POEIRINHA SEQUER DE DENTRO DA MINHA CASA! SE QUER IR EMBORA, VÁ. MAS NÃO LEVARÁ NADA DAQUI! - ela grita antes que eu possa chegar ao topo das escadas.

Volto a descer os degraus, adotando uma nova direção.
Mas paro antes de chegar à porta.

E*- ok. Não preciso de nada seu!

Saio e bato a porta. As lágrimas ainda rolavam em meu rosto, mas agora eu me sentia livre. Agora eu estou livre.

A Garota Do Avião...Onde histórias criam vida. Descubra agora