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~narrador~

Na manhã de segunda-feira o pai de Emma saiu cedo de casa, logo após mais uma bela discussão com sua esposa.
Havia percebido que as coisas nunca foram como ele achou que fosse, que não tinha por que forçar e oprimir a própria filha, apenas por um voto de orgulho, para satisfazer a militância e o conservadorismo de sua esposa.

Ele se sentia abatido e culpado, por não poder ter cuidado e protegido sua pequena princesinha.

Dirigiu-se até a empresa em que trabalha, ficando lá até o horário do almoço, onde fez a refeição rapidamente antes de se dirigir rumo à escola da filha.

Estacionou o carro, logo a frente da saída e esperou pacientemente, até avistar sua filha sair em direção à uma silhueta pequena, a qual forçando um pouco a vista, deduziu ser Jenna.

~Emma~

Hoje foi um dia cansativo... não consegui conversar muito com Jenna, e acho que preciso dela no momento, como um apoio emocional.
É... acho que ela é minha âncora...

Assim que saio do almoço, vou em direção a parte externa da escola; onde eu sei que Jenna estará me esperando.

E*-oi... - digo assim que chego até ela.

J*- oi, como você tá? - ela rodeia o braço na minha cintura e deixa um selinho rápido, mas carinhoso, em meus lábios.

E*- melhor. - envolvo seu pescoço com meus braços e deito em seu ombro com o rosto virado para a parte frontal da escola.

J*- fico feliz que esteja melhorando. Quer tomar um sorvete antes de irmos para a clínica? - eu ouvia enquanto observava um carro parado não muito longe de nós, idêntico ao carro do meu pai... muito idêntico mesmo, parece até que...

E*- NÃO! - exclama me afastando brevemente de Jenna.

J*- ah... ok... tudo bem, a gente pode ir direto pra clínica então...

E*- não, não é isso. Jenna sai daqui! Meu pai tá vindo pra cá, vai. - tento empurrá-la na direção contrária, mas a mesma parece palarisar ao ver meu pai andar em nossa direção. - Jenna Vai!! - tento novamente, falhando mais uma vez.

J*- o quê? Não! Eu não vou te deixar sozinha, pra enfrentar seu pai Emma. Não vou deixar você, não vou a lugar algum! - merda... eu amo tanto essa garota... ainda quero que ela vá, mas já é tarde de mais.

Meu pai nós alcançou.

M*- senhorita Ortega?! - meu pai a cumprimenta, com um toque de surpresa e deboche na voz.

J*- olá, senhor Myers. - Jenna estendeu a mão para ele, que logo retribui, apertando a mesma.

M*- é bom vê-la novamente. - meu pai um tom de voz.... orgulhoso....??

E*- p-pai... o que faz aqui? - me amaldiçoei por gaguejar.

M*- vim vê-la minha pequena princesinha, e conversar um pouco. Talvez eu precise falar com você também Jenna... - MERDA! Ele vai querer ir pra onde agora? Argentina?

J*- claro sr. Myers. Eu ad... - não dou tempo para que ela termine.

E*- Não! A Jenna já estava de saída pai. - falo em um fôlego só, dando um risinho nervoso.

M*- ah estava srt. Ortega? - meu pai lança um olhar desafiador para Jenna.

J*- na verdade não estava não, sr. Myers. E eu adoraria conversar com o senhor. - Jenna está convicta, e não quem possa fazê-la mudar de ideia.

M*- ótimo! Podemos ir para um lugar mais reservado?

E*- claro... - me dou por vencida.

Eu não dei o que se passa na cabeça do meu pai agora, mas eu só queria que as mil e uma paranoias que criei estejam erradas.

Fui com Jenna, em seu carro, e meu pai nós seguia.
Jenna sugeriu que fossemos até sua casa para conversarmos, já que fica no caminho entre a clínica e a minha casa.

J*- o quê acha que ele pode fazer? - ela quebrou o silêncio constrangedor que havia se estabelecido no carro, durante parte do caminho.

E*- eu não sei... E tenho medo por não saber. - suspirei, olhando tudo que passava do lado de fora da janela.

J*- vai ficar tudo bem, ok? Eu não vou sair do seu lado! - Jenna desvia o olhar da estrada para mim, por um segundo, mas logo volta a prestar atenção no caminho, enquanto leva suas mãos até as minhas, que repousava inquietas no meu colo.

E*- eu só não quero te meter nessa bagunça... meus pais podem ser um tanto quanto... complicados. - Entrelacei nossos dedos, segurando firme em sua mão.

J*- Emma... eu me apaixonei por você, sabendo que seria bagunçado, e ainda assim, eu tô aqui. Não me importo de ter que enfrentar alguns problemas, desde que enfrentamos eles juntas, ok?! - ela me olhou assim que estacionou o carro em frente a sua casa.

E*- ok... - jenna fez menção de sair do carro, mas a segurei antes - aproveitando esse "momento conversa"... eu quero te contar uma coisa também. Podemos conversar a sós, assim que tivermos um tempo?

J*- claro meu amor, vou ligar para minha mãe, e pedir pra desmarcar seu horário na clínica hoje, e para a Ellis assumir lá pra mim. Assim a gente passa a tarde toda juntinhas pode ser?!

E*- e se meu pai me arrastar pra fora da sua casa e me colocar no primeiro voo, pro lugar mais longe daqui, sem sinal de Internet e nem comunicação humana...?

J*- então ligarei para a minha mãe pra avisar que estou indo viajar, e Ellis assumirá tudo lá pra mim. Assim eu poderei ir atrás do amor da minha vida, no primeiro voo, pro lugar mais longe daqui, sem sinal de Internet e nem comunicação humana.

Jenna da um beijinho na minha testa e me garante novamente que vai ficar tudo bem.

Aahh eu sou completamente apaixonada por essa garota!

J*- sente-se sr. Myers. Aceita alguma coisa? - Jenna pergunta assim que chegamos a sala de estar de sua casa.

M*- uma água está bom, obrigado.

Jenna sai da sala para buscar a água para meu pai, nos deixando sozinhos.

M*- vocês estão namorando...? - meu pai parece êxitante ao quebrar o silêncio.

E*- pai, não! Deixa a Jenna fora disso. Olha, se for brigar, gritar ou qualquer coisa, faz comigo. Mas por favor não coloca a Jenna no meio da nossa bagunça.

M*- não vou brigar filha... nem gritar, nem nada... esse é o papel que sua mãe ocupa. E eu fui cego o suficiente pra deixar ela fazer isso com você por anos... antes de conversar, eu quero te pedir desculpa por tudo, sei que não vai compensar, mas eu quero tentar ser o pai que eu não fui nos últimos anos... por favor me perdoa filha?!

Meu olhos começam a transbordar, meu pai já está em lágrimas.

E todas as minhas paranoias estão erradas...

E*- eu perdoo! É claro que eu perdoo, pai! Eu te amo. - abraço meu pai, com toda minha força, deixando as lágrimas teimosas rolarem, até molhar seu ombro.

M*- eu também te amo filha! Por ser quem você é, do jeitinho que você é!

Ficamos mais alguns segundos abraçados até Jenna retornar e limpar a garganta, para mostrar sua presença.

J*- desculpe interromper... aqui está a sua água sr. Myers.

M*- deixe as formalidades de lado Jenna. Se vai ser minha nora, não precisa me chamar de senhor o tempo inteiro. Me sinto velho assim.

Meu pai deu um riso carregado de uma alegria genuína, enquanto Jenna corou na hora, e eu também sentia minhas bochechas queimarem.

Será que a vida é realmente injusta com quem ama?

A Garota Do Avião...Onde histórias criam vida. Descubra agora