O coração do labirinto

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  Firence sussurrou, batendo no chão e abanando o rabo, inquieto:

– Sua hora ainda não está escrita nas estrelas... os céus nunca estiveram tão claros... e mesmo assim, ele está morrendo...

Severus sorriu e murmurou:

– E apesar de tudo, enfrento a morte feliz e feliz. Ser seu marido, mesmo que brevemente, tem sido um prazer. Estou muito honrado por ter conhecido você, Harry Evans.

Com uma centelha de medo na voz e balançando a cabeça vigorosamente, Evans murmurou:

– E uma buzina! Nem pense em morrer agora! Meu pai vai assombrar você por toda a eternidade por me deixar em paz! E minha mãe vai mandar você de volta!

Severus sorriu um pouco mais diante da barragem (a dor agora que a cobra não o picava mais era surda e mais suportável) e sussurrou, deixando emergir sem reservas seu carinho e admiração pelo valente jovem:

– Garoto bobo e sentimental... ele sabia perfeitamente o que Harry estava fazendo. E eu fiz isso de boa vontade. A minha vontade... estava preparada para esta contingência. Se você quiser fazer algo por mim... viva, viva e me esqueça o mais rápido possível e siga em frente com seus planos...

Evans apertou a mão que agora repousava em seu ombro e com determinação transbordando de fogo em seus olhos ele murmurou:

– Severus... você tem que beber sangue de unicórnio... por favor... por mim...

O homem riu (uma risada triste e negra como a noite porque a tentação de se agarrar à vida, de sobreviver não importa o que fosse era muito poderosa; ainda mais quando tinha diante de si o que poderia mantê-lo vivo) e murmurou amargamente, balançando a cabeça e apertando levemente o ombro jovem sob os dedos:

–E me condenar a uma vida amaldiçoada, a ser um monstro como aquele infeliz? Não, Evans... acredite, isso é o melhor... você tem que me deixar ir...

Com uma teimosia que seria digna da mais obstinada das mais teimosas mulas; Evans insistiu; seu rosto se encheu de uma ferocidade angustiada e ardente, estimulada pelo medo e pelo desespero, apertando firmemente as duas mãos do homem.

– Não, me escute você, Severus. Não desista sem lutar... Se não estivermos errados em nossas suposições... Você tem ao seu alcance a única coisa que poderia salvar sua vida, a Pedra Filosofal.

Firence resistiu e soltou um som que parecia um relincho furioso, enquanto chutava, não tão disfarçadamente, o caroço preto no chão, que fazia um som úmido e viscoso como uma pilha de algas apodrecidas enquanto se movia:

– O Diretor a trouxe aqui de propósito e como isca, a isca perfeita para atrair aquele que não tem nada a perder e tudo a ganhar bebendo sangue de unicórnio, aquele que esperou muitos anos para retornar ao poder, e que não é nem vivo nem morto.

Severus hesitou infinitamente e Evans agarrou-se àquele pequeno lampejo de dúvida como um polvo, com oito tentáculos e centenas de ventosas, implorando descaradamente:

– Por favor, Severo, por favor...

– Evans...eu não quero perder o que sobrou da minha alma...

– Eu não te perguntaria isso! Não vamos encontrar um único unicórnio disposto a nos ajudar em toda a floresta?

Como era mais provável nevar no Saara do que convencer um unicórnio a doar voluntariamente seu sangue, com um leve sorriso cheio de condescendência reprimida, Severus sussurrou, apertando as mãos de Evans nas suas:

–Está tudo bem Evans. Se você encontrar aquele unicórnio, eu encontrarei.

Mesmo sabendo que Severus acreditava que era impossível e só estava concordando em agradá-lo, Evans só precisava que ele consentisse. Sorrindo através das lágrimas que ainda escorriam por seu rosto e dando-lhe um aperto impulsivo, Evans murmurou seus agradecimentos repetidas vezes enquanto Severus deslizava as mãos pelas costas e pelos cabelos em um abraço frouxo.

Um Casal Impossível - (Tradução)Onde histórias criam vida. Descubra agora