Depois de um enorme breu; de presenciar ao fim de um ciclo, do respirar, do fôlego de vida e da luz, o monarca encontrou-se em um abismo. Um vazio intermitente, onde predominava-se a angústia incessante do existir e não existir em um paradoxo atemporal.
Uma vez fora rei; agora, não era ninguém. Navegava no vazio perdido de um universo desconhecido inconsciente. A incapacidade de existir começava a sufocar sua consciência efêmera e limitante. Por breves minutos, Charles soube o que era a insignificância do ser humano.
Abriu seus olhos no susto de sentir o fôlego de vida novamente. Olhou de um lado para o outro e não reconheceu nada do que via. Pôs a mão em seu pescoço de forma inconsciente, na tentativa de, talvez, estancar o sangramento e minimizar a dor que sentia pós batalhar.
Descobriu então que as dores eram imaginárias. Ele não tinha corte algum em seu pescoço, muito menos em seu peito. Passou a mão pelo seu corpo, mas à medida em que percebia-se como pessoa, menos dores era capaz de sentir. Olhava novamente para si, mas não reconhecia nenhuma parte do seu corpo.
A porta bateu. Um quarto esquisito, mas mesmo assim luxuoso. Logo percebeu que jamais pisara os pés em uma casa com tais arquiteturas. Percebeu que aquele não era o palácio. Mas ele havia morrido, disso tinha certeza.
Ou será que não?
Talvez fora feito de prisioneiro no império de Flyanka. A porta bateu de novo. Entendeu que prisioneiros jamais teriam um quarto tão luxuoso com tamanha privacidade. Concluiu que prisioneiro ele não era.
Mas o que ele era? Onde ele estava?
A porta bateu pela terceira vez e ele estressou-se com qualquer que seja a criatura disposta a atormentar o seu dia. Se não era prisioneiro, se não havia morrido e muito menos perdido sua grandeza (dado ao luxo que estava), quem estaria desafiando o rei de Fagiljker com tamanha insistência?
Se pôs de pé para cortar a garganta de quem quer que estivesse do outro lado da porta, mas ela abriu sozinha, com a insistência de um homem mais velho.
A porta aberta revelou um homem de rugas bem visíveis, denunciando o avanço da idade. Tinha uma cicatriz linear enorme em seu rosto, que cortava da sobrancelha direita à boca, fazendo-o imaginar que esteve em uma batalha de vida ou morte. Era magro, esguio e bem posturado. Assemelhava-se ao seu mensageiro real. Mas evidentemente que não era.
_ Quem é você, criatura insolente? _ Bradou o rei, com um rugido cheio de raiva.
_ "Criatura insolente"? _ O homem contestou, desentendido_ Chefe, está bêbado novamente?
Charles agora já estava à um passo da loucura. Era um homem da realeza e deveria ser tratado como um. Sem temer, aproximou-se daquele estranho homem em passos firmes.
_ Perdeu a cabeça, homem petulante? É você quem não está reconhecendo minha soberania! _ De frente ao homem, ergueu os punhos e o puxou pela gola de sua camisa_ Eu sou Charles Gerhard Von Hohenzollern! Está blasfemando contra a realeza!
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O Rei Tirano
FantasyEm outra era, Charles Gerhard Von Hohenzollern foi um rei; tirano, cruel, insano e desonesto. O seu destino foi tão cruel quanto ele era, ao deixá-lo morrer de forma tão humilhante por um guerreiro misterioso. Em uma nova era, Charles ressurge como...