Cap. 8: Fugas e lágrimas

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_Minas Gerais_

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   Como posso explicar isso de maneira clara? Bom, eu sou o Minas, ou também Miguel para os familiares.

   Faz aproximadamente três anos, três anos que estou apaixonado pela única pessoa que não pode corresponder meus sentimentos. Bom, digo aproximadamente três anos, pois foi quando eu percebi que realmente estava apaixonado por ele, e quando me descobri bissexual, acho que é assim que fala, Paulinho já me explicou algumas coisas sobre isso.

   O que posso dizer se foi ele quem me acolheu quando cheguei aqui?

   Quando Brasil me escolheu como Estado, tudo estava muito confuso ainda, até eu conhecer o Matin, ele também tinha acabado de chegar, acabamos fazendo amizade, e digamos que eu tenha me apaixonado por ele.

   O que foi um completo erro, ele é hétero.

   Já conversei com a Matinha, irmã dele, para saber se ela poderia me dizer algo, mas a mulher me explicou que o irmão é um homem difícil, e que é fechado nesse aspecto de relacionamentos românticos.

   Matin é um homem complicado diga-se de passagem. Mas eu adoro o jeitinho grosso dele, o jeito caipira dele, sinto que é um dos motivos de eu me apaixonar pelo moreno cabeludo.

   A verdade é que eu me amarro nele. Ele é estupidamente lindo, principalmente quando sorri, coisa que não vejo com frequência. Mas eu vi uma vez. A gente tava conversando, e o Sergipe tadinho escorregou na nossa frente. Eu nunca vi o Matin rir tanto, o sorriso dele era lindo, e a risada era mais linda ainda.

   Abençoado seja o cabeleireiro de Mato grosso do sul que tem autorização para tocar naqueles fios longos e hidratados. Ele hidrata com babosa.

~#~

   Acordo de manhã com os olhos cansados, fiquei acordado até tarde ontem. Estava ajudando o Pará com algumas anotações que ele precisava entregar para o patrão.

   Levanto lentamente da minha cama e me espreguiço. Ouço uma batida na porta e logo vou abrir.

   Vejo Goiás ali parado, com uma cara de desespero.

-Minas, deixa eu entrar vai vai vai! - Ele diz dando leves pulos enquanto olha freneticamente para o corredor.

-Pode ent- - Não tenho tempo de terminar de falar quando o goiano entra com tudo no meu quarto. Fecho a porta e olho para ele confuso.

-O Matin tá atrás de mim! - Ele diz um pouco baixo. Ouço passos pesados do lado de fora e logo uma batida na minha porta - Não diz que tô aqui!

   Ele se esconde atrás de um móvel perto a janela.

   Abro a porta dando de cara com Matin.

-Oi Matin! Como eu posso ajudar 'ocê? - Digo e logo dou um sorriso.

   Percebi o olhar ameaçador de Matin vacilar um pouco. Mas logo ganha vida de volta.

-O goiano maldito tá aqui não tá?! - Ele diz olhando pra dentro do quarto.

-O goiano? O que você fez agora pra deixar o coitadinho com medo? - Cruzo os braços.

-Aquele goiano tá querendo treta pro meu lado! Tava tentando dar uns pega na minha irmã! - Ele bate na parede e ouço um respirar fundo dentro do quarto. Provavelmente do Goiás.

-O Goiás e a Matinha? - Arqueio levemente a sobrancelha.

   Matinha sempre me contou que o irmão era ciumento. E vendo agora, não culpo ele, o goiano tem fama de galinha. Mas nenhuma mulher da bola pra ele. A única que sorri com as cantadas sem graça dele é a Matinha. Eles formariam um casal fofo, claro, se o Goiás não recebesse uma ameaça de morte a cada segundo se namorasse com a Matinha. Ameaças essas vindas do irmão super protetor.

-Bom, não tem ninguém aqui não, Matin - Respondo olhando o sul mato grossense.

-Hum, então vou continuar a caça - Ele sai e começa a caminhar pelo corredor.

   Apenas observo o homem de longos cabelos escuros se afastar aos poucos. Entro no quarto novamente e fecho a porta.

   O goiano saí de trás do móvel e suspira.

-Valeu aí Minas, não sei o que seria de mim sem você - Ele diz com um leve sorriso no rosto.

-Que isso, 'magina, pode contar comigo pra salvar seu coro - Solto uma leve risada.

-Ainda bem - Ele começa a se dirigir a porta para sair.

-Goiás - Chamo pelo homem que logo se vira para mim - Se quer um conselho. Deveria investir na Matinha, sei que gosta dela mais do que as outras. Se parar de ser galinha, talvez ela dê mais bola pra 'ocê.

   Ele pareceu pensar por um tempo. E logo sorriu para mim e concordou com a cabeça. Abriu a porta e saiu do quarto.

   Solto um suspiro e me deito na minha cama novamente. Fecho os olhos e logo ouço outra batida na porta. Revirei os olhos e levantei da cama. Abri a porta já levemente irritado mas a irritação sumiu quando vi que era a Santinha. Seu olhar era preocupado.

-Minas, podemos conversar por um minuto? Por favor? - Ela pergunta me olhando.

-Claro, Santinha. Pode entrar - Abro espaço e a mulher logo passa por mim. Fecho a porta e me viro, vendo ela sentando na cama - O que aconteceu?

   Vou até ela e me sento ao seu lado. Ela respira fundo. Logo se encolhe na cama e abraça as próprias pernas.

-Eu acho que tô desenvolvendo sentimentos pelo Acre, e a gente literalmente se aproximou ontem - Ela diz escondendo o rosto nas pernas - E a gente quase se beijou! Mas..mas eu não quero perder a amizade com ele! A gente descobriu que temos gostos parecidos! E ele é tipo, super, super legal! E e-eu...

   Abraço ela com força. Ela paralisa por alguns segundos, mas logo retribui o abraço. Senti meu ombro um pouco úmido, percebi que ela estava chorando. Abracei a garota com mais força.

-Tá tudo bem, Santinha... Sei como tá se sentindo - Afasto a mesma do meu ombro e toco sua bochecha úmida por conta das lágrimas, então faço um leve carinho com o polegar.

-E-eu só... não quero acabar a amizade com ele...e se ele não sentir a mesma coisa...vai ser estranho, né? - Ela inclina o rosto em direção a minha mão.

-Eu vou conversar com a Amazonas. Se o Acre sente algo por 'ocê, ele provavelmente contou pra ela.

-Você faria isso por mim? - Ela pergunta olhando para mim enquanto seca as lágrimas que escorriam pelo rosto.

-Claro que faria, Santinha. 'Ocê é como uma irmã mais nova pra mim - Abraço ela novamente.

   Ela retribui o gesto e se joga nos meus braços.

-Eu te amo Minas! - Ela diz abraçada no meu pescoço.

-Eu também te amo, Santinha - Afago seus cabelos.

O amor está no arOnde histórias criam vida. Descubra agora