Cap. 19: Meu raio de sol

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_Amapá_

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   Desde que eu tinha 10 anos de idade. Desde que eu tinha 10 anos eu conheço Tocantins, ou melhor, Thiago.

   Eu estudava em uma escola pública em uma cidade pequena do Tocantins, meus pais haviam se mudado para lá. Quando eu cheguei, não fui muito bem recebido pelas pessoas, mas ele, ele conversou comigo desde o início.

   Em poucos dias, eu e Tato nos tornamos melhores amigos. Ele era uma pessoa animada e divertida, ele era literalmente um raio de sol. Já eu, era a lua, eu era antissocial, briguento, éramos o equilíbrio um do outro.

   Conforme fomos crescendo, nossa amizade continuou firme.

   Com 16 anos, Tato se assumiu gay, para mim foi tranquilo, era meu melhor amigo, eu sempre tive minhas suspeitas. Mas com os pais dele não foi bem assim.

   Conhecem o Goiás? Bom, eles são meio-irmãos, filhos do mesmo pai. O pai de Goiás conheceu a mãe dele, se casaram, e tiveram ele, anos depois eles se separaram e ele conheceu a mãe de Tocantins, e assim tiveram ele.

   Quando Tocantins se assumiu para os pais, foi um completo choque para eles, o pai dele o desprezou com todas as forças, ele bateu muito com ele.

   Meu mundo desmoronou quando em plena meia-noite o garoto apareceu lá em casa completamente roxo e sangrando, molhado por lágrimas.

   Aquilo foi um caos pra ele. Aquilo foi um caos pra mim.

   Passei a noite acordado abraçado com ele tentando acalmar o garoto que desabava em lágrimas nos meus braços.

   Ele chorava, e eu tinha vontade de chorar por ver ele assim.

   Ele voltou pra casa, e novamente não foi bem recebido. E isso seguiu, por mais um longo tempo.

   Foram incontáveis as vezes que eu abria a porta da minha casa e encontrava Tato lá aos prantos.

  Tanto eu como ele estávamos cansados daquilo.

   Meu pai e minha mãe sempre foram acolhedores, eles tratavam Thiago como um filho, e nunca se importaram com a sexualidade dele.

   Por mais que eu visse que ele gostava de ter apoio dos meus pais, eu sabia que na verdade ele queria que os pais dele o tratassem daquele jeito.

   Certo dia, quando já tinhamos 18 anos, foi a gota d'água pra ele. O pai dele espancou muito ele quando ele apareceu em casa tarde da noite usando uma maquiagem no rosto. Depois daquilo, ele juntou suas coisas e fugiu, me lembro perfeitamente do dia em que abri a porta da minha casa as três da manhã e vi Tato lá, com o rosto roxo e inchado, e um corte enorme no braço, ele disse que caiu encima de um vaso de vidro quando o pai o jogou contra uma mesinha.

   Ele já era maior de idade, então as autoridades não deram caso, mas sabíamos que ficar lá era arriscado, então me despedi dos meus pais e fui com Tato morar no Amapá, longe dos pais dele, longe de memórias ruins.

   Moramos três anos lá, até que conhecemos Luciano, ele viu algo em nós, e então nos perguntou se gostaríamos de trabalhar para ele, e como Thiago estava desempregado, aceitamos.

O amor está no arOnde histórias criam vida. Descubra agora