016 °• Desculpa esfarrapada •°

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Tom

O clima está estranho. Muito, muito estranho.

Estamos todos na cozinha, tomando café. Mexo a colher na xícara, tentando não parecer nervoso com a situação. Sei que Ivy disse para fingir que não fizemos nada a noite, no meu quarto, mas, porra, como fingir que aquilo não aconteceu? Como fingir que não vi uma versão da Ivy que eu não tinha conhecimento da existência? Uma versão totalmente safada? Tentei tocar no assunto, mas com os garotos por perto, é impossível.

Não sei como Bill reagiria se soubesse que transei com uma fã. Mais uma. Porém, uma hora ou outra, vou ter que contar. Não guardamos segredos, por mais que ele me odeie por feitos que já confessei a ele. Beberico meu café, percebendo que nem açúcar eu coloquei. Me levanto, saindo da mesa e indo até o balcão onde Ivy está. Dou a volta e evito o máximo que posso para não olhar em sua direção. Pego o açúcar na prateleira e coloco duas colheres. Guardo de volta e, quando me viro, noto o trio de garotos nos encarando.

Arrisco olhar para Ivy que retribui com um olhar um pouco assustando. Ficamos paralisados, sem saber como reagir diante dos três pares de olhos que nos analisam.

- Então... - Gustav começa, semicerrando os olhos - Tem alguma coisa rolando entre vocês?

Engulo em seco. Algo rolando entre nós? Não, apenas quando estávamos rolando na cama enquanto nos beijavamos. Noto como a Neeson se remexe no banquinho, desconfortável.

- Não - ela responde, com a voz falhando.

Só essa resposta não é suficiente para os garotos. Eles continuam com um olhar avaliador. Tento manter minha postura inexpressiva, contudo todo o meu corpo treme.

- Mas, então, nos expliquem o motivo de vocês não estarem, aparentemente, se dando bem - Bill arqueia as sobrancelhas, com os braços cruzados.

Não estamos nos dando bem? Algumas horas atrás estávamos, literalmente, nos dando bem.

- Mas estamos nos dando bem, não é, Tom? - Ivy solta uma risada nervosa e se vira para mim. Encaro aquele rosto que estava totalmente diferente não muito tempo atrás. Aquela boca macia em meus lábios e em outra parte do meu corpo...

- Sim. Nos demos... digo, estamos nos dando muito bem - assinto, tomando todo meu café e me virando para pia, para esconder meu rosto escarlate - Não sei o que vocês estão insinuando, mas deve ser algo que não faça sentido.

- É que, de madrugada, acordei com um barulho estranho vindo do seu quarto, Tom - Georg diz, a voz calma indo contra o que estou sentindo - Dormi logo após. Entretanto, parece que não foi só eu quem acordou com esse barulho.

Arregalo os olhos e aperto a pia com força. Não tem como eu me safar dessa...

- Quando eu acordei com o mesmo barulho, - Bill continua. Me viro, tentando parecer confuso. Vejo como Ivy está fazendo um belo papel em esconder suas emoções - vim até a cozinha para tomar um copo d'água e vi com meus próprios olhos, que Ivy não estava no sofá.

Se alguma janela estivesse aberta, eu saltaria dela agora mesmo.

- Achei muito estranho, mas como eu ainda estava com os efeitos do sono, não consegui assimilar nada com nada - meu irmão se levanta, os olhos fixos em mim - E então, tem alguma coisa para me dizer?

Sinto todo o meu ser perder a cor. Eu sei que devo contar, mas na frente de Ivy? Não quero deixá-la desconfortável nas últimas horas que ela tem conosco. Tento pensar em alguma desculpa, mas minha mente divaga e não vejo outro opção senão falar.

- Sim - Engulo em seco, sentindo até meus órgãos tremerem de nervosismo - Eu e Ivy...

- Eu estava com dor de barriga! - esbraveja a Neeson, ficando de pé e batendo as mãos no balcão. Me sobressalto e demoro um pouco para raciocinar o que ela está falando - Eu não sei o que eu comi de noite que me fez tão mal. Acordei com uma dor terrível no meu estômago e fui no banheiro público pensando em aliviar o meu desconforto. Mas, quando cheguei lá, não tinha a porra do papel higiênico. Eu podia ter procurado nos balcões da cozinha, mas a dor era tanta que resolvi ir em um dos quartos. Estava escuro então não sabia que era Tom quem abriria a porta, senão nem teria ido até lá. Contudo, assim que o vi, não me importei e fui direto para o banheiro. A dor foi tanta, que não consegui conter meus gritos. Fiquei horas lá, com Tom perguntando se estava tudo bem. É claro que não estava! Quando tudo acabou, senti um alívio enorme. Foi isso. E não me julgem se não passaram pela mesma coisa! Porque, pelo que estou vendo, parece que não estão considerando o sofrimento que passei.

Tento não rir. Tento não fazer nenhum tipo de expressão que entregue meu real papel nessa história. Não posso acreditar na história que Ivy contou para nós tirar dessa. Olho para os garotos que a encaram boquiabertos, em choque. Pelo que estou vendo, eles parecem acreditar...

- Ah... Desculpe, Ivy - Bill é o primeiroa sair do transe, limpando a garganta - Juro que se eu soubesse o que aconteceu de verdade não teria acusado vocês de... Bom, de qualquer modo, espero que esteja melhor. Se precisar de mais... hã... papel higiênico, está na segunda gaveta desse balcão.

Uso todas as minhas forças para não soltar uma gargalhada das boas.

- Também peço desculpas - Gustav parece arrependido - Eu te entendo, de certo modo. Uma vez comi um ovo podre que me deixou com diarreia por dias. Foi horrível. Aliás, tenho um remédio para isso, se quiser.

Ivy sorri e assente. Se eu fosse um jurado, daria cinco estrelas para a atuação dela. Estou impressionado. Após Georg também se desculpar, vamos todos nos trocar. As roupas de Ivy não estão mais no meu quarto, já que ela tirou todas para evitar encontros entre nós. Quando termino de me vestir, Bill entra no meu quarto.

- E aí, como foi? - ele pergunta, se jogando na minha cama.

- Como foi o quê? - o questiono, sem saber do que se trata.

- Transar com Ivy.

Me afogo com minha própria saliva.

𝐀 𝐅Ã𝐗𝐈𝐍𝐄𝐈𝐑𝐀 | ᴛᴏᴍ ᴋᴀᴜʟɪᴛᴢ.Onde histórias criam vida. Descubra agora