Ivy
Acontece que meu plano é mais difícil de se realizar do que pensei. Não há informações sobre a hospedagem dos garotos na Internet, por ser algo restrito. Faço uma pesquisa dos hotéis mais famosos e luxuosos de Barcelona, porém me surpreendo ao ver que os resultados são maiores do que eu gostaria.
Anoto todos em uma folha e efetuo o plano B. A única coisa que poderei fazer é inspecioná-los de perto. Meus pés doem ao chegar no centro de Barcelona, onde os prédios enormes estão. Respiro fundo e os observo.
Conforme passo de um para outro, noto a diferença de movimento. Alguns são mais calmos, com pessoas saindo e voltando com menor frequência. Mas há aqueles mais tumultuosos. Tento me colocar no lugar dos meninos.
Qual hotel eu escolheria?
Se eu fosse famosa, gostaria de evitar lugares com uma multidão de pessoas. Escolheria um lugar mais calmo e que pudesse andar sem me pedirem autógrafo a cada passo. Risco na lista os mais frequentados. Agora as possibilidades diminuíram.
Ando de hotel em hotel com meus pés ardendo. Não tenho dinheiro suficiente para pedir um táxi, apenas algumas moedas que estão guardadas embaixo da cama onde durmo. Sento em um banco e tiro meus tênis por um segundo, deixando meus pés respirarem. A sola começou a se desgastar e o cheiro do calçado não está muito agradável. A mochila que carrego também se torna um empecilho.
Me recomponho e continuo. Agora tenho que observar com mais atenção. Antes, bastava uma olhada por fora dos prédios, entretanto, nesse momento, precisarei olhar no interior deles. Ainda bem que tenho um plano. Vou ao banheiro de um restaurante e troco de roupa, a que estava na mochila. Ignoro os olhares dos clientes ao passar, me julgando. Na rua, é a mesma coisa. Ignoro todos.
Vou até o primeiro hotel que sobrou de minha lista. Entro e vou direto para a recepção. O homem que lá está me olha estranho, mas apenas isso. Pergunto se sabe onde fica a arena de show. Ele responde e saio, agradecendo-o. Mais um hotel eliminado. Nos três prédios seguintes, a mesma coisa acontece. Me olham estranho, mas não como se eu representasse uma ameaça.
Contudo, assim que entro no quinto hotel, a recepcionista arregala os olhos ao me ver. Ela pega o telefone e liga pra os seguranças. Finjo não entender o que está acontecendo. Imploro para que ela me deixe ficar. Tudo só para ter certeza que achei o que queria. É este. Este é o hotel.
Circulo o nome dele e me apresso até o meu. Já está anoitecendo quando chego. Pego um prato e encho de comida quando dizem estar pronto. Assim que termino, subo até meu quarto e vou direto para o banho. Tiro as roupas que me ajudaram no sucesso de meu plano. Uma blusa do Tokio Hotel, um boné com o símbolo da banda e uma saia com vários pequenos Tom's estampados, além de uma toalha com a capa do álbum Scream que usei como manto.
De longe, posso escutar um som tocando. São eles... Tokio Hotel. Me jogo na cama ainda escutando o ressoar das músicas dos garotos. Durmo com o coração pesado, me sentindo triste por não estar lá. Mas assim que acordo, estou de bom humor.
Não respondo as mensagens da minha mãe desde ontem. Então mando uma dizendo que o show foi maravilhoso. Não estou mentido, aposto que realmente foi. Não menciono a parte de ser assaltada, mas isso ela não precisa saber. Coloco uma regata branca e uma calça jeans preta. Simples, mas necessário para a próxima faze do meu plano.
Vou até o hotel em que Tokio Hotel está. Me apresso a ir até a recepcionista novamente. Ela parece não me reconhecer, o que é um alívio. Finjo estar cansada. A sombra preta que passei ao redor dos olhos ajudou.
- Bom dia, senhora - digo, arrastando a voz - Vocês ainda têm vaga para faxineira? Ouvi um pessoal da outra rua falando sobre isso.
A mulher me encara com uma expressão que parece nojo e pena. Talvez eu tenha exagerado no meu visual. Ao baixar o olhar, noto uma aliança em seu anelar esquerdo. Casada.
- Sinto lhe informar que estão enganados, sonhara - ela responde, voltando o olhar para seu computador - As vagas estão todas lotadas.
E nessa hora que me jogo no chão. Começo a chorar, com lágrimas que são fáceis de sair pensando no que aconteceu nos últimos dias. A recepcionista se assusta e dá a volta pelo balcão, olhando para os lados para checar se não há ninguém olhando e se agacha ao meu lado. Com certeza estou fazendo um belo de um escândalo.
- Senhora! - choramingo, agarrando as mãos dela - Eu... eu recentemente perdi o meu marido em um acidente de carro... Além disso, descobri que estou grávida. E para piorar, estou sem nenhum tostão, pois meu marido tinha muitas dívidas para pagar. Todas elas passaram para mim. Esse seria meu terceiro emprego... eu imploro! Tenha piedade de mim!
A recepcionista arregala os olhos. Tenho certeza que minha história de mentira causou impacto. Ela abre a boca, não sabendo o que dizer de imediato. Algumas pessoas nos encaram, esperando o fim daquela situação. Continuo o choro, aumentando os gritos de lamento. Preciso desse emprego.
- A-ah, por favor, não precisa chorar - diz ela, dando tapinhas em meu ombro - Venha, levante-se. Vou te levar para um lugar mais isolado...
- Por favor - continuo com minha atuação - Eu sou uma ótima faxineira, eu juro. Você não vai se arrepender de me contratar... Eu imploro.
Choro ainda mais. Me surpreendo por ser tão fácil. A mulher nota os olhares em nós. Seguro suas mãos com força. Sei que o que ela mais deseja é me expulsar desse lugar, mas com outras testemunhas de meu relato e esperando uma resposta dela, vai ter que aceitar.
- Tá legal - ela fala, em um tom mais alto que o necessário - Você está contratada. Se recomponha e me siga.
Faço o que ela manda e vou até uma sala com vários armários. Entrego meu currículo falso e uma identidade que também falsifiquei. Quando percebo, estou subindo o elevador do hotel para limpar um quarto em específico... o do Tokio Hotel.
...
Próximo capítulo promete.
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𝐀 𝐅Ã𝐗𝐈𝐍𝐄𝐈𝐑𝐀 | ᴛᴏᴍ ᴋᴀᴜʟɪᴛᴢ.
RomanceIvy Neeson era totalmente, completamente, plenamente, inteiramente, perfeitamente e definitivamente obcecada por Tokio Hotel, a banda alemã mais famosa do momento. Vivia escutando músicas da banda e o seu quarto era cheio de pôsteres que não cabiam...