Mantenho meus olhos fixos no prédio onde Hanma e Shion tinham visto aqueles três homens mascarados, e onde eu tinha visto aquele homem de terno roxo que consumia a minha mente.
13:30 / 15:30 / 17:30 / 19:30.
•Intervalo de duas horasPercebo que aqueles homens que fazem vigia no porto da Bonten fazem intervalos de duas em duas horas. E as 19:30, eles ficam ali para passar a noite, aliás já seu 22:47, e eles não foram embora. Vejo uma luz se acender ali e observo vendo que é uma fogueira.
— Eles passam a noite de vigia. — falo e coço o queixo. Faço mais algumas anotações e em seguida pego o meu rifle de precisão que tem um zoom de ótimo alcance e com visão térmica e noturna, aponto ele para o prédio e observo os homens sob a visão noturna.
Eles ficam mascarados o tempo todo. Eles realmente levam a sério a questão das identidades. O homem de terno roxo está sentado na beirada do parapeito do prédio, olhando para algum lugar enquanto limpa a sua katana com um pano.
Franzo a testa na mesa hora. Katana?
Observo mais de perto aquele homem e vejo que ele limpa a sua arma branca com muito cuidado e carinho, e assim que termina guarda a katana em uma capinha protetora de couro com detalhes em vermelho.
Preta, com desenhos de rosas e uma fita vermelha... não pode ser.
Sinto meu coração disparar e aumento o zoom ao máximo, e sim era essas descrições...
— Isso não pode ser uma coincidência. — falo e passo a mão da testa.
A 8 anos atrás, quando eu tinha 22 anos, eu tinha presenteado Sanzu, meu ex vice-capitão da quinta divisão da Toman com uma capa de couro protetora para a sua katana que ele tanto amava cuidar. Preta, com desenhos de rosas vermelhas e com uma fita que balançava sob o vento, dando um efeito místico.
Aquela capa eu tinha comprado sob medida para ele, por um senhor já de idade que fazia essas capas personalizadas. Portanto era impossível aquele homem ter aquela capa protetora exatamente igual.— Não me diga que é você. — falo apreensivo.
Eram tantas evidências que eu tinha que isso fez minha cabeça explodir. O mesmo jeito de andar, a mesma forma de falar e movimentar as mãos... e agora ele possui a mesma capa.
Seria ele o meu Haruchiyo do passado?
Observo a cidade de Tokyo sob as luzes noturnas da cidade enquanto sinto a brisa gélida contra o meu rosto, que mesmo por baixo da máscara é possível de eu sentir o vento frio.
A sensação sufocante que me envolve toda vez que eu coloco uma máscara no rosto me causa não apenas um desconforto físico, mas sim algo mais profundo: reviver um passado que eu preferiria esquecer.
Usar máscaras me lembram da época que eu usava uma máscara preta para esconder algo que eu odiava e odeio profundamente até os dias de hoje: as cicatrizes nos cantos da minha boca.
Era como se o pedaço de pano ou plástico das quais as máscaras são feitas, fossem uma extensão de uma "máscara" emocional, que cobrem essas cicatrizes que são a minha própria imperfeição, algo que eu não queria que ninguém visse.
Portanto até hoje, quando eu coloco uma máscara, é como se eu estivesse voltando àquele momento de vulnerabilidade, de sentir que eu não era bom o suficiente, que precisava esconder quem eu realmente era.
Ê uma lembrança dolorosa de como é ser julgado pela aparência e sentir-se inadequado.
Portanto, não é apenas uma questão de desconforto físico para mim, é uma luta interna contra o passado que a máscara toda vez que eu coloco uma.
Talvez um dia eu consiga superar essa associação de usar uma máscara sem hesitação, mas até lá, cada vez que coloco uma, é um lembrete de uma batalha que ainda estou travando dentro de mim mesmo.
Respiro fundo e abaixo o olhar, em seguida escuto Rindou me chamar:
— San, que tal contarmos histórias de terror para nós nos manter acordados?
Assinto positivamente e me aproximo da fogueira, me sentando em um colchão de ar.
— Vamos fazer algo interativo. — diz Rindou e come alguns marshmellows. — Vamos criar uma história juntos, eu inicio uma parte, passo para o Ran e depois Ran passa a vez para o Sanzu. Pode ser? — ele fala e eu e Ran assentimos positivamente. — Na escuridão da noite, numa floresta esquecida pelo tempo, há um segredo que há muito tempo aguarda para ser revelado...
— Nesta floresta, dizem que há uma antiga mansão abandonada, escondida entre as árvores retorcidas e coberta de musgo. Dizem que a mansão foi palco de eventos sombrios e que aqueles que ousaram entrar nunca mais voltaram... — complementa Ran.
— Na noite mais escura do ano, um grupo de estudantes decidiram desvendar o mistério por trás da mansão amaldiçoada. Eles entraram no local usando apenas lanternas. Porém acabaram descobrindo que não estavam sozinhos... — falo com uma voz de suspense.
— Os corredores ecoavam com sussurros sinistros e sombras dançantes, enquanto os estudantes avançavam, em direção ao ponto importante da mansão. Mas o que eles encontraram lá era além de qualquer pesadelo que já tivessem imaginado...
— Havia figuras fantasmagóricas dançando ao redor de uma lareira queimando sem madeira, com olhos vazios fixos naqueles estudantes que tinham ousado perturbar seu sono eterno. Eles se ergueram lentamente, cada movimento acompanhado por um som sinistro, prontos para punir aqueles que haviam profanado seu santuário. — diz Ran.
— E assim, os estudantes de medicina enfrentaram o horror do desconhecido, lutando pela própria sobrevivência enquanto tentavam escapar daquela mansão amaldiçoada. Alguns conseguiram fugir, mas outros... nunca mais foram vistos novamente, perdidos para sempre na escuridão eterna daquela terrível mansão. — finalizo e abro um sorriso. Ran e Rindou aplaudem animados.
— Bom, agora vamos fechar os olhos e rezar para que a escuridão não venha reclamar nossas almas esta noite. — diz Rindou rindo.
— Acho que depois dessa história, vou ficar acordado a noite toda. — falo.
— Tá com medo?
— Não é medo. E sim porque eu vou ficar acordado pensando nas teorias com essa história. — respondo e olho para eles. — Vamos fazer turnos, vocês podem ir dormindo por enquanto, eu cubro o primeiro horário da noite e depois vamos revezando.
— Certeza?
— Absoluta.
Ran e Rindou se deitam em seus colchões de ar e eu fico ali. Acordado, sentado no parapeito daquele prédio e pensando nas teorias daquela história fictícia e nas minhas paranóias, que são minha companhia.
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Fogo Cruzado (+16)
أدب الهواة[𝗢𝗯𝗿𝗮 𝗙𝗶𝗻𝗮𝗹𝗶𝘇𝗮𝗱𝗮] Em um mundo onde as máfias dominam os territórios, Muto e Sanzu se encontram em lados opostos, como inimigos implacáveis. No entanto, quando a máfia Akuma ataca os territórios da Bonten e invade sua fortaleza, Muto de...