Capítulo 14

296 17 21
                                    

À medida que os dias se arrastavam, o clima no escritório tornou-se sombrio, quase como se uma tempestade permanente pairasse sobre os corredores habitualmente iluminados. Rodolfo, cujo humor flutuante era conhecido por todos, havia subitamente se fechado, seus traços habitualmente expressivos endurecidos em uma máscara de irritação e distância.

Desde aquele almoço com Bernardo, ele passou a evitar o contato visual com Ana Elisa, como se sua mera presença lhe causasse desconforto. As respostas que ele dava, quando forçado a interagir, eram cortantes e frias, deixando um rastro de mal-estar entre os colegas. Ana Elisa, por sua vez, sentia-se perdida, confusa com essa mudança abrupta. Ela tentava buscar alguma explicação com Mina, mas até sua amiga parecia evitá-la, não respondendo suas mensagens nem atendendo suas chamadas.

Os dias passavam lentos e pesados. O escritório, antes um espaço de dinamismo e colaboração, parecia agora enclausurado em um silêncio desconfortável. Ana Elisa observava Rodolfo pelos corredores, notando como sua postura rígida refletia um estado interno tumultuado. Ela queria aproximar-se, perguntar, entender o que havia acontecido, mas a barreira invisível que ele erguera era clara e intransponível. 

No sábado, Ana Elisa havia se entregado à solidão e à tristeza, um sentimento de rejeição a envolvia como um véu denso e frio. Já era tarde quando Peter irrompeu em sua casa, seus grandes olhos expressivos penetrando a penumbra que ela cultivava ao redor de si mesma. Com energia infatigável, ele não só acendeu as luzes mas também a arrastou para o chuveiro, determinado a dissipar sua melancolia.

— Vamos sair, e rápido, antes que seu pai venha atirar em mim — ele brincou, tentando arrancar dela um sorriso.

— Ah, meu Deus, eu não quero — resmungou Ana Elisa, jogando-se na cama ainda envolta na toalha.

— Vamos sim — insistiu Peter, vasculhando o armário em busca de algo para ela vestir. — Se veste, e a gente vai sair. Estou cansado da sua auto piedade.

— Peter, eu não quero dormir com você — ela disse, numa tentativa de estabelecer limites.

— Obrigado por me informar, mas só quero sair de casa também, minha mente está confusa.

— Por causa da festa?

— Quieta, vamos — ele cortou, atirando sobre ela um conjunto de roupas. — Eu tenho um lugar especial pra ir.

Ana Elisa, relutante, acabou cedendo. Vestiu-se e seguiu com Peter, que parecia estranhamente perturbado, provavelmente por complicações amorosas que surgiam sempre que se envolvia mais seriamente com alguém.

— Por que aqui? — protestou Ana Elisa ao reconhecer o local onde haviam chegado.

— Vamos, mantenha sua postura, seja sensual e apaixonada.

— Não força — ela sussurrou, sentindo-se desconfortável com a encenação.

Ao entrar no restaurante de braços dados com Peter, Ana Elisa tentava se concentrar em seguir o plano. No entanto, seu coração parou ao avistar Rodolfo no bar, sozinho, bebendo. O homem que a havia ignorado por dias a fio estava ali, ao alcance dos olhos, intensificando a dor de sua rejeição.

— Lili, foco — Peter estalou os dedos, tentando chamar sua atenção.

— É ele —  Lisa sussurrou com seus olhos voltados para o bar. 

— Hum, seu homem... — provocou ele, notando seu olhar perdido.

— Ele não é meu, na verdade, ele é o homem que fugiu de mim — Ana Elisa confessou, a voz carregada de uma tristeza nua.

— Ninguém foge da teia da viúva negra, amor — brincou Peter, tentando aliviar o clima.

— Peter, você não deveria ser gente boa comigo? — questionou ela, meio a sério, meio a brincar, agradecida pela presença dele, mesmo em meio ao caos emocional que sentia.

A filha do ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora