O Inferno de Alex Vause

Capítulo 10

Enquanto Piper estava na Lobby, houve momentos em que ficou convencida de que Alex se lembrou dela. Mas esses momentos eram fugazes e etéreos, e desapareceram como teias de aranha levadas pelo vento. Então, a jovem, que era uma pessoa inocente, começou a duvidar de si mesma.

Talvez seu primeiro encontro com a morena tinha sido um sonho. Talvez ela tivesse se apaixonado pela sua fotografia e imaginou os eventos que ocorreram após Rachel e Nicky fugir. Talvez tenha adormecido no pomar sozinha e a triste ilusão surgiu do desespero e da solidão de uma menina oriunda de um lar desfeito que nunca se sentiu amada antes. Era possível.

Quando todo mundo acredita numa coisa e você é o único que acredita noutra, é muito tentador imaginar coisas. Tudo que Piper teria que fazer seria esquecer, negar, suprimir. Então, ela seria como qualquer outra pessoa.

Mas Chapman era mais forte do que isso. Não, ela não estava preparada para ligar para Alex e falar abertamente sobre sua vida, pois isso seria dar atenção a coisas que a deixavam parcialmente envergonhada. E não, ela estava relutante em forçá-la a lhe reconhecer ou a noite que compartilharam, porque Piper tinha um coração puro e não gostava de obrigar ninguém a fazer nada.

Quando viu a confusão no rosto de Alex, enquanto estavam dançando, e percebeu que sua mente impedia-a de se lembrar, recuou. Estava preocupada com o que uma súbita e forte percepção poderia fazer com a morena e com medo de que sua mente pudesse quebrar, como a mesa de vidro de Diane. Optou por não fazer nada.

Piper era uma boa pessoa. E às vezes a bondade não diz tudo o que sabe. Às vezes a bondade espera o momento oportuno e faz o melhor que pode.

A professora Vause não era a pessoa por quem tinha se apaixonado no pomar. Na verdade, Piper concluiu que havia algo seriamente errado com a morena. Ela não era apenas obscura ou deprimida, era perturbada. E temia que ela tivesse tendências alcoólicas, familiarizada como estava com o alcoolismo, por causa de sua mãe. Mas porque era boa, não iria destroçá-la do jeito que ela havia sido destroçada, forçando-a a ver algo que não queria.

Piper teria feito qualquer coisa por Alex, a mulher com quem ela passou a noite em uma floresta, se ela tivesse dado um único indício de que a queria. Ela teria descido ao inferno e procurado por ela, procuraria até que a encontrasse. Teria arrebentado os portões e a arrastaria de volta. Ela teria sido o Sam para o seu Frodo e a seguiria até as entranhas da Montanha da Perdição.

Mas ela não era a sua Alex. Sua Alex estava morta. Tinha ido embora. Deixou para trás somente vestígios no corpo de um clone atormentado. Alex quase quebrou o coração de Piper uma vez e ela estava determinada a não deixá-la quebrar uma segunda vez.

Antes de Rachel deixar Toronto e voltar para Nicky e a distopia que era sua família, insistiu em ver o apartamento da amiga. Piper tinha tentado durante dias fazê-la desistir, e a própria Alex havia desencorajado sua irmã de sequer aparecer sem aviso prévio. A morena sabia que logo que visse onde sua amiga estava vivendo ela pessoalmente embalaria Piper e a obrigaria a se mudar para um lugar mais agradável, de preferência o quarto de hóspedes de Alex.

Então, no domingo à tarde, Rachel chegou à porta da amiga para tomar chá e dizer adeus antes de sua irmã levá-la ao aeroporto.

Piper estava nervosa. Ela não tinha pensado que o seu apartamento fosse realmente assim tão mau quando assinou o contrato de aluguel. Era seguro, estava limpo e podia pagar. Mas acreditar nisso e mostrar seu apartamento para Rachel eram duas coisas diferentes.

— Preciso avisá-la que ele é pequeno. Mas lembre-se, estou vivendo da renda de uma estudante de pós-graduação e ela é fixa. Não posso conseguir um emprego aqui porque não tenho uma autorização de trabalho. E não posso me dar ao luxo de viver em um edifício como o de Alex, nem mesmo em um que seja a metade do dela. — A loira explicou quando conduziu sua amiga para dentro no apartamento.