Verônica não sabia ao certo como havia ido parar ali, ou mesmo em que momento aceitar a proposta, a princípio inofensiva, de Anita se tornara viável. Estava sensível desde o sonho que tivera naquele dia mais cedo, repetindo imagens que não deveriam estar em sua cabeça a medida que se esforçava mais do que devia para lembrar de momentos em que Paulo lhe fizera sentir algo similar. Seu ódio e desespero nítido se davam exatamente ao se lembrar do marido, visto que ele nunca havia feito ela sentir nada remotamente similar ao que um sonho fora capaz de fazer. Torres estava navegando em um mar de dúvidas extremamente tortuoso.
Em meio as investigações noturnas de Berlinger, como lhe era costumeiro, seu refúgio particular se dava em salas de interrogatórios logo após desligar as câmeras das mesmas, visando sua privacidade longe de olhos curiosos. Ali não haviam distrações, nem mesmo as mínimas que poderiam ser desde olhar por tempo demais para a janela ou uma aba aberta na tela do computador. Silêncio total. Era uma sala quase vazia, com cores nada chamativa e monótonas, o lugar perfeito para se concentrar, ainda que contra sua vontade. Sem avisos prévios, Verônica fora arrastada para um lugar privativo que fazia parte de seu convívio, mas nunca a sós com a loira.
A sala se fazia gélida como de costume, o frio em mescla com o silêncio pode ser um entorpecente forte para os fracos de mente, e naquele momento, ainda que quisesse negar, Torres se via como um criminoso acuado prestes a ter todos os seus segredos revelados. Sua mente rodava entre Paulo e a Anita que aparecera em seu sonho, o que a fazia umedecer os lábios repetidas vezes, engolindo seco enquanto fingia se concentrar em papéis que nem mesmo sabia dizer do que se tratavam. Em determinados momentos, os olhos castanhos subiam e viajavam até a figura que estava do outro lado da mesa. Anita Berlinger era uma filha da puta incrívelmente bonita.
Sem que fosse notada, a escrivã agora podia observar todos os detalhes mais de perto, se demorando na ação que podia gerar faíscas perigosas. As mãos de Anita eram bem desenhadas, dedos em tamanho médio com unhas pintadas em uma cor clara, Verônica sempre achara que tons mais escuros combinavam com ela, não que estivesse reparando sempre. A morena suspirara de maneira um tanto mais audível, sendo obrigada a manter os lábios separados para aspirar uma maior quantidade de ar. Os olhos queimavam na pele extremamente branca, subindo das mãos para o antebraço, desenhando cada parte até ir um tanto mais para cima, vendo o músculo ressaltado na blusa preta. Torres se recostara na cadeira, mordendo discretamente seu lábio.
Os olhos claros que antes fitavam os papéis a sua frente tão concentrados agora seguiam a direção do rosto que se virava, a mulher olhava para seu próprio braço, subindo com calma até voltar seus olhos para Verônica, a pegando no momento exato. Berlinger sorrira, totalmente vitoriosa.
────Se você não fosse... Muito bem casada como diz, eu diria que está me olhando por tempo demais, escrivã. ────Um sorriso totalmente cafageste se instalava em seus lábios, acompanhado de um olhar irresistível que poderia muito bem ser capaz de matar.
────Eu não estava... Olhando para você, só me perdi nos detalhes do caso. ────Enquanto falava, o perfume caro que a delegada usava lhe enchia as narinas, a quase fazendo fechar os olhos, mas seu autocontrole decidira aparecer no momento certo. ────Você está tão acostumada a ter todos olhando para você... Que acha que todo mundo faz isso! ────Com os lábios encostados um no outro, Berlinger os curvara em um sorriso, fazendo o movimento rápido de arrastar a cadeira para trás, se levantando.
Era possível ouvir seus passos firmes se aproximando até parar ao lado da cadeira que Verônica ocupava. O corpo antes lateralizado se virava para ficar de frente, arqueando a sobrancelha enquanto olhava para a outra mulher. Sem entender muito bem do que aquilo se tratava, Torres virara sua cadeira em direção a ela, engolindo seco ao se arrepender amargamente por ter agido.
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Under a secret | veronita fanfic
FanfictionQuantos segredos São Paulo era capaz de guardar sob suas luzes coloridas e prédios bem apessoados? O casamento de Verônica e Paulo sempre fora sinônimo de harmônia para quem quer que tivesse o prazer de cruzar o caminho dos dois, uma paixão avassal...