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Os dedos tamborilavam sobre a mesa de maneira minimamente audível, sendo um barulho facilmente coberto por toda a movimentação no departamento. Estava presa em pensamentos, uma vez mais presa de forma a mergulhar em sua própria mente, afinal, era o que a mantinha perto de quem ela queria estar perto.

Era fascinante como sua mente passara a funcionar de maneira abrupta em questão de dias, horas talvez. Sempre pacata, vivendo uma vida de conveniências pacíficas que não mudavam sua rotina. Era cômodo. Tudo tão fixado, tão totalmente organizado que até mesmo os minutos podiam ser previsto em seu decorrer. Era bom viver de tal maneira. Mas não exatamente... Perfeito. Paulo lhe expressava amor morno, da mesma forma, no mesmo cadenciar brando de sempre. O mesmo vinho, a mesma noite de comida japonesa e o mesmo sexo. Por anos.

────Verônica? ────A voz de Lima ecoava de longe. ────Consegue me entregar aquele caso fechado ainda hoje? ────Os olhos castanhos piscavam, não voltando para realidade e sim para o automático.

────Sim... Claro! ────Ela balançara a cabeça em movimentos mínimos, nem mesmo colocando ímpeto na resposta ou em como estava se movimentando.

A visão baixava. O campo de visão levemente turvo. Uma vez mais Verônica Torres entrava em sua própria mente. Dessa vez, desejando com veemência apenas permanecer ali.

Se fosse realmente analisar sua relação com Anita, nem mesmo em mil anos diria que os caminhos amorosos de ambas se cruzariam. Era no mínimo, para começar a descrever, totalmente improvável. Retirando por completo as questões em relação a sua orientação sexual, Verônica a detestava, como profissional e como pessoa. Berlinger era uma daquelas megeras de filme que todos com o mínimo de inteligência e emocional fraco se mantinham afastados, para o próprio bem. Porém, se mergulhasse um tanto mais em suas memórias que iam até certo ponto, Anita poderia começar a ser descrita de outras maneiras.

A delegada era intensamente saborosa de se observar, ainda que em memórias. Há um quê de fervor de sabores quando se observa alguém que possuí camadas, algo que poderia ser muito bem vislumbrado em Berlinger. Ao mesclar o vislumbre dos olhos com as percepções de escuta, os momentos para Verônica se descortinaram. A ver gesticular, mexer os lábios quando estava dizendo absolutamente qualquer coisa ──interessante ou não── , ouvir sua voz e apenas viajar em seu corpo. Como não iria se perder se Anita Berlinger era de um doce instigante em todos os sentidos?

Difícil era não sempre aproveitar até demais de momentos como este em silêncio contemplativo, a escrivã sabia disso muito bem. Na boca ela havia sentido o gosto único da saliva da outra mulher, mas com os olhos desfrutara de sabores coloridos, cheios de nuances e totalmente viciantes, a ponto de guardar para si cada gesticular, cada mísero movimento. Com os ouvidos tivera a percepção do cadenciar da voz, por vezes rouca, por vezes enlouquente demais para tirar os olhos de seus lábios. Torres estava fadada a observa-la, ainda que de longe.

Os olhos piscavam, com calma, voltando de um transe no qual ela mesma se colocara. As sensações eram gostosas, o morno do corpo lhe relaxava sem exatamente dar o que tanto precisava. Queria toques tão proibidos que ficavam em sua contra parte interna, protegidos com tanta segurança que os olhos claros nem mesmo tinham ciência. Ela a queria, tanto que doía sentir o tesão correr por todas as partes de si. O pensar do deslizar lento de dedos e palmas das mãos por sua cintura era como veneno percorrendo suas veias, e se não fosse considerado falta de proteção a si mesma, Verônica pediria por mais.

O baque do copo com café sendo colocado a sua mesa lhe trouxera uma vez mais pra realidade, dessa vez de forma propriamente dita. Nelson a fitava de cima com o cenho levemente franzido, como quem examinava a fundo as expressões que Torres fazia.

Under a secret | veronita fanfic Onde histórias criam vida. Descubra agora