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A mão repousada com tamanha calma sobre o mouse do computador escondia segredos que se espalhavam como praga por sua alma. Verônica Torres ainda respirava profundamente após horas passadas do encontro súbito que havia lhe roubado uma parte significativa de sua sanidade. Os olhos castanhos fitavam a tela luminosa buscando encontrar em documentos digitados algo racional no qual poderia se apegar pelo menos até o início da noite.

Um sorriso mínimo, imperceptível quase cruzara seus lábios. Era incrível como sua corrente de pensamentos havia se tornado incontrolável com uma chave tão bem girada, que destravara sensações inimagináveis e indescritíveis. As pernas se juntavam, indo uma contra a outra com certa força ainda que Torres não percebesse. O lábio era mordido com força, os dedos afundavam contra superfície de plástico do objeto que segurava. Até mesmo só pensar em Anita era sinônimo de loucura incontrolável.

As horas corriam e seu tempo fora da redoma de sua casa se tornava cada vez maior, consequentemente alimentando uma sensação impar de liberdade. Com o toque Anita havia liberado e até mesmo descortinado um mundo novo ao corpo que estava acostumado com o costumeiro morno que ao qual sempre se prendera. De súbito, o castelo de cartas construído durante os anos se tornava frágil e quebradiço, ao passo que Verônica esperava que uma corrente de ar mais forte não o derrubasse por completo. Amava Paulo acima de tudo, mas talvez amasse mais a forma como se sentira com os toques bem posicionados que sua chefe havia executado tão bem.

Um impasse de difícil dissolução começava a se instalar enquanto a delegada se servia de café, como se nada estivesse ocorrendo.

A boa resolução de absolutamente qualquer assunto dentro e fora do local de trabalho para Anita Berlinger vinha fácil, quase chegava a parecer algo tão insignificante que nem mesmo sua atenção era colocada no resolver de assuntos que pareciam gigantes para Verônica. Porém, rodeada pelas paredes da sala bem apessoada, a mulher sentia seus lábios secarem ainda que um copo com água estivesse a disposição. Não preciso daquele líquido em específico. Ansiava por Verônica, por seu corpo, pela adrenalina de tê-la em suas mãos novamente mesclada a ideia do quão errado aquilo era.

Horas se passavam, a luz solar intensa de São Paulo começava a dar lugar a um céu escuro, cheio de nuvens tão densas quanto as memórias das duas mulheres separadas por paredes tão finas. Verônica demorara a ceder em vista de sua vontade em demasia naquela noite. Queria se virar, queria olha-la por cima do ombro, a queria chamar para si pelo modo como seus olhos se comportavam ao piscar lentamente tamanho o desejo. Mas não podia e nem iria fazer isso em um ambiente cheio, afinal, suas convicções de moral inabalável estavam em início de deturpação, e não em um estado avançado.

O coração avançava em batidas descontroladas, o que aconteceria se olhasse? Seria correspondida? Será que Anita a desejava na mesma proporção? Os dedos se fixavam na superfície lisa da mesa, buscando apoio para se virar mesmo que fosse apenas um pouco. Olhos se fechavam, o ar saia pela boca enquanto seus pés a ajudavam a afastar a cadeira para trás sob a meia luz do escritório. Assim que tomara a coragem necessária, seus olhos se abriram em um misto de desejo incontrolável e surpresa fria.

O sorriso que via próximo de si não era o que Verônica Torres procurava naquele instante.

────Meu amor! Eu prometo que é rápido, sei que está trabalhando e eu tenho que voltar para uma reunião o quanto antes. ────A voz de Paulo vinha como uma corrente de ar fria, cortando seu rosto em pequenas aberturas que doíam conforme suas palavras vinham ao mundo.

────Paulo... Amor... O que está fazendo aqui? ────Suas pernas tremiam pelo inesperado e pela sensação inegável de ter sido pega no ato de desejo. ────Achei que... Que...

Under a secret | veronita fanfic Onde histórias criam vida. Descubra agora