Estar em contato com seus desejos mais aflorados e desconhecidos estava passando a se tornar algo comum a Verônica Torres, porém, inegavelmente a mulher ainda estava se acostumando com o comportar de sua própria mente e corpo. Os dedos digitavam rápido, transcrevendo as palavras que pipocavam na tela do computador enquanto seu olhar concentrado não deixava transparecer o quão longe sua mente estava. Os flashs da pele de Anita sob a baixa luz voltavam a florescer em seu pensamento, a fazendo suspirar profunda e lentamente. Voltaria, com toda certeza, para aquele exato momento sem pensar duas vezes.
Em meio ao discorrer tranquilo do dia, a escrivã parecia mais e mais absorta do ambiente no qual estava inserida. Muitos viam em seu semblante um foco estranho que não lhe era muito comum, mas só Anita poderia ter um bom palpite do que a estava deixando daquela forma. No correr das horas, o líquido escuro e amargo inundava seu paladar algumas várias vezes, aumentando sim sua atenção, mas também lhe deixando consideravelmente elétrica.
Nervosismo era como veneno lento no corpo de Verônica, afetando as mais diversas partes de sua mente e consequentemente tendo reações visíveis em sua postura e comportamento. Estava decidida a finalizar o que possuía com Paulo, totalmente decida, ou talvez fosse isso que sua mente bagunçada gostava de pensar e afirmar. Como um consolar mal posicionado e mal dito. A situação não estava resolvida, e nem mesmo se apresentava como algo que pudesse ser sanado com rápidez. Mais um gole no café e suas costas repousaram contra a cadeira, se espreguiçando em meio a um pequeno gemido enquanto seus braços se esticavam.
────Terminou o que eu pedi? ────Os olhos castanhos iam do horário no canto da tela do computador até a figura de Anita Berlinger.
────Eu não sou uma máquina, delegada, por mais que você tenha essa leve impressão a meu respeito. ────Seu tom era ameno, cansado se fosse mais específica. ────Estou tentando digitar o mais rápido possível e...
────Não quero desculpas, escrivã, eu quero seu serviço adiantado! Tem uma pilha de documentos que precisam ser agilizados, se o seu trabalho não anda, o meu também não. ────A delega gesticulava minimamente, mantendo o tom de voz baixo e ríspido. ────Eu estou cansada de...
────Verônica Torres? ────A voz masculina ecoava de um homem de estatura mediana com uniforme. ────Tem alguma Verônica Torres por aqui? ────A morena se apoiara em sua mesa com ambas as mãos, se levantando para que sua figura pudesse ser notada.
────Sou eu, como posso te ajudar? ────Os lábios de Anita assumiam um sabor amargo ao ver que o homem carregava consigo um belíssimo buquê de rosas vermelhas e amarelas, caminhando em direção a Verônica. ────É... Isso... É para mim? ────As flores lhes foram entregues juntas a um cartão que ela não ousara abrir, apenas vendo a figura do homem se afastar até sumir no elevador.
────Se decide! ────O dedo indicador fora colocado sobre a mesa enquanto os olhos azuis iam das flores até o rosto de Verônica. ────Se decide, Verônica. ────A ponta do dedo batera por duas vezes na superfície gelada enquanto ela falava entredentes, saindo dali deixando apenas o rastro de seu perfume para trás.
Paulo era romântico quando lhe era conveniente, Torres bem sabia disso. A mulher sempre fora apaixonada por atos românticos desesperados e visíveis quando mais nova, e agora, tinha ali para si um pequeno momento de filme hollywoodiano. O corpo uma vez mais se sentara na cadeira, ao que ela olhava para as flores que exalavam um ótimo cheiro. Estava decidida, sabia que estava. Estava?
Na sala envidraçada, Anita Berlinger sentia seu corpo vibrar pela raiva que percorria todas as suas partes. Os braços estavam cruzados, a perna se balançava e o maxilar travava. Ciúme nem mesmo era uma palavra que poderia começar a descrever com propriedade o que ela estava sentindo. Emoções quase nunca eram bem vindas em sua vida, ela bem sabia disso, mas dentre as mais variadas emoções que um ser humano pode experiênciar, a que Anita mais detestava era a que estava sentindo naquele momento: medo.
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Under a secret | veronita fanfic
FanfictionQuantos segredos São Paulo era capaz de guardar sob suas luzes coloridas e prédios bem apessoados? O casamento de Verônica e Paulo sempre fora sinônimo de harmônia para quem quer que tivesse o prazer de cruzar o caminho dos dois, uma paixão avassal...