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O céu escuro mostrava do quão tarde se tratava, ainda que as horas no relógio houvessem sido esquecidas devido a quantidade de trabalho. Com o correr do dia e a falta de pessoas dentro do departamento, Anita começava a dar vida a sua própria rotina de investigação, dessa vez acompanhada, como nunca antes. Com a ida da última pessoa que ali trabalhava, a delegada finalmente retirara seus sapatos, emitindo um gemido baixo enquanto movimentava os dedos dos pés, fechando os olhos por alguns segundos.

Como uma espectadora que não queria ser assim tão notada, Verônica dava a ela sua atenção aos poucos, fitando como podia os pequenos detalhes que surgiam com o correr dos minutos.

Era estranho dividir uma sala com sua superiora em horários onde ninguém mais estava por perto, e talvez... Talvez fosse apenas pelos últimos dias atípicos que havia vivido. Não podia negar a tensão que se espalhava por seu corpo a cada oportunidade de estar totalmente sozinha com Berlinger, e diferente da tensão que sentia quando estava em sua casa, aquele sentimento lhe corrompia os sentidos primordiais, o que lhe fazia ter dificuldade para voltar ao seu centro com rápidez. Uma combinação perigosa, se fosse analisar.

Estava ali sentada no sofá a parte, revezando sua atenção entre papéis e o teclado do notebook em sua posse. Lá fora, todas as luzes se encontravam apagadas, restando apenas a luz da sala que dividiam quase em silêncio. Em meio ao processo de fechar os casos, Anita se levantara com seu notebook e algumas pastas na mão, indo até o meio da sala. A mulher ali se sentara, ficando o mais relaxada possível enquanto abria as pastas ao seu gosto, organizando da melhor forma. Longe dos olhares de seus subornidados Anita Berlinger possuía um jeito totalmente seu de resolver o que precisava ser resolvido.

────Serve uma dose de whisky para nós duas, preciso pensar melhor. ────A risada que a escrivã pensara conter acabara saindo ao mundo, capturando os olhos azuis totalmente para si. ────Qual é a graça, escrivã? ────Verônica entreabrira seus lábios, a fitando sem saber como responder, ou talvez fosse apenas o desviar total de sua atenção para os lábios comprimidos tão bem desenhados.

────Como... Whisky te faz pensar melhor? Álcool tira minha atenção. ────Os olhos de Anita a devoravam, ainda que aquela não fosse exatamente sua intenção. ────Eu vou... Pegar para você! ────O rosto se balançara em afirmação, voltando a olhar para os papeis abertos logo a sua frente.

────Não é ortodoxo... Mas depois de um dia cheio, o choque que vem com álcool me ajuda a voltar tudo para o lugar... Ter uma nova perspectiva! Não dá para olhar para feminicidios o dia todo e simplesmente ficar sã. ────Sua fala era baixa, séria demais. ────Tem coisas que o café não é capaz de amenizar, Verônica. ────Ao lado de uma pequena mesa, a morena terminava de tampar a garrafa que parecia cara, tomando em seguida a dose em mãos.

Temerosa ela caminhara para perto, deixando o copo na altura exata do campo de visão da delegada, que logo assumira a posse do copo quadrado. Berlinger aos poucos começara a subir seus olhos, reparando o quão bem aquela calça abraçava as pernas torneadas que a outra mulher possuía. A ação que parecera rápida durava lentos e tortuosos segundos para Verônica, sendo impossível não sentir seu corpo todo tremer. Uma sensação estranha lhe tomava a pele, desaguando em um esquentar súbito de seu ventre. Ela arfara sem perceber.

Os olhos azuis subiam por suas pernas como se as pudessem tocar, se demorando junto ao rosto a de fato subir, a olhando debaixo com os lábios separados, respirando de maneira quente e lenta. Momentos como aquele começavam a se tornar demais, para ambas. Anita acabara levando o copo aos lábios, sorvendo uma pequena quantidade do líquido com calma, fechando os olhos no tempo de engolir, degustando. Ao abri-los novamente, a primeira cena que encontrara fora o respirar pesado e visível de Verônica Torres, lhe fazendo sorrir minimamente.

────Tira... Os sapatos, e senta. ────O silêncio se instalara por alguns segundos, deixando que os pensamentos se acumulassem nas mentes das duas mulheres.

Sem muito pensar, Torres começara a se livrar de seus sapatos, os deixando de lado enquanto pegava os itens necessários para seu trabalho. Se sentara quase de frente para sua superiora, voltando sua atenção total para a tela luminosa, querendo muito que seus olhos ali grudassem, apenas para não olhar para a tentação a sua frente. Era difícil sentir o cheiro do perfume caro, ouvi-la engolir aquele líquido escuro se tornava um desafio a parte. Entre suspiros e uma atenção nada voltada a própria função, a escrivã sentia seu coração bater como se pudesse pular para fora de seu corpo a qualquer momento.

────Jeito peculiar de trabalhar. ────Fora tudo o que conseguira formular e verbalizar para corta o silêncio, afinal, ela podia jurar que era possível ouvir seu coração batendo descompassado.

────Não se sente mais relaxada? Eu mantenho postura até onde devo e nada além disso... Somos só eu e você aqui, Verônica. ────Sua atenção estava na tela de seu notebook, soltando aquela frase que fazia a morena errar seu respirar com a maior naturalidade do mundo. ────Me imaginou trabalhando de outro jeito? ────Com a ponta dos dedos ela colocara uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, franzindo minimamente os olhos para focar sua visão.

────Eu não... Te imagino. ────Torres engolira seco, digitando a finalização de um documento. ────Não seria ético da minha parte imaginar minha superiora em situação alguma. ────Os olhos viajavam, entre a tela e a mulher a sua frente, a vendo formular um sorriso amistoso.

────Você se entrega com tanta facilidade, espero que nunca seja interrogada... Tirar uma confissão sua seria incrívelmente fácil, como foi agora. ────A mão que antes levara a mecha para trás de sua orelha agora apertava sua nuca, a fazendo soltar uma respiração um tanto mais pesada.

────Hm... Você... Precisa de ajuda com isso? ────Seu corpo agia sem muito pensar, como se não houvesse tocado no assunto "ética" há segundos.

Antes que Anita pudesse responder com seus olhos fechados, a mulher se livrara do notebook em suas pernas, se movendo com certa dificuldade até que estivesse atrás do corpo da loira. Com calma, seus dedos um tanto trêmulos colocavam os fios para o lado, se posicionando bem na pele quente. Aos poucos, uma pressão gostosa era aplicada em pontos específicos, fazendo os dedos de Berlinger apenas pararem de digitar, diminuindo o fluxo de sua respiração com o relaxar do corpo. Verônica nem ao menos percebera como a proximidade se dera de súbito, apenas gostava de estar tão perto, a tocando de preferência, com qualquer desculpa.

────Meu... Deus. ────A respiração saira pesada a medida que seu pescoço tombava para o lado, mantendo os olhos fechados. ────Isso é bom, Verônica... Muito bom!

────Você está tensa demais... Whisky nenhum resolveria isso. ────Um sorriso mínimo cruzara os lábios avermelhados, a medida que ela puxava seu lábio inferior com os dentes, o mordiscando enquanto aplicava mais e mais pressão com a ponta dos dedos.

────Obrigada por isso. ────Enquanto os olhos castanhos se perdiam nas reações que causava no corpo abaixo do seu, a mão da delegada encontrara a sua, a apertando. ────Nós temos que... ────Seu rosto se lateralizara, subindo um tanto para conseguir olhar o rosto da outra mulher, parando por alguns segundos. ────...Terminar... ────Aos poucos os joelhos de Torres cediam, se abaixando enquanto sua mão viajava até o rosto da loira, chegando mais e mais perto.

Aos poucos, sem se movimentar de forma brusca, Anita virava seu corpo de modo a traze-la para mais perto, sentindo as peles quentes se chocarem com a proximidade cada vez maior. A mão de Verônica puxava seu rosto para si, deixando que os lábios pairassem a uma distância perigosa. Sem olhos fechados. Estavam se encarando sem cerimônias, respirando o mesmo ar. Os olhos azuis fitavam o rosto acima do seu uma vez mais, abrindo seu lábios sem perceber, como se estivesse pronta para recebe-la e de fato estava. Com o polegar, a escrivã movia o lábio inferior pintado de vermelho um tanto para baixo, totalmente séria e compenetrada em sua própria ação, ainda que brincasse com as reações que causava.

────Eu imagino você... Sempre. ────Os lábios mal se moviam, fazendo a frase sair baixa, como uma confissão sussurrada.

Under a secret | veronita fanfic Onde histórias criam vida. Descubra agora