Under se aproxima do fim, paras as viúvas da traição. Capítulo curtinho só para compor o outro que deixei por aqui esses dias, espero que gostem.
▪︎
Os passos rápidos de Verônica Torres poderiam deixar rastros de chamas para trás enquanto ela se distanciava da música e dos olhares. Tinha pressa em vista da adrenalina que só uma mentira bem contada poderia lhe conceder, fazendo com que uma descarga quente percorresse seu corpo, o tomando para si com uma rápidez impar. Estava cega enquanto caminhava, mas sabia exatamente onde queria chegar.
As mãos corriam por seus fios livres a dançar pelos ares, sentindo o pulmão de encher de coragem líquida capaz de matar. A noite cobria o local onde ela se encontrava, cobrindo os corredores para fora dali como uma mãe compreensiva, escondendo bem os segredos que Verônica guardava para si abaixo de camadas e camadas de confusão. Seu rompante só fora parado quando o braço fora segurado com força por uma mão delicada, a virando de uma só vez.
Os lábios se chocavam, lhe retirando o ar que até então ela tinha pleno a circular. A atmosfera se tornava quente demais para aguentar e por tal seu corpo se desfazia sobre o toque único que Anita possuía. A boca com gosto de champanhe lhe levava a loucura com facilidade, beijo gostoso e doce como só ela sabia prover a todo momento. As mãos enlaçavam sua cintura bem demarcada pelo vestido, segurando o tecido que subia a cada movimento impensado feito pela delegada. Estavam imersas juntas, fora daquela realidade.
────Esse é seu trabalho tão importante, Verô? ────A voz masculina ecoava alta por todo o corredor, criando um ar perigoso. ────É para isso que precisa se ausentar com tanta pressa? Para foder sua chefe? Puta que pariu!
Lábios se separavam e um pouco de sua confiança se esvaia ao se afastar da outra mulher. Berlinger mantinha as mãos em sua cintura, mas nem sequer movimentava seu rosto para olhar para o dono da voz, ao contrário de Verônica. A escrivã engolia seco como nunca antes, fitando os olhos de Paulo há uma distância considerável. Seu coração estava em branco, ainda que a cabeça formasse uma enorme tempestade prestes a desabar, destruindo tudo o que encontrasse pela frente. Seu racional se agitava pela culpa, mas seu coração se sentia limpo e exímio de qualquer tipo de sentimento.
────Você mentiu para mim... Levou ela na nossa casa... Verônica, NA NOSSA CASA! Há quanto tempo isso vem acontecendo? ────O homem dava passos consideráveis para frente, se aproximando mais e mais da mulher com quem dividira anos de sua vida. ────Você não vale o tempo que perdi te amando! ────Anita fechava a distância que assumira de Verônica na mesma proporção que Paulo se aproximava.
────Cuidado com o que vai falar a partir daqui, maridão! ────Seu dedo indicador subira, fazendo o mesmo engolir seco enquanto Torres se perdia em dúvida ao ver a troca de palavras que parecia esconder bem mais do que ela imaginava.
────Não precisa se meter nisso... Eu resolvo! ────A delegada apenas revirara os olhos em puro escárnio, negando com a cabeça enquanto seus braços se fechavam a frente de seu corpo. ────Não faz cena aqui, nos iremos conversar depois e resolver o que tiver de ser resolvido, só vai para casa! ────A sobrancelha do homem se arqueava enquanto seus dedos coçavam o meio de sua testa.
────"Vai para casa"? Você não vem comi... Verônica, como vamos resolver isso se você não quer vir para casa comigo? Vai para a casa dela, é isso? ────Anita sorrira o olhando, dando de ombros com empafia em seus olhos azuis. ────Uma mulher, Verônica? Uma mulher! ────Sua voz deixava claro o quanto seu ego estava extremamente frágil e ferido.
────O que foi maridão, se fosse com um homem, um brother seria melhor? Mais aceitável? É sempre assim, não é? Verônica vai para onde ela quiser, mas comigo ela sabe que tem passe livre... Algo que só o tratar bem uma mulher te concede, mas isso você ainda não aprendeu. ────De costas para o homem, a fita-lo por cima do ombro, Berlinger envolvera a cintura da mulher que respirava fundo, sussurrando em seu ouvido. ────Me deixa te levar daqui, vem. ────De baixo, Verônica a fitava séria, porém, era possível ver a súplica silenciosa em suas orbes, gravitando como um pedido de socorro.
────Você vai... Porra, você vai mesmo com ela! Vai se foder, Verônica! Acabou, essa merda de casamento acabou. ────Um suspiro profundo pela parte da delegada fora dado, ao que ela virara Torres de costa para o homem, a fazendo caminhar.
────Se eu fosse você, eu começaria a falar menos! ────Ao final de sua frase, um silêncio sepulcral se instalara no local, salvo os saltos que tocavam o chão no bater em retirada.
Verônica deixava sua culpa súbita para trás a cada passada de perna, afinal, a descarga em seu corpo não lhe fazia sofrer, pelo contrário, se sentia finalmente livre após o tempo de encarceramento súbito em uma realidade que não coincidia com o que ela tanto almejava para si e nem mesmo possuía consciência. Já longe do local que presenciara seu rompimento esperado, a escrivã se virara de súbito, puxando a outra mulher para si em um beijo demorado. A liberdade dava um gosto extra aos lábios, um tocar doce e compartilhado.
────Você está comigo? ────Seu fôlego se perdia entre as palavras e a troca de saliva, buscando pela boca da loira com veemência. ────Só preciso que esteja comigo. ────Se encontrava em mar tempestuoso, sem ar e sem perspectiva, mas a segurança concedida pelos braços de Anita a lhe envolver era cais seguro naquela noite.
────Eu não vou a lugar algum sem você! Estou aqui. ────A mão dominante acariciava o rosto macio, brincando com a sensações que as pontas de seus dedos causavam na pele perfeita. ────Me deixa te levar daqui, já aconteceram coisas demais para uma noite. ────Com o acenar de cabeça a mais nova lhe concedera a permissão necessária, passando a findar com passos rápidos o caminho até o carro de Anita Berlinger.
Fugir com ela se desenhava como paz ainda sem forma, permeando os pensamentos mais profundos de Verônica. Se perdia no céu acima de si, observado pela janela do carro como a tela onde um filme com final feliz se discorria bem. Sentia a mão da delegada a lhe tocar a perna, acariciando sua coxa com calma, passando a segurança necessária para que o álcool em seu sangue fizesse efeito suficiente para lhe fazer esquecer o momento ruim. Paulo poderia muito bem se tornar uma lembrança, mas Verônica não lhe daria aquela posição em meio a noite que se descortinava. Hoje Paulo não era absolutamente ninguém.
────Não preciso esconder mais nada sobre você. ────A voz baixa da escrivã acabava por preencher o veículo, fazendo Anita suspirar sem olha-la.
────Não seja precipitada dizendo essas coisas... Vocês ainda podem... Se resolver, não sei. ────Era a primeira vez que Verônica detectava pesar em suas palavras, Berlinger sempre usava de outras singularidades em seu falar, mas nunca emitia absolutamente nada com pesar.
────É difícil voltar para algo que te prende quando se conhece a liberdade, Anita, não há motivos para voltar! ────Sua mão dominante alcançava o maço de cigarros perdido no carro, tirando apenas um dali, acendendo o mesmo em seguida. ────Eu posso ser uma escrivã idiota, mas não cometo o mesmo erro duas vezes. ────A fumaça escapava de seus lábios, sendo jogada para fora.
────Mentirosa... O erro comigo foi cometido bem mais que duas vezes. ────A delegada a fitava pelo canto do olho, sorrindo um tanto enquanto dirigia de forma imponente, com apenas uma mão no volante.
────Você nunca foi um erro, Anita, diferente do meu passado que está cheio deles. ────Sua mão brincava com o ar fora do carro enquanto ela se perdia em pensamentos, fumando o cigarro um tanto rápido demais. ────Queria que me deixasse provar o que digo... Você nunca foi um erro, me deixa provar!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Under a secret | veronita fanfic
Fiksi PenggemarQuantos segredos São Paulo era capaz de guardar sob suas luzes coloridas e prédios bem apessoados? O casamento de Verônica e Paulo sempre fora sinônimo de harmônia para quem quer que tivesse o prazer de cruzar o caminho dos dois, uma paixão avassal...