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O quarto era iluminado pelas primeiras luzes do dia, constratando mais e mais com o branco avassalador do conjunto de cama. A ponta do pé se curvava, lhe concedendo o equilíbrio para deixar que o balançar ansioso da perna esquerda acompanhasse seus pensamentos estupidamente rápidos. Unhas pintadas de preto em chão branquissimo, olhos azuis a fitar o nada eminente que lhe convidava a pular no abismo da mente inquieta. O primeiro cigarro do dia era sempre tão sagrado para Anita Berlinger, mas por algum motivo a nicotina não fazia o efeito de sempre. Seria falta do café ao lado?

A mão se apoiava no colchão confortável, pernas separadas e uma expressão que não revelava muito de si, do que pensava e do que lhe causava confusão. Por dentro era quente, chegando a queimar e consumir tudo que vinha pela frente. Não era acostumada a ceder a desejos perigosamente incontroláveis, mas não passava vontade. Longe disso. Na mente seus dedos corriam vagarosamente pela cintura bem esculpida de Verônica Torres. Amava seu esmalte preto em unhas curtas sobre a pele de tom claro que a mulher possuía. Talvez fosse pelo gostar de detalhes que a escrivã permanecia em morada fixa em suas conexões cerebrais.

Olhos piscavam, o cigarro a crepitar acabara por chamar sua atenção, sendo levado até os lábios na tentativa de aplacar o tempo que havia feito ele queimar por si só. O puxar da fumaça era calmo, consumindo substâncias que os outros não sabiam como era importante para ela. Segundos de fumaça a amenizar, mas não acabar com o tremor das pernas. Soltara tudo ao se levantar sem muito pensar. Droga Verônica.

O quente do corpo deveria passar com o frio da água, do tempo, mas nada lhe servia. Havia um milhão de coisas para pensar, para deixar habitar sua mente, ainda era a chefe de um lugar imenso e cheio de ajustes a serem feitos o tempo todo, mas ao contrário do que lhe era comum, a cabeça não pensava em trabalho. Os dedos respondiam mensagens de forma automática, de fato não queria e nem faria muita questão de prestar atenção no que fazia. Ao final, estava novamente na conversa com Verônica Torres. O sorriso na foto de perfil. Sua boca tinha gosto doce quando em contato com a dela.

📞────Verônica... Eu preciso de... ────Segundos quebradiços diminuiam a vontade e o fato de executar a ligação que lhe colocava perto ao menos do tom de voz do outro lado da linha.

📞────Delegada? A Verô está no banheiro... Quer deixar um recado? ────A voz de Paulo lhe dava o banho de água fria que nem mesmo seu chuveiro fora capaz de prover. Acordara com um gosto amargo em sua boca.

📞────Não Paulo... Me resolvo com ela na delegacia, obrigada! Bom dia! ────A ligação se findava tão rápido quanto se iniciara. Celular jogado na cama e pés que pisavam fundo no piso extremamente limpo.

Vício. tendência específica para (algo indecoroso ou nocivo) ou qualquer ato ou conduta por essa tendência motivada.¹

Cigarro algum no começo do dia se comparava a tocar Verônica. E ela bem sabia.

Entre o arrumar de todos os seus pertences e a chegada até a delegacia de óculos escuros que escondiam seus olhos compenetrados em um só objetivo, Anita Berlinger tomara algumas horas até estacionar seu carro sem muito pensar em sua costumeira vaga. A porta fora batida assim que ela saira com as chaves penduradas em um aro nos dedos, uma respiração incomum lhe atingia naquele momento, fruto de nervos a flor da pele. Os braços se cruzavam e ela se recostava contra uma grande pilastra. Estava aguardando em meio ao silêncio frio do local.

Minutos a fundo correram até que o carro de Verônica apontasse na entrada, deslizando suas rodas até a vaga que ficava ao lado da pilastra onde a delegada se encontrava parada. O semblante sério era uma de suas marcas, mas naquele momento seu maxilar estava muito bem demarcado, assim como os dentes se cerravam. A seriedade se misturava bem e se perdia em desejos escondidos da maneira mais transparente possível.

Com calma, a escrivã saira de seu veículo com uma das mãos a mexer na bolsa, ignorando por real falta de percepção a segunda presença ali. Porém, com alguns passos dados, uma vez mais seu braço fora puxado, mas dessa vez sem ser imobilizado. Verônica sorrira em um suspirar audível, pesado e gostoso.

────Liga para mim de manhã... Me espera no estacionamento... Quer o que de mim, ein Anita? ────O corpo se virara de uma só vez, caminhando de maneira a forçar o corpo da loira para trás até que se encostasse uma vez mais contra a pilastra.

────Meu distintivo, escrivã! Eu devolvi seu sutiã na última noite... Porque não devolve o que é meu? ────As lembranças da noite anterior voltavam a perpassar o pensamento de ambas, fazendo com que um sorriso mútuo se desse quase ao mesmo tempo.

Os olhos castanhos abaixo dos óculos escuros buscavam pelas íris azuis sem sucesso, mordiscando o lábio inferior em desejo incontrolável. O pudor lhe sumia das veias bem como seu autocontrole, a tornando cada vez mais inconsequente quando o assunto era a delegada. Sua mão dominante retirava o objeto do bolso traseiro com calma, o levando até o cós da calça da mulher, passando a desliza-lo vagarosamente para cima.

────Ligar para mim fora do horário de trabalho, delegada? Não acha que está abusando demais da minha boa vontade dentro e fora dessa delegacia? ────Berlinger retirava o óculos em meio a fala, respirando profundamente com a próximidade que lhe tirava a sanidade, sentindo seu distintivo deslizar por seu abdômen, alcançando seus seios. ────O Paulo atendeu... Entende em que complicações você me mete quando age assim? ────Um sorriso cínico crescia nos lábios pintados de vermelho.

A boca de Anita Berlinger se abria lentamente, deixando que sua língua viajasse até os lábios fechados de Verônica. Com calma ela deslizara em pura lascívia, a trazendo para perto pela cintura. O distintivo voltara para si pelo toque rápido de sua mão dominante o tomando para si, enrolando o colar do mesmo entre os dedos.

────Larga ele... E eu não te meto em complicações. ────O cordão de prata enrolado em seus dedos agora deslizava pela bochecha de Verônica enquanto os olhos se comiam em distância mínima. ────Só meto em você... Gostoso, Verônica! ────Com a ponta dos dedos, ela batia fraco, por duas vezes, com um aviso. ────Entendeu, escrivã? ────O silêncio de segundos ao final da frase fora findado com os lábios se encontrando enfim em um beijo quente, onde línguas degladeavam por dominância em meio a conversa que subira os ânimos de ambas em uma velocidade inimaginável.

────Anita! ────A mão da escrivã era usada para apertar o queixo da mulher com força, a fitando com uma mescla de sentimentos nos castanhos. ────Você...

────Fala... Fala Verônica... Eu o quê? ────Anita sorria da maneira mais cínica que conseguia, sentindo o toque apertar mais enquanto a morena cobria sua fala com palavras ditas entredentes.

────Gostosa... Você é uma filha da puta, gostosa... ────O toque impulsionava o rosto da mulher para trás, que sentia os olhos pesarem de desejo.

────Te disse... Verbalizar o que você pensa é sempre bom! ────Com sua mão dominante ela retirara o toque de Torres de perto, colocando seu distintivo no pescoço. ────Preciso subir escrivã... Isso aqui não é só feito para você puxar quando bem entende! ────Com os dedos de ambas as mãos ela organizava o blazer cinza que usava, se aprumando antes de começar a caminhar para longe.

────Como se eu precisasse puxar isso ai para te ter perto... Assume Anita, eu estou na sua cabeça assim como você está na minha! ────A voz não se fazia tão alta em vista da proximidade, ao que a delegada apenas lhe olhara por cima do ombro, levantando sua mão para abaixar o dedo respectivo onde a aliança de Verônica ficava, finalmente virando seu rosto para frente.

Under a secret | veronita fanfic Onde histórias criam vida. Descubra agora