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Os olhos fitavam o teto acima de sua cabeça, e agora, mais do que nunca, ele parecia totalmente convidativo. O corpo não se movia tanto quanto em outros tempos, estava ali quase que por uma obrigação se fosse pensar bem a respeito. Assim que percebera o corpo de Paulo se virar, saindo de cima do seu, Verônica correra os dedos pelo rosto, fingindo estar tão cansada quanto ele estava. Por fim, a respiração descompassada e totalmente forjada chegara ao fim, ao passo que a mulher se sentara em sua cama, se levantando posteriormente.

────Ei... Onde você vai? ────Com a cabeça repousada nos braços cruzados contra o travesseiro, Paulo a fitava agora de longe, com um sorriso preguiçoso nos lábios.

────Está calor, amor! Eu vou... Tomar um banho, dorme... Você precisa acordar cedo amanhã. ────Os olhos castanhos piscavam algumas vezes, como se pudesse ter total controle de suas mentiras que começavam a tomar maiores proporções.

Os pés descalços a levavam em direção ao banheiro que o quarto amplo abrigava, adentrando ao mesmo com rapidez, fechando a porta atrás de si da exata mesma forma. Já com pés e pernas em repouso, Torres se fitava no reflexo do espelho, negando com a cabeça. Era péssima contando mentiras. Era mais péssima ainda guardando segredos. Quem estava querendo enganar? Talvez apenas a si mesma, pois se qualquer um olhasse mais profundamente em seus olhos, veria os segredos pairando na superfície de seu ser como dementadores.

Uma semana se passara como vento forte, trazendo consigo todo tipo de problema. Em meio as investigações dos mais variados crimes, a escrivã não mais se gabava da pseudo tranquilidade que seu trabalho possuía. Se lembrava com certa nostalgia do tempo em que apenas se sentava naquela mesa e se afundava em papéis extremamente chatos, afinal, agora tinha que conviver com um peso gigantesco nas costas que possuía nome, sobrenome e o par de olhos mais bonitos que ela já vira.

Diferente do que imaginara, Anita não correra atrás, nem muito menos tocara no assunto sobre a noite que dividiram em sua sala. Verônica estava frustrada.

Havia uma parte sua, talvez maior do que ela de fato possuía ciência, que esperava e desejava o mínimo de atenção após o contato trocado. Em sua cabeça, a delegada viria atrás, mesmo que minimamente, mas nem mesmo uma conversa sobre o assunto se firmara. Berlinger era profissional em tudo que fazia, inclusive na arte de se fazer de desentendida sobre absolutamente qualquer assunto que não lhe fosse interessante em determinados momentos. Verônica esperara, por dias, e nada viera. E nem viria.

Ali, de frente para o espelho do banheiro, a mulher fitava seus olhos, percebendo anseios que ela tentava a todo custo esconder. Uma semana. E por Deus, como estava difícil manter tudo aquilo guardado para si. As mãos se apoiavam no mármore frio da pia, se segurando ali como se o ato de imprimir força em algo sem vida pudesse lhe dar segurança o suficiente por míseros segundos, só para não enlouquecer de vez.

Do reflexo de seus olhos, a visão se abaixava, fitando seu próprio corpo sem entender como havia chegado naquele momento. Sexo com Paulo sempre foi bom, sempre foi ótimo o suficiente para que ela começasse a repensar sobre ter filhos. E de repente, um gosto amargo se instalava em sua boca toda vez que começava a se despir diante dos olhos que sempre lhe fitaram com o mesmo desejo morno de anos. O que havia assim de tão diferente para que tudo estivesse ressaltado em sua percepção? O gosto amargo não se dava só ali, se dava como um todo, se espalhando como praga nos mais diversos momentos.

O primeiro momento infeliz se dera na festa de promoção de seu marido. Estava deslumbrante, atraindo olhares e sorrisos cordiais por onde passava. E ainda sim, Verônica estava visivelmente infeliz, com o maldito gosto nos lábios que não saia nem mesmo com a mais absurda quantidade de álcool. Felicidade vinha em ondas de desejo que só eram emitidas pelos olhos de Anita. Mas ela não estava ali.

Under a secret | veronita fanfic Onde histórias criam vida. Descubra agora