157- "Resgate"

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- João Phelipe

Já é tarde da noite e eu permaneço no mesmo lugar.
Tenho certeza que tudo teria sido diferente se eu tivesse quebrado o orgulho e ido conversar com a Gabriela.

Essa garota me quebra e só de pensar em viver sem ela tudo em mim se desconcerta.

Já faz horas que o Pedro saiu daqui, o sol nem está brilhando mais e as estrelas tomaram seu lugar.

As drogas que o Mark havia me dado joguei tudo no mar depois do Pedro ter saído, meu pai com certeza estaria decepcionado comigo em me ver nessa situação.

Aliás, o motivo de eu não querer ir embora é por ele, depois da Daniela ter me falado aquelas coisas isso mexeu muito comigo e o que já estava bagunçado ficou pior.

Mas eu sinto que aqui, bem em frente a esse mar, nesse lugar, eu estou perto dele.

— Como eu gostaria que o senhor estivesse aqui pai, sua ausência me trouxe de volta a orfandade... — digo a mim mesmo e pela a primeira vez depois de muitos anos, eu começo a chorar...

Me levanto chorando e entro na água, só pra me sentir seguro de alguma forma.
As lágrimas se misturam com a água salgada do mar e assim eu fico.

Além da vez que eu fui separado do meu irmão no orfanato, não me lembro de ter chorado durante a minha vida inteira até aqui, mas hoje, meu corpo escolheu desabar!

Eu sempre achei que eu deveria ser homem o suficiente pra não chorar, mas na verdade eu vim carregando esse fardo mentiroso até aqui.

— João! — ouço alguém me gritar

Eu não me movo, só finjo que não vejo pois não quero que ninguém me veja chorando, pra mim ainda é algo difícil.

— João! — ouço novamente, mas dessa vez mais próximo

Me viro pra trás e vejo... A Gabriela, ela está tirando seu tênis pra entrar no mar, mas antes que ela entre eu vou até ela.

Saio com a roupa toda molhada

— O que você quer ? — pergunto

Ela corre até mim e me abraça. Mesmo com as roupas molhadas ela me abraça forte, como se soubesse exatamente o que eu sinto , e eu retribuo.

— Nunca mais faça isso, por favor — ela me solta chorando

— Pra que se preocupar se você tem o Igor — falo

— Eu nunca gostei dele — ela continua chorando — Meu coração sempre foi seu

— Então porque levou ele aquele dia ? Você não sabe o quanto eu fiquei louco — falo me irritando

— João eu só vim porque me preocupo com você, mas se for pra gente começar a brigar, eu vou embora — ela vira as costas e vai andando

— Por favor, não vai — eu falo e ela volta — Eu não aguento mais ver as pessoas irem embora, eu não posso deixar você ir também. Quando meu pai se foi, eu senti um vácuo dentro de mim e aceitei conviver com a dor, mas com você é demais pra mim...

Eu e você (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora