Capítulo 20

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Estava eu, o Cerol, o Mauê e o Hg, no carro, descendo o morro, quando os tiros começaram a ecoar lá em cima.

O clima tenso era palpável dentro do veículo, o Cerol, sempre com sua postura séria, olhava pela janela, avaliando a situação.

Mauê, ao meu lado, apertava o cabo da sua arma com força, os olhos fixos no retrovisor e o Hg, no banco de trás, respirava fundo, se preparando para o que estava por vir.

Fraga: Que porra é essa? - Exclamei, meu coração batendo forte no peito.- O Bope tá subindo pesado dessa vez.

Cerol: Esses filhos da puta não cansam, né? Sempre querendo tumultuar nosso trampo! - Bateu no volante com raiva.

Enquanto descíamos o morro, os tiros ficavam mais altos, mais próximos. A adrenalina corria pelas minhas veias, e eu sabia que precisava manter a cabeça fria para liderar a galera.

O celular tocou, interrompendo o silêncio tenso do carro, o Hg atendeu e ouviu atentamente o que o informante tinha a dizer. Depois de desligar, ele virou para nós com uma expressão séria.

Hg: Os caras do Bope tão chegando perto, tão na rua da frente!

Respirei fundo, tentando manter a calma.

Fraga: Beleza, vamos agir rápido. Cerol, avisa os moleques pra se preparar, o Mauê, mantém a retaguarda e Hg, você sabe o que fazer.

Enquanto nos aproximávamos do pé do morro, avistamos os carros do Bope bloqueando o caminho. O confronto era inevitável.

Fraga: Coé, seus arrombados! - Gritei, saindo do carro com a minha arma em punho.- Bota a cara, seus viados! Querem guerra? Então vão ter guerra!

Os tiros começaram a ecoar, e eu avancei corajosamente em direção aos policiais, liderando a minha tropa.

Cerol e Mauê seguiram meu exemplo, atirando com precisão enquanto avançávamos.

Mauê: Caralho, eles tão vindo em peso! - Gritou Mauê, sua voz abafada pelos sons dos tiros.

Fraga: Não vamos recuar, porra! - Gritei de volta, avançando com determinação.- Esses filhos da puta querem nos derrubar, mas nós somos os donos desse morro!

O cheiro de pólvora e o som dos tiros enchiam o ar, enquanto eu liderava os meus homens com coragem e determinação.

Já estávamos ali a mais de 1 hora, a adrenalina corria solta em minhas veias enquanto eu me movia pelos becos escuros do pé do morro, mandei os moleques se espalharem.

De repente, um estampido ecoou pelo ar, e uma dor aguda perfurou meu peito, tomei um tiro, mas não caí.

Minha reação foi instintiva, empunhei minha metralhadora e atirei contra o policial do BOPE que estava prestes a me prender.

Fraga: Filho da puta! - Gritei, entre os dentes, enquanto o sangue escorria pelo meu peito.

Mas antes que eu pudesse me recuperar completamente do susto, o Cerol apareceu ao meu lado, seu rosto tenso e preocupado.

Fraga: Cerol, precisamos sair daqui! - Gritei, minha voz abafada pelo ruído dos tiros.

Sem hesitar, sacou o radinho e começou a falar em meio à estática.

Cerol: Aqui é o Cerol, precisamos de um carro de quatro portas imediatamente, o chefe tomou um tiro no peito, precisamos tirar ele daqui agora! - Sua voz era firme, determinada, cortando o ar carregado de fumaça.

Enquanto ele falava, pude ouvir a resposta estática do rádio, confirmando a solicitação e indicando que a ajuda estava a caminho. Eu me sentia fraco, a dor parecia se intensificar a cada segundo, mas o pensamento de que precisávamos sair dali me mantinha alerta.

O Cerol continuou a coordenar a operação, sua voz ressoando no beco enquanto ele mantinha contato com os moleques.

Finalmente, o som do motor de um carro se aproximando rompeu o caos ao nosso redor, o alívio se misturou à dor enquanto eu era ajudado a entrar no carro pelos nossos vapores.

Eu me agarrei ao banco, lutando contra a escuridão que começava a me envolver.

O carro rugiu na rua, cada solavanco aumentando minha agonia. O Cerol permanecia ao meu lado, seu olhar determinado transmitindo confiança em meio ao caos.

Nossos destinos estavam entrelaçados naquela batalha pela sobrevivência, e eu sabia que podia contar com ele para sairmos dessa juntos.

Chegamos ao postinho em questão de minutos, e fui levado para dentro, onde fui imediatamente colocado em uma maca.

Os médicos corriam de um lado para o outro, e eu sentia a consciência se esvaindo lentamente enquanto uma injeção de anestésico era administrada.

Quando finalmente acordei, a sensação de alívio foi indescritível, olhei ao redor e vi o Cerol ao meu lado, um sorriso de alívio no rosto.

Cerol: Como você está se sentindo, chefe? - ele perguntou, ansioso por notícias.

Olhei para baixo e vi o curativo no meu peito. O tiro não tinha sido fatal, graças ao colete à prova de balas que eu estava usando. Um suspiro de alívio escapou de meus lábios.

Fraga: Tô bem, Cerol. E o morro? - Perguntei, preocupado com o destino dos nossos negócios.

Cerol: A polícia não conseguiu invadir o morro, tá tudo sob controle lá em cima - Respondeu ele, com um sorriso vitorioso.

Relaxei contra o travesseiro, agradecido por estarmos todos bem e por termos conseguido resistir ao ataque da polícia.

Estávamos vivos, e isso era tudo o que importava no momento.

Estava na sala do postinho, ainda me recuperando da cirurgia depois do tiro no peito que levei durante a invasão do Bope no morro.

Cerol tinha saído para verificar como estava o Miguel e pra comprar algumas coisas para mim, principalmente remédios. Eu estava exausto e a dor pulsante no meu peito era uma constante lembrança da violência daquele dia.

Fechei os olhos por um momento, tentando descansar um pouco, quando fui abruptamente despertado pelo som das portas sendo arrombadas.

Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, policiais à paisana invadiram a sala, apontando armas para mim.

Fraga: Caralho, o que é isso? - Gritei, tentando me levantar da cama, mas sendo imediatamente imobilizado pelos policiais.

Um deles segurou meu celular, que estava ao lado, e o examinou rapidamente.

— Tem um monte de evidências aqui, chefe! - Disse ele para o outro policial.

O outro policial franziu o cenho.

— Idiota, não quebra isso! Podemos precisar dessas informações!

Repreendeu o colega, antes de virar sua atenção para mim.

— Pedro Fraga, você está sendo preso por tráfico, assalto à mão armada, latrocínio, homicídio e outros crimes! - Anunciou ele, enquanto algemava minhas mãos.- Você tem o direito de permanecer calado, tem o direito de um advogado, se não tiver condições financeiras para pagar um advogado, o Estado irá fornecer um para você!

Meus direitos foram lidos em voz alta, e eu sabia que tinha que agir com calma e inteligência para lidar com essa situação.

Eu tinha o direito de contratar um advogado e o direito de permanecer calado.

Os policiais me algemaram e me levaram à força para fora do postinho.

Todos os olhares estavam sobre mim enquanto eu era colocado em um carro preto no estacionamento, eu sabia que precisava manter a cabeça erguida, mesmo quando minha liberdade estava sendo tirada de mim.

Dentro do carro, as algemas apertavam meus pulsos, e a sensação de impotência era esmagadora.

Eu olhei para fora da janela, vendo o morro que eu chamava de lar desaparecer lentamente de vista.

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