Capítulo 23

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Baiano: Ei, Fraga, ouvi dizer que essa semana vão vir duas minas novinhas para visita íntima. Quer uma delas?

Fraga: Claro que quero. Quero uma loira.

Baiano: Seu pedido é uma ordem, meu amigo. Mas se quiser, arranjo até uma menina azul pra você.

Fraga: Não precisa exagerar, Baiano. Uma loira já está de bom tamanho.

Baiano: Tudo bem, como quiser. Mas me conta uma coisa, é verdade que você estava com uma mina pretinha antes de vir parar aqui?

Fraga: Os bandidos tão mais fofoqueiros, do que tudo né!? - Ele gargalhou.- É, ela é a irmã do Hg e filha do Mauê.

Baiano: E eles sabem que você já comeu ela?

Fraga: Não, se soubessem, eu já estaria morto. O Mauê tem muito ciúmes da filha, e ainda mais sabendo que eu não presto.

Baiano: Essa é das brabas, mas você tava curtindo a mina, né?

Fraga: Tava sim, mas a vida é assim, Baiano. A gente curte enquanto pode, mas quando roda, é só lembrança.

Baiano: Pois é, meu amigo, mas aqui dentro você vai ter novas oportunidades. E quem sabe, talvez até achar uma que valha a pena.

Fraga: Quem sabe né, Baiano.

Baiano: Sabe, Fraga, já me apaixonei uma vez, foi antes de eu me envolver. Conheci a mina na praia, era uma daquelas branquinhas de condomínio, de sobrenome chique, Vanessa era o nome dela.- Sorriu.

Pegou um maço de cigarro, e uma caixinha de fósforo que tava embaixo do travesseiro dele.

Baiano: O pai dela era advogado, a mãe médica e eu, só mais um neguinho favelado. Mas a gente se amava, saca? Ela até engravidou, e foi por esse amor que naquele dia ela subiu o morro pra conversar comigo depois de uma briga.

Ele acende um cigarro e dá uma tragada profunda, como se precisasse da fumaça para aliviar a dor que vinha junto com as lembranças.

Baiano: Mas aí teve uma invasão, a polícia chegou atirando. Ela tomou uma bala perdida e morreu nos meus braços, ainda estava grávida de cinco meses, Fraga. O nome da menina ia ser Eloá.

Um soluço escapa da garganta do Baiano, um som rouco que revela a dor profunda que ele carrega consigo.

Baiano: Depois disso, Fraga, só senti ódio. Ódio da polícia, dos filhos da puta que tiraram tudo que eu tinha. Nunca mais quis me apegar a ninguém. Entrei de cabeça no tráfico, foi a única forma que encontrei de sobreviver.

Ele respira fundo, tentando controlar as emoções que ameaçam transbordar.

Baiano: Seis anos depois, eu rodei e ninguém veio me visitar, o morro foi tomado, já tem até um novo dono. E eu tô aqui, há quatro anos na cadeia.

Fraga: Quando a gente sair daqui, Baiano, você vai comigo. Vai ser da gerência do morro. Vai ter muita mina pra você, mas precisa parar de abusar dos moleques da prisão, isso não se faz de jeito nenhum. Se os moleques roubarem, a gente bate neles e tá suave.

Baiano: Você tá certo, Fraga. E quando a hora certa chegar, vamos voltar para o nosso lugar de direito.

Fraga: E essa rosa aí! - Aponto pra uma das tatuagens dele.

Baiano: Depois que perdi a Vanessa e a Eloá, decidi fazer uma tatuagem em homenagem a elas. Era o meu jeito de mantê-las vivas dentro de mim, de nunca esquecer o amor que tive por elas.

Ele mostra a tatuagem, uma delicada rosa branca com o nome "Eloá" escrito em letras cursivas abaixo.

Baiano: Essa rosa representa a pureza da minha filha, e o nome dela ali é para que eu nunca esqueça que ela existiu, que ela foi real. É o meu jeito de honrar a memória dela, mesmo estando longe.

Um brilho de tristeza passa pelos olhos do Baiano, mas também há uma determinação em sua expressão.

Baiano: Um dia, quando sair daqui, vou fazer questão de visitar o túmulo da Vanessa e da Eloá. Vou levar flores e dizer a elas o quanto eu as amo, mesmo que já não estejam mais aqui. É tudo o que posso fazer por elas agora.

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