Capítulo três - Thomas.

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Quarta feira, 1 de junho de 2022. (Thomas)

     Eu gostava de observar os meus peixinhos coloridos, eram a minha única companhia desde que eu me mudei para GreenWood. Era relaxante ouvir o som das bolhas, junto com a luz azulada suave que iluminava toda a minha sala. Era a única coisa que me fazia verdadeiramente feliz, meus amiguinhos aquáticos. 

    Eles nadavam de um lado para o outro, no começo se escondiam na pequena toca que eu havia colocado para eles, outras vezes ficavam me encarando de volta. Era bom, pelo menos eles passarem morrer um a um. 

— Ei cara, você está dormindo, não está? — Perguntei batendo suavemente no vidro, era óbvio que ele estava morto, peixes não boiam de barriga para cima quando estão dormindo. Era o quarto naquela semana. — Poxa, eu sinto muito. — Suspirei e desbloqueei meu celular. 

    Segui alguns tutoriais e verifiquei a qualidade da água com os diversos produtos que eu havia comprado. Aprender a arte do aquarismo estava sendo algo bom para mim, ocupava a minha mente de maneira positiva, era a única maneira de não me preocupar com a morte, bem, era até todos começarem a morrer.

   O substrato era adequado, areia e cascalho natural, do melhor fornecedor. Algas, corais, rochas e decorações com pintura e materiais adequados, filtro e bomba de oxigênio, um termostato de ótima qualidade. Aquele aquário havia me custado uma fortuna e agora, mesmo com a água livre de fungos e bactérias e com o pH e sal adequados, eles estavam morrendo aos poucos. Um a um.  
   Gostava dos peixes palhaços, gostava de vê-los nadarem animados ao redor das anêmonas. Foi uma descoberta e tanto quando eu descobri que sozinhas, elas mudavam de lugar. 

— Bem, agora só restaram vocês três, me prometem que não vão me deixar também? Estou dando o meu melhor. — Eu conversava com os meus peixes, era um pouco patético, mas me aliviava o peito saber que outro ser me escutava. Um dos peixes fez uma bolha de ar com a boca. Entendi como um sim, eles não iriam me abandonar. 

    É o meu aniversário e não tem nada pior do que dar descarga em um de seus peixinhos, Rogério ou Arthur, droga, eu não me lembro qual peixe é qual, são tão parecidos. 

     Me despeço em lágrimas, me sentindo cada vez mais patético e infantil. Era apenas um peixe palhaço. Um peixe criado em cativeiro que não sabia quem eu era, que não se lembrava de nada. Mas era o meu amigo e companheiro. Não queria ter que dizer adeus, mas é o ciclo da vida. Pessoas nascem e morrem todos os dias. Provavelmente a regra era a mesma com os peixes. 

    Enxuguei o rosto, tirei minhas roupas e entrei no banho.  Ao importava que o meu peixe havia morrido, eu ainda tinha que trabalhar e torcer para que quando eu chegasse em casa os restantes estivessem vivos e nadando voltinhas animadas para que eu pudesse assistir e admirar. 

     Água morna, sabonete de menta, shampoo anti-caspa, toalha, uniforme. Rotina de todos os dias, algo repetitivo e exaustivo. Eu precisava limpar minha casa, precisava abrir a janela e deixar o ar entrar, recolher o lixo do chão e lavar as minhas roupas. Mas eu sempre estava tão cansado que deixava tudo para depois, minha mãe me daria uma bronca, mas ela também não está aqui comigo. 

     Pelo menos, após o almoço eu ficaria na calçada, esperando ansiosamente por ela, a moça de nome esquisito e de sorriso bonito. Ela tinha uma rotina, provavelmente saia do trabalho naquele horário, pois eu podia contar no relógio, às 14h40 ela estava passando em frente ao corpo de bombeiros. Sempre pontual, sempre exibindo suas roupas elegantes e saltos altíssimos que eu escutava de longe quando ela se aproximava. Era tão linda, tão graciosa e gentil, sempre me acenava com um sorriso tímido no rosto, um comprimento não verbal, mas que me deixava feliz assim como assistir os meus peixes. Por falar neles, quando retornei à sala, mais um estava boiando. Eu teria que dar descarga em mais um peixe antes de sair de casa. 

Fireboy • TomdayaOnde histórias criam vida. Descubra agora