Capítulo oito - Zendaya & Thomas.

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~ Sábado, 9 de Setembro de 2022. (Zendaya)

     Eu detestava deixar meu trabalho acumular, porém estava com um paciente novo um pouco complexo. Um garoto de catorze anos em um reformatório fora da cidade, um histórico não muito agradável de violência, ele sentia ódio principalmente por mulheres e era um dos principais suspeitos de assassinatos de uma professora da escola onde ele estudava. Tinha consciência ao saber onde estava me metendo, principalmente por ter um policial acompanhando o rapaz durante toda a consulta. Billy era um garoto com diversas cicatrizes no rosto, falava bem pouco e não me olhava nos olhos, parecia sentir nojo de mim. Hoje passamos por sua segunda consulta e como da primeira vez, fui chamada de vadia e ouvi que eu me sentia importante por ter uma vagina podre.

    Era chocante para dizer o mínimo, ver um rapaz tão jovem com tamanho ódio. Ele não tinha diagnóstico, afinal, não parava com nenhum psiquiatra e eu estava sendo uma de suas últimas esperanças. Tudo que eu tinha sobre ele eram inúmeras anotações, de professores, colegas de sala, outros profissionais como psicólogos, neuropsicólogos e psiquiatras e a maior parte dos relatos eram de seus pais.

    Uma família perfeita como a minha, pais com hábitos saudáveis e muito amor para dar aos filhos. Billy era dito como um bebê malígno e manipulador que gritava por horas sem parar, não aceitava ser amamentado. Na primeira infância usou fralda até os dez anos, não falava com os próprios pais, não interagia. No começo tiveram a suspeita de autismo, porém em diversas consultas ele era um garoto doce, que aparentava ser negligenciado. A máscara caiu no ano anterior, quando uma professora, a mais odiada por ele, havia sido assassinada.

    Estava sentada à horas, lendo e relendo anotações. Tom havia me trago o almoço e me feito companhia na minha pequena pausa, ele era um ótimo amigo e sua companhia era mais que perfeitas nesses momentos. Sua ansiedade estava cada vez maior, o deixando inseguro e desconfortável o tempo todo, notei que ele realmente não gostava de ocupar o meu tempo com isso, sempre dizia que não queria incomodar e que eu já ocupava a minha cabeça demais com outras coisas. As poucas coisas que sabia e podia notar era seu cansaço excessivo, ele dizia que às vezes o sono não vinha mesmo estando muito cansado, ou então tinha pesadelos horríveis que acabavam com a sua noite. Com os meses de repetição daquelas crises, chegando a mais de uma durante o dia, tinha quase certeza que se tratava de Transtorno de ansiedade generalizada, porém eu não podia passar esse diagnóstico, precisava de investigar mais a fundo, pois temia que não fosse apenas a ansiedade e era antiético, éramos melhores amigos. Por essa razão eu estava esperando a agenda de Lia ter uma trégua e marcar uma consulta para ele.

    Eu sentia a minha bunda quadrada e minhas pernas dormentes, porém ainda tinha muito para fazer. Estava escuro e com total certeza Tom já havia chegado do trabalho, Noon estava muito alegre na janela, latindo e pedindo atenção. Ele havia adotado Tom como seu melhor amigo, assim como eu tinha feito. Eu não tinha feito o jantar, nem sequer tinha lavado a louça do almoço.

— Gatinha inteligente? — Tom bateu na porta anunciando a sua chegada. Ele tinha as chaves do meu apartamento, como eu tinha as dele. Então invadir o apartamento um do outro era algo comum. — Faísca, ainda há muita coisa para fazer?

— Sim, é muita coisa para ler e estudar. Meu paciente novo é muito complexo, entende? Estou tendo que me apegar em uma pilha de arquivos. — Digo e ele sorri.

— Vim te chamar para sair, distrair a cabeça. O que acha? — Tom se sentou ao meu lado, tinha um sorrisinho fofo no rosto. Eu adoraria sair com ele, principalmente depois dos comentários e observações maldosas daquele garoto. Mas eu estava com trabalho até o pescoço.

Fireboy • TomdayaOnde histórias criam vida. Descubra agora