Capítulo Dezenove -

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~ Terça-feira, 15 de novembro de 2022 (Zendaya)


   Uma das coisas que eu mais detestava sobre mim, era o poder e influência das palavras ditas a mim. E a escolha de palavras da minha mãe, no casamento do Léo, foram simplesmente a pior de todas. Não sabia dizer se era insegurança do meu corpo ou de quem eu era. Sempre foi acostumada a receber elogios, muitos deles. Mais do que eu realmente gostaria. Mas então existiam aspectos do meu corpo que eu simplesmente odiava.

   O medo da primeira relação, ia bem além das minhas inseguranças físicas. Temia dar liberdade e me entregar cedo demais para alguém. Não que não confiasse em Thomas, ele era simplesmente perfeito mas o receio ia bem além da confiança, eu precisava me conhecer antes mesmo de me entregar a ele. 

    Ser a namorada do Thomas era equivalente a ganhar na loteria, a sensação de ser amada era surreal ele sempre dizia que não era do tipo romântico, que mal sabia dar afeto. Mas acredito que suas palavras não passavam de charme, era a terceira vez na semana que eu recebia mimos em meu consultório. Dois desses mimos foram ontem, um pela manhã e outro próximo ao fim do meio expediente. Dessa vez o presente do dia era o menor caixa de bombons dos meus favoritos. Chocolate ao leite, marshmallow, caramelo e um recheio azedinho de geleia de morango. Não era como se meu namorado já não tivesse o meu coração, mas mandar uma caixa daquelas para o meu consultório era quase um pedido de casamento.


  Para mim as terças-feiras era um dos melhores dias da semana, pois era o dia que eu tinha aulas de pole dance. A aula que servia mais como uma terapia, afinal, me ajudou a construir um pouco de autoestima que eu sentia falta. Os conjuntos mais sensuais escolhidos a dedo para valorizar o meu corpo, faziam que eu me sentisse bonita. Poderia passar horas me olhando no espelho e agraciando cada um daqueles conjuntos. Gostaria de mostrar cada um deles ao meu namorado, uma vez que ele sempre elogiava a minha apresentação de dança.

   Com o corpo dolorido após duas quedas do poste, uma assadura entre as pernas e um pouco de dignidade a menos, cheguei em casa implorando por um relaxante muscular. E uma massagem. ao destrancar a porta tive acesso a uma das cenas mais fofas do ano, Tom estava dormindo de Conchinha com Noon, na TV passava mais um episódio de Bob Esponja, sem sombra de dúvidas aquele era o desenho favorito meu namorado. E agora com a sua terapia em andamento, mais a sua licença, era como se estivéssemos morando juntos.

   Seria um passo avançado demais dependendo do ponto de vista. Mas a nossa união além de forte era reconfortante, principalmente para mim que passei a vida inteira dividindo a casa com alguém. Tom também lamentava que passava muito tempo sozinho, e com tanto tempo livre por conta de sua licença médica, estava se sentindo abatido. Ele era um homem extremamente ativo que eu costumava brincar que estava infectado por uma espécie de formiguinha agitada no bumbum. Aquele homem só se mantinha calmo 

quando estava dormindo. Talvez fosse ansiedade misturada com a hiperatividade, algo que me preocupava aos poucos.

— Eu que lute quando esse homem voltar a trabalhar. Esse apartamento nunca mais vai ser o mesmo. — digo baixinho para mim mesma, meu pobre cãozinho estava ficando muito mal acostumado com toda aquela atenção e companhia. Meu namorado só saí de casa se podia levá-lo, seja em lojas de conveniência, lojas de seu interesse e o principal, a sua terapia. Em algum momento na minha vida eu achei que tinha sido uma boa ideia comprar aquela espécie de mochila de acrílico para carregar cães e gatos, visto que Noon fosse um anjinho de quatro patas, e que boa parte da cidade você pet Friendly, aquele cachorro simplesmente passeava pela cidade inteira. deixei minhas coisas sobre a mesa tirei meu sapatos e os coloquei sobre a pequena calçadeira que havia ao lado da porta. Tive que recolher os tênis espalhados que pertenciam ao meu namorado, lidar com a sua bagunça era um desafio tanto que eu estava lutando para pelo menos dar uma leve corrigida. Me aproximei dos dois, a bolinha de pelos me encarou sonolenta, abanando o rabinho feliz ao me ver. A melhor parte de ter cachorro eram esses momentos, a felicidade genuína após pequenos períodos de afastamento que para eles mais pareciam horas. — Ei meu filhinho, também senti a sua falta. O papai cuidou bem de você hoje? — Recebi um latido como resposta, a melhor maneira que o meu pequeno arranjou em me contar que naquela manhã havia ficado na recepção da clínica onde eu trabalhava. Nunca na minha vida, havia sequer imaginado que alguém pudesse ser tão apegado a um cachorro ao ponto de levá-lo em uma clínica de psicologia e psiquiatria. Muito menos que cães fossem permitidos naquele lugar.

Fireboy • TomdayaOnde histórias criam vida. Descubra agora