Capítulo Dezoito - Zendaya

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~ Sexta-feira, 4 de novembro de 2022. (Zendaya)

    Dois dias sem ver o meu namorado, resultado de um plantão de setenta e duas horas. Me sentia patética por sentir tanta falta do homem cujo a missão de vida é me tirar do sério. Longe de mim reclamar, mas Thomas era o ser mais irritante que já pisou nesse planeta. Mas eu o amava tanto. Noon também sentia saudades do pai, ficando amado na janela, esperando que ele voltasse para casa, às vezes tirava longos cochilo em frente a porta, apenas para ser o primeiro a vê-lo. Essa relação dos dois apenas fazia com que o nosso relacionamento fluísse de maneira mais leve e verdadeira, era importante para mim que meu namorado gostasse de cães, afinal Noon era uma parte de mim, uma parte que me ajudou a vencer a depressão.

— Tudo isso é saudade do papai, meu amor? — Perguntei ao pobre cãozinho largado no chão. A ração intocada, algo que me deixou em alerta. Noon sempre foi chato para comer sua ração, mas agora, tudo era feito na presença de Tom. As brincadeiras, as artes e a alimentação. Me sentia substituída, como se o meu cachorro não gostasse mais de mim. Talvez fosse o ciúmes, a sensação nova de ter que dividir a atenção do meu melhor amigo. Sempre fomos apenas ele e eu, desde que Noon era um filhote assustado que se escondia dentro do meu armário de roupas.

    A depressão me pegou em cheio pela segunda vez há um ano e meio atrás. Sem motivo aparente, mas tão intensa que eu mal conseguia levantar da cama. Talvez fosse a pressão, a exaustão de tentar ser perfeita o tempo todo. Talvez fosse a negligência dos meus pais. Talvez fosse a obrigação de ser quase que uma mãe para os meus irmãos. Noon foi um presente que meu pai arranjou de última hora, sabendo que Julien não se dava com animais, a única fez que eu tive algo que eu realmente quis depois do nascimento do meu irmão caçula. A primeira vez que fui pega em cheio, foi no fundamental, quando eu sonhava em cursar moda e tinha um senso de estilo único, por ser mais alta, mais magra e usar roupas coloridas e presilhas de cabelo divertidas, fui alvo da crueldade severa das crianças. O Bullying me perseguiu de maneira intensa durante anos e foi assim que fui diagnosticada com depressão na primeira infância.

   Foi nas minhas sessões de terapia que eu descobri mais sobre mim, por achar a felicidade, ir além do uso de medicamentos. A doutora Rosalie, um anjo na minha vida. A mulher que me trouxe de volta as cores da vida, a felicidade. A mulher que me mostrou a magia da profissão e mudou para sempre o meu destino. Ser psiquiatra era um sonho realizado, a maneira de mostrar minha gratidão para o mundo. Ajudar as pessoas, ajudá-las a se livrar da angústia, da tristeza, era realmente um super poder. A melhor parte era poder ter o melhor entendimento de cada caso, saber como a primeira consulta era desconfortável, o receio de contar os acontecimentos ao longo da vida, a dificuldade em confiar em uma estranha. Eu sabia como era isso, já estive sentada do outro lado, como uma paciente.

— Vamos passear? — Passear, a palavra mágica para fazer Noon mudar da água para o vinho. Meu amiguinho deu pulinhos alegres, dando latidos fortes e abanando a cauda. — Podemos tomar sorvete e ver o papai se tivermos sorte. — Mais latidos, mais pulinhos e então a barriguinha peluda e redondinha estava para cima esperando por um afago. Realizei seu pedido, acariciando carinhosamente sua barriguinha. — Você engordou, hein? Titio Mike vai ficar bem bravo conosco. Então vou dizer que foi o papai. — Tio Mike ou pior inimigo de Noon, a escolha vai de cada um. Noon era espertinho demais para reconhecer Mike e se lembrar de cada agulhada, exame chato ou banho com medicamentos para alergias.

   O preparei para o passeio e saímos de casa, Noon dava pulinhos o tempo todo, nem parecia que havia passeado de manhã. Ah os passeios matinais, passeios curtos que o meu namorado havia o acostumado. Thomas parecia confortável em ter uma rotina quase que rígida, tarefas diárias, metas e horários funcionavam bem com ele. Conviver com o Tom, estava me dando abertura para conhecê-lo de forma mais intensa e isso estava me deixando maluca. Além da ansiedade, estou notando o tdah, a falta de foco está diminuindo aos poucos, ter uma rotina ajudava pacientes. Não podia simplesmente dar um diagnóstico e sinceramente não sabia como entrar nesse assunto sobre ele buscar ajuda profissional.

Fireboy • TomdayaOnde histórias criam vida. Descubra agora