Shaking on the phone

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POV CAMILA


- Dra. Cabello, ligaram para você enquanto atendia à ocorrência.

George me disse, assim que eu, junto de Dinah, adentrei novamente ao galpão; acabávamos de voltar de uma ocorrência onde um garoto de 16 anos se atirou do sexto andar do prédio onde morava na tentativa de tirar a sua vida. Múltiplas fraturas, mas chegamos a tempo. Eram aproximadamente nove da manhã de uma quarta-feira chuvosa, Miami estava um caos; e eu, estava exausta.

- Você anotou o recado, George? - Perguntei, desabotoando um pouco a minha farda, me atirando no sofá e recebendo no ar uma garrafinha de água que Dinah havia arremessado para mim.

- Sim, quem ligou foi Lauren Jauregui, médica traumatologista do Miami Heart Emergency. – Não pude conter o espanto e acabei cuspindo parte da água que eu havia acabado de levar à minha boca, pude perceber Dinah rindo baixinho do meu lado. – Ela deixou um telefone, disse que tem algo importante sobre uma paciente para te informar.

- La-Lauren Jauregui?

Perguntei, não podendo soar mais idiota.

George assentiu, e pareceu, como os demais presentes naquela sala, não entender a minha reação. Tratei de retomar a minha pose e voltar a beber minha água; ele veio até mim e me entregou um post it azul com um número de telefone, o peguei e o guardei no bolso da manga direita de minha farda, sorri em agradecimento para o enfermeiro a minha frente e me levantei.

Fui a passos rápidos até a grande janela que ficava perto das escadas que davam para o estacionamento para observar a chuva e retomar o que acabara de acontecer. Como ela descobriu? Quer dizer, não é muito difícil, ela sabia que eu trabalhava aqui, e deduziu que este seria o meu horário de plantão. Desejei voltar no tempo para estar aqui quando o telefone tocou; mas logo me desapeguei deste pensamento, eu estava trabalhando, e ela apenas queria falar sobre um paciente, que deve ser Katy, do acidente de algumas semanas atrás.

Fitei por longos minutos o dia úmido do outro lado da janela, e me questionei mentalmente sobre o amor, aquele que eu tanto acreditava; será que havia chegado a minha vez? Balancei a cabeça em negação quando lembrei do papel no bolso de minha farda, o peguei. Eu deveria ligar? Mandar uma mensagem seria muita falta de educação? Eu nem sabia se ela gostava de mulheres, ela poderia se assustar facilmente com qualquer fala minha fora do contexto médico.

Já fazia uma semana ou mais desde que eu pedi ao meu chefe para ser transferida para as ocorrências da zona norte da cidade, e mesmo assim eu nunca mais a vi, mesmo passando pelo hospital onde ela trabalha diversas vezes nestas madrugadas. Decidi não pensar tanto e seguir meu coração, só desta vez, já que ele gritava por mais dela a cada hora, como um alarme de incêndio.

Tirei o meu celular do bolso da parte de baixo da farda e desbloqueei a tela, sorri com meu plano de fundo, uma foto de Sofia e Milk, o gato dela; selecionei o ícone da tela de discagem no canto esquerdo da tela e olhei para o post it azul em minha outra mão, disquei a sequência de números e me limitei a tremer dos pés à cabeça enquanto a ligação chamava. Me xinguei mentalmente ao perceber que era horário de serviço e ela poderia estar em cirurgia ou atendendo alguém na emergência, mas continuei na linha.

- Alô? - Ela disse, após a ligação chamar cinco vezes. Tremi, e é claro que me arrepiei inteira ao escutar a sua voz rouca novamente.

- A-alô, Lauren? - Eu perguntei, gaguejando e sentindo uma coisa estranha no estômago por estar falando com ela ao telefone.

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