My Emergency

Puzzle

POV CAMILA

Bonita Springs ficava a 2 horas de Miami; havíamos saído com tempo para ir com calma e apreciar o caminho. Lauren dirigia tranquilamente pela rodovia enquanto o céu azulzinho e sem nuvens nos indicava que aquele inverno seria ameno na Flórida. Eu não ia até Bonita Springs há muitos anos, então, para mim, era deleitosa ainda que pequena esta viagem ao lado de Lauren.

Sorri para o saco de papel pardo em minhas mãos; ele estava repleto de rosquinhas açucaradas, as preferidas de Lauren e verdadeiramente deliciosas.

- Camila! Você tem que colocar em minha boca a mesma quantidade de rosquinhas que coloca na sua; assim não é justo. – Ela disse, me arrancando uma boa risada enquanto seu olhar desesperado evidenciava à mim o seu medo de que as rosquinhas acabassem sem que ela pudesse comer o quanto queria.

- Eu estou te dando uma de cada vez, Lolo. Você está dirigindo, não posso te distrair. – Ela me olhou incrédula enquanto eu levava mais uma das deliciosas rosquinhas à minha boca.

- Enquanto eu como uma, você come quatro, Camila! Vão acabar! – Os óculos escuros e a jaqueta de couro preta que ela usava quase a impediam de parecer adorável; digo quase pois, aos meus olhos, era o ser mais lindo e amável de toda a face da terra.

- Vou te arrumar uma namorada que coma menos das suas rosquinhas. – Eu disse, provocando-a enquanto chupava um de meus dedos repletos de açúcar; Lauren desviou o olhar da estrada por um segundo, para abaixar levemente os óculos e me olhar enquanto meu dedo indicador era levado à minha boca mais uma vez.

- Você não sabe o que faz comigo, não é mesmo? – Ela disse, rindo levemente; voltando-se novamente à rodovia à nossa frente.

A olhei inocente, desta vez levando uma rosquinha até a sua boca. Eu sabia bem do que ela falava. Sentia, em cada vez que seus olhos ganhavam novos tons de verde, o tamanho e magnitude do que o nosso amor a causava. Beijei a sua bochecha, e aproveitei para cochichar-lhe algo:

- Saiba que me causa o mesmo e ainda mais, mi amor. - Senti o aperto dela em minha coxa e sorri em seu ouvido. As rosquinhas não eram mais a nossa principal situação. A vi balançando sua cabeça em seu típico gesto de tentativa de voltar ao foco; tratei de me colocar sentada no banco do passageiro como estava, afim de adiar para mais tarde este jogo que não poderia ser jogado ali, em plena rodovia.

- Acha que a minha avó poderá nos ajudar a entender melhor aquela carta, Camz? – Lauren perguntou. Ela mantinha uma das mãos em meu joelho parcialmente coberto pelo vestido que usava, depositando ali um carinho preguiçoso enquanto dirigia.

- Sinto que sim, meu amor. Na verdade, sinto estranhamente que sim. – Disse, em verdade assumida de que achava mesmo que a avó de Lauren poderia ter as respostas que nos faltavam para fechar o quebra-cabeças que, ainda que incompleto, havia nos trazido tantos novos saberes sobre nós.

- Me soa real. Sinto mesmo como se tivesse te procurado por muito, muito tempo antes de te encontrar. – Ela parou, parecendo pensar um pouco antes de continuar. – Quando eu era criança, sonhava todas as noites com uma mulher de cabelos escuros; longos e levemente cacheados, ela usava um vestido de algodão azul e dançava descalça na areia de alguma praia enquanto ondas quebravam furiosas atrás dela. Ela era linda, brilhava como se existisse uma fogueira enorme acesa em seu peito. - Suspirou, como se não tivesse até aquele momento, se dado conta de que possuía em sua mente esta lembrança. – Era você.

Olhei-a com os olhos instintivos, em busca de mais daquela informação que mesmo saindo de sua própria boca, parecia ser tão nova à ela, como era à mim.