Boreal-blue

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POV LAUREN


Já passava das dez da noite quando estacionei o carro em frente a minha casa. A roupa e os cabelos ensopados não me deixariam passar tão despercebida como eu desejava, então torci para que meu pai já tivesse se recolhido para o seu quarto, já que por ser sexta, Taylor provavelmente estaria na casa de alguma amiga.

Saí do carro e a trégua na chuva me permitiu remover com calma o jaleco que eu havia usado para forra o banco de couro para que eu não molhasse o mesmo devido ao meu estado; o que não foi muito eficaz, mas evitou maiores estragos, afinal.

Olhei para a garrafa em questão, que repousava no banco do passageiro. A alcancei rapidamente, a enrolando no jaleco úmido em minhas mãos. Decidi que a abriria dentro de casa, longe da água e segura o bastante para não danificar o que quer que estivesse ali dentro.

Abri a porta o mais silenciosamente que consegui; meu pai não estava na sala e eu rezava para que ele estivesse descansando. Subi as escadas com os pés descalços e os lábios tremendo pelo frio, ganhei o corredor apagado dos quartos e logo entrei no meu, fechando a porta atrás de mim e acionando a meia luz. Caminhei até minha mesa e depositei ali a tal garrafa que certamente possuía algo dentro, me livrando rápido do jaleco no qual eu havia a enrolado. Pisquei algumas vezes ao me convencer de que o que estava escrito no vidro era mesmo aquilo. Balancei a minha cabeça algumas vezes e notei que as minhas roupas molhadas estavam pingando, formando uma pequena poça aos meus pés; precisava de um banho antes de tentar entender o que estava acontecendo.

Tirei as roupas ensopas e me permiti respirar um minuto antes de ligar o chuveiro e me foçar a aceitar que o que Vero havia falado antes era a mais pura verdade; cansada como eu estava, realmente não poderia fazer muita coisa bem feita caso fosse necessário.

Lavava os cabelos e podia sentir cada gota do meu sangue se esforçando ao máximo para manter-me de pé; chorei uma vez mais e vi as minhas lágrimas se misturando com a água quente que caía em meu corpo. Não poderia perder Camila, era como se por todas as outras eras a minha alma tivesse a procurado, e o que estávamos a viver agora era a doce recompensa por tanta sede deste amor que parecia ter vindo de tanto tempo atrás.

Saí do banho e me enrolei numa toalha, tentando ser o mais rápida possível em alcançar uma calça de moletom e uma camiseta velha de mangas compridas; enrolei a toalha em meus cabelos molhados para então me sentar em minha cadeira e fitar com uma pontada de medo e desconfiança o objeto de vidro esverdeado á minha frente.

Com uma certa dificuldade, abri a rolha que vedava o interior do objeto; um estranho sentimento de familiaridade me alcançou enquanto tentava em vão, com a boca da garrafa virada para baixo, retirar dali de dentro o que parecia ser um pedaço de papel, que de certa forma parecia intacto mesmo com o tempo transcorrido estando lançado ao mar. Me dei conta que danificaria o que ali se escondia se persistisse a tentar remove-lo desta forma, então abri a segunda gaveta de minha mesa para então encontrar um estojo preto no qual continha o meu kit rápido de sutura, para emergências. Abri a pequena bolsa e pude encontrar o que precisava; uma pinça longa, que não precisou de mais de dez segundos para trazer para fora o rolinho de papel velho que ali fora guardado.

Percebi que mesmo em meio à noite fria, em minha testa brotavam gotículas de suor provocadas pelo nervosismo que tal tarefa estava a me causar, me sentia quase como em uma cirurgia, só que bem mais nervosa.

O laço de sisal ainda apertado que envolvia o papel marrom claro o fazia parecer um pequeno pergaminho antigo; notei mais tremores como os de mais cedo em minhas mãos ao tocar o laço para desfazê-lo. Fui tirada de meu foco pelo toque de meu telefone sob a minha cama. Larguei o que tinha em mãos e o peguei depressa, com o nó na garganta já pronto. Dinah era quem me ligava.

My EmergencyOnde histórias criam vida. Descubra agora