Chego no local da entrevista, ainda é cedo. Quando entro no prédio e subo no andar vejo uma dezena de pessoas lá também “Tudo bem, Louise. Eles devem estar aqui pra audição de atores”. Eu pego minha bolsa e cutuco um cara na minha frente. Ele é alto e forte.
—Oi, com licença. Você sabe me dizer onde é a entrevista para roteirista?
—É aqui. —ele diz com um olhar esnobe e depois se vira para frente de novo.
—Você tá me dizendo que toda essa gente aqui é só pra ser roteirista?
—Sim. Ou você achou que era exclusiva, docinho?—ele diz de maneira irônica e então eu entro em Pânico.
Deixei meu emprego para vir a essa entrevista e agora a minha chance de conseguir é uma em mil, aqui tem centenas de pessoas. Qual a probabilidade de escolherem justamente a mim?
Minha cabeça começa a rodar e meu coração dispara, tento entender onde é o começo da fila e onde é o final. De repente meu estômago começa a revirar e saio procurando por um banheiro pra não vomitar ali mesmo. Isso sempre acontecia quando eu ficava nervosa demais.
Eu desço no elevador e tento uma porta e depois em outra e depois em outra até achar uma aberta. Até finalmente achar uma sala que parece ter um banheiro.
Quando pego na maçaneta e giro vejo um casal se agarrando em cima de uma mesa. Ela está em cima da mesa e ele em pé, na sua frente. A calcinha da mulher está na altura da joelho e a mão do homem está no meio das pernas dela. Ele tem um dos seios nas mãos enquanto a acaricia com a outra. Quando eles me veem tomam um susto. A mulher grita e sai da sala rapidamente enquanto o homem me olha perplexo.
—O que diabos...? Quem é você? —ele diz descompensado.
—Eu, eu...
—Fala, garota! O gato comeu sua língua? Céus, eu aposto que é uma fã maluca. —ele diz, passando a mão pelo cabelo.
—Fã? Não, eu tava só procurando um banheiro.
—Sei, eu conheço muito bem o seu tipinho. —ele diz me analisando.
—Não estou entendendo. —eu falo confusa.
Ele chega perto de mim, tão perto que consigo olhar no seu rosto, parece muito familiar. Eu sinto sua respiração e então ele diz.
—Se você for alguma jornalista vai se dar mal! Eu coloco os cachorros em cima de você!
—Cachorro? Como assim cachorro? Eu só tava procurando um banheiro, moço. Juro. —eu falo e então ele olha nos meus olhos, parece acreditar no que eu disse.
—Certo. Você sabe quem eu sou?
—Não. Mas seu rosto é familiar.
—Vou fingir que você não me conhece. Em que mundo você vive?
—E você é famoso ou algo do tipo por um acaso? —eu falo na defensiva, já com raiva da situação.
—Sou e muito.
—Que bom pra você. —eu digo já dando as costas para ir de volta a audição e então ele grita.
—Onde você pensa que vai?
—Pra audição ué. —eu digo surpresa.
—Ta vendo como você é mentirosa!
—Eu não vou ficar aqui escutando isso, já escutei coisas demais por hoje.
—Ei, me desculpe. —ele olha nos meus olhos, agora parece um pouco menos bravo. —É que é impossível você fazer a audição pra um filme e não saber quem é o ator principal.
Eu arregalo os olhos surpresa, e então examino seu rosto começando a lembrar de ter visto várias vezes em outdoors e em revistas.
—Ah, minha nossa, você é o Henry?
—Sim, sou. —ele limpa o batom da mulher da boca e agora fica mais claro.
—Desculpa, eu não quis atrapalhar, só estava procurando um banheiro porque eu tenho crise de ansiedade e quando vi toda aquela gente eu me arrependi de ter largado meu emprego e eu sei que aqui em Nova Iorque tem umas dez mil lanchonetes segundo a minha amiga, Sabrina, mas eu realmente vou ter um trabalhão pra achar emprego depois e eu preciso pagar meu aluguel senão vou ter que voltar...
Ele me interrompe.
—Ei, ei. Vai devagar. Você é sempre assim? Sai dizendo tudo da sua vida pro primeiro que conhece?
Eu encolho os ombros com vergonha.
—Não, sabe. Eu só estou muito nervosa.
—Ok. Qual é o seu nome?
—Louise.
—Certo, Louise. Sua audição é pra quê?
—Roteirista—eu digo rapidamente.
—Roteirista é? Eu pensei que você fosse atriz, tem cara de atriz. —ele me analisa de cima a baixo. E então eu o interrompo.
—Eu fiz faculdade de cinema no Kentucky.
—Otimo, uma caipira. —ele ri quase imediatamente.
—Você é sempre assim tão odioso?
Henry parece perceber o quão mal educado foi, então diz.
—Desculpe. Certo, Louise. Você quer ser roteirista e eu posso conseguir isso pra você, mas você não pode falar que me viu com essa mulher aqui.
—E por que? você é casado por acaso?
—Você é muito curiosa, já te disseram isso?
—Sim, já. —eu digo enquanto olho para baixo. Ele recomeça.
—Eu estava dizendo que posso te conseguir esse emprego mas você tem que me prometer que não vai contar que me viu aqui.
—Eu não acho isso certo, sabe?—eu digo olhando nos seus olhos.
Ele fica tenso por um tempo. E depois diz:—É... certo, mas se você não aceitar vou me garantir de você nem se quer fazer a audição.
—Tudo bem então.
—Então temos um trato. Se você quebrar esse trato eu dou um jeito de te demitirem. Não brinque comigo.
—Não vou fazer isso.
—Certo. Agora vá para a audição.
Ele abotoa o restante da camisa e então me olha ir embora. Se ele não fosse tão escroto eu poderia até dizer que ele é a visão do paraíso.
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Aulas Para Uma Virgem - Amanda Plath
Hayran KurguLouise é uma garota ingênua que acabou de se mudar para Nova Iorque na esperança de ser uma roteirista famosa, quando ela se vê apaixonada por um colega de trabalho um dos solteiros mais cobiçados da cidade se oferece para ser seu professor de seduç...