Capitulo 1

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Alexandre Pace estava começando a ficar embravecido. Há cerca de quase uma hora ele havia dito que esperaria sua esposa e seus filhos no carro para finalmente pegarem a estrada. E nada. Era sempre assim, sua esposa e seus filhos procrastinadores arranjavam algo que julgavam importante e os atrasava, pensou Alexandre com amargura enquanto desabotoava o cinto de segurança e descia do carro. Ele esperava que Ana, sua esposa, estivesse tentando enfiar uma imagem de Buda ou uma pedra gigante dentro de uma das malas, mas ao entrar pela porta dos fundos localizada na garagem para a cozinha ficou irritado ao perceber que Ana estava passando as roupas do filho mais velho do casal, Miguel, e sua filha Clarissa raspava uma maçã com uma colher para dar de comer a Rosa, a caçula dos filhos.

— Vocês tão brincando, né? — disse Alexandre — Eu tô esperando vocês no carro há uma hora e você tá passando as roupas do Miguel, a mala dele já não tava pronta?

— Seu filho não sabe arrumar uma mala — disse Ana — Você precisava ver, ele enfiou umas sungas, uns shorts e a escova de dentes dele em uma ecobag e chamou de mala.

— E o que que tem? — ironizou Alexandre enquanto se sentava ao lado de Clarissa — ele não usa mais do que isso quando tá em casa, fiquei até surpreso que ele lembrou da escova de dentes.

Ana ignorou a piada de Alexandre e continuou passando as roupas, e pediu um favor a Clarissa que Alexandre não prestou atenção, e a mesma se levantou da mesa e deu a maçã e a colher a Alexandre para que ele continuasse raspando a maçã para Rosa. Depois de tentar dar mais maçã para Rosa, que virava a cabeça irritada e empurrava a colher, Alexandre decidiu que ela estava satisfeita, deixou a maçã e a colher de lado e voltou a se queixar com Ana.

— Eu não entendo porque vocês sempre complicam tudo antes de sair — disse Alexandre começando a verificar dentro das malas que estavam na cozinha — Miguel já tem dezesseis anos, deveria saber fazer uma mala sozinho e a Rosa já vai fazer três anos, seria mais fácil cortar essa maçã e dar para ela comer sozinha no carro.

— Dá pra parar de ser chato? — Ana estava começando a perder a paciência, não havia nada que a irritasse mais do que ser apressada — Nós não estamos com pressa.

Mas Alexandre estava. Em sua pilha de nervos diária, Alexandre tinha seus motivos para estar tão ansioso.

Quando foi para a cidade de Ceuci para ver o terreno perto da praia que planejava comprar para Ana de aniversário de casamento de doze anos, ele decidiu almoçar antes de pegar a estrada de volta para casa em um tal Bar do Curupira, um bar pequeno e charmoso que ficava poucos metros perto do terreno dos sonhos de Ana. Nele, o barman e dono do bar, que era um simpático senhor que deveria ter por volta de seus sessenta e tantos anos, disse-lhe aos sussurros:

— Quer jogar truco? — disse o senhor quando foi anotar o pedido de Alexandre, e logo o advertiu que se fossem jogar, teria de ser de maneira discreta para que a esposa dele que estava na cozinha não percebesse que estavam apostando — Se você ganhar, pode escolher alguma coisa do cardápio por conta da casa, se eu ganhar, você paga uma rodada de bebida pra todo mundo aqui.

Alexandre aceitou a partida, ele contava que seria rápido. Então o senhor, que Alexandre descobriu que se chamava José Mário chamou os outros três únicos caras que estavam no bar conversando perto do balcão para presenciar.

— Toma cuidado com esse velho — disse um dos caras que era um homem gordo barbudo com um rosto amigável — Ele parece tonto mas é bem ligeiro, sabe jogar.

— Por que você tá ajudando Rick? — perguntou outro cara que Alexandre imaginou ser parente de Rick, pois tirando o fato de ser magro, tinha o rosto idêntico ao dele— Se ele perder vai pagar bebida pra gente.

O Verão dos PaceOnde histórias criam vida. Descubra agora