Capitulo 8

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   Alexandre, Ana e Miguel conduziram Laerte e Lourenço até a porta, e os cinco esperavam Regina descer com as meninas para se despedirem.

O estranho era que momentos antes o tempo estava apenas com poucas nuvens, mas do nada havia começado uma tempestade escandalosa, com direito a ventanias e barulhos estridentes.

   Eles esperaram em silêncio em frente à porta de entrada, exceto pelo barulho da chuva e Lourenço rodando com os dedos as chaves do carro. Regina voltou com as meninas, ajudando Nina para ela não derrubar Rosa, que ainda estava em seu colo. Laerte lançou um olhar feio a Nina quando viu que ela estava com a filha mais nova dos Pace no colo. Miguel estava ao lado de Laerte, se sentindo desconfortável. Miguel nunca havia parado para pensar nisso, mas agora, com esse homem gigantesco e de cara fechada parado ao seu lado,mesmo não sabendo o porquê, ele se deu conta de que com certeza não ia com a cara de Laerte. Clarissa percebeu,como se lesse a mente de seu irmão. Não era segredo para ninguém que Laerte era um homem frio e altivo, mas Clarissa sabia bem que não era esse o problema de Laerte.

  Laerte era um homem cheio de cerimônia, do tipo que tenta ser misterioso ao extremo. Na teoria isso tinha um bom conceito, mas na prática era exagerado.

  Quando Nina chegou com Rosa no colo, Laerte a censurou com o olhar de maneira sútil por ter quebrado uma regra sagrada dos Moriano: serem educados e não mexer em nada que era dos outros. Clarissa não tinha o que reclamar de Laerte, ele sempre a tratara com muito respeito, mas ela parecia ser a única a notar que ele era como um robô.

  Era como se Laerte fosse bom demais para desperdiçar seu tempo, bom demais para relaxar em público, bom demais para gostar de cultura pop, bom demais para faltar com a etiqueta, bom demais para demonstrar suas emoções, bom demais para dar qualquer detalhe que fosse de sua vida pessoal.

  Tinha todo uma cerimônia ao redor do mistério de Laerte Moriano, mas Clarissa parecia ser a única a notar que ele era oco.

Nina obedeceu o olhar de censura de seu pai e deixou Rosa no colo de Clarissa. Ana tomou a palavra e explicou para as meninas:

   — Então meninas, eu conversei com o senhor Moriano, e a Clarissa não vai ir pra Aspen— contou Ana buscando a reação das meninas, que como imaginado, não era das melhores— Mas eu convidei a Nina para ir alguns dias antes do seu aniversário, filha. Eu vou combinar com o senhor Moriano direitinho depois.

  Com Regina, na verdade.

— Obrigada mãe— disse Clarissa um pouco mais otimista. Não era o bem o que ela queria, mas era melhor que nada.

   Nina não estava nem de longe tão contente quanto Clarissa, ela não fazia ideia de como seria sua viagem agora. Se ela soubesse que não tinha chance de Clarissa ir, teria chamado Bruna ou Luna, agora era em cima da hora. Ela estava com raiva, seu pai com certeza não tinha se esforçado o suficiente para convencer os pais de Clarissa.

  A namorada nova de seu pai, Nathalie, tinha vinte anos de idade e parecia depender dos pais até para atravessar a rua. Os pais dela não queriam permitir a ida dela à Aspen, mas Laerte fez todo o possível para convencê-los a deixá-la ir.  Mandou Lourenço conversar com eles, ligou para o pai dela e chegou a ir pessoalmente conversar com os dois. Nina escutou a conversa do seu pai pelo telefone. Eles estavam no escritório da mansão, e ela fingia estar entretida com um exemplar de Persuasão de Jane Austen.

  Ele passou um bom tempo conversando com o pai de Nathalie, Nina já até havia esquecido, mas ela sentiu ciúmes do quanto seu pai se empenhara em argumentar com ele. Ele nunca se empenhara assim para nada relacionado a ela.

   O ciúmes que ela sentiu de Nathalie naquele momento voltou com tudo. Ela não era nem de longe a namorada mais bonita que seu pai já tivera, não era a mais inteligente e também não era a mais talentosa. Não era nem a que seu pai mais havia gostado, mas mesmo assim parecia que ele a estimava mais do que ela.

O Verão dos PaceOnde histórias criam vida. Descubra agora