Bárbara Pace desencostou a porta do quarto de hóspedes de Liliana onde Clarissa dormia, com cuidado para não acorda-la. Sentou-se ao lado de Clarissa na cama e pôs a mão em sua testa para sentir sua temperatura, temia que a sobrinha estivesse com febre como Rosa estivera horas atrás. Clarissa acordou em um pulo, e Bárbara acendeu o abajur rápido para ela ver que era ela.—Tia?— assustou-se Clarissa— Cadê a Rosa?
— Ela acabou de acordar, tá lá embaixo com o tio Bruno e o vô.
— E meus pais e o Miguel?
— Seus pais e o Miguel estão se recuperando de uma cirurgia, talvez amanhã nos deixem visita-los.
— Mas o que que eles tiveram exatamente?
Não era uma boa ideia perguntar isso para Bárbara, ela não era sutil para poupar informações, nem se tentasse muito. Mas Clarissa precisava saber.
—Sua mãe teve uma laceração no estômago e seu pai no fígado, não foram profundas. Seu pai também teve Pneumotórax Traumático contuso, que é comum em acidentes de carro. As cirurgias dos dois foram muito bem. O Miguel tava sem cinto, o estado dele é um pouco mais grave. Ele quebrou alguns dentes, teve fraturas simples nas costelas e uma lesão na medula espinal. Não acredito em milagres, mas só isso explica a lesão não ter sido muito pior.
Em um silêncio arrebatador, Clarissa processou as novas informações. Bárbara não era o melhor tipo de pessoa para consolar alguém com palavras, muitas vezes era do pior. Então apenas a abraçou para não piorar sua situação, tirou seu carregador do bolso e entregou a Clarissa para que ela carregasse seu celular, lhe recomendando para não usar as redes sociais por enquanto, apenas usasse para tranquilizar seus amigos. Clarissa agradeceu e acrescentou:
— A Rosa também tava sem cinto, o dela tá quebrado e eu não tava conseguindo fechar. Eu dei um jeito de segurar ela na hora que o carro saiu da pista, nem sei como.
— A adrenalina deixa a gente com mais força, e deixa a gente muito mais rápido também. Já vi um caso de uma mulher que levantou um carro pra tirar o filho preso de baixo.
Para mudar de assunto, Bárbara lembrou-se da cachorra. Talvez isso desse um bom jeito de mudar sem ser insensível.
— Você já escolheu o nome da cachorra?
— Minha mãe não vai me deixar ficar com ela. Trouxe ela de lá porque fiquei com medo de pisotearem ela ou alguma coisa do tipo. Hoje mesmo vou procurar um canil pra ela.
— Não se preocupa com isso, se sua mãe não deixar eu fico com ela pra você, e você pode visitar ela quando quiser. E quero que você escolha um nome pra ela.
Com um sorriso amarelo, Clarissa agradeceu Bárbara. Logo em seguida viu sua própria imagem no espelho em cima da cômoda em frente a cama. Estava parecida com Carrie White no baile de primavera, seu pescoço, seu cropped e seus cabelos estavam melados com sangue seco. Como Liliana havia deixado ela deitar na cama daquele jeito? A fronha e os lençóis tinham manchas de sangue, se fizesse isso em seu quarto, Ana não a deixaria esquecer pelo resto de sua vida. Levantou-se da cama mancando, estava com dor por todo o corpo, então pôs-se em frente ao espelho para se ver melhor. Havia cortado a testa, Clarissa sabia que esse local costuma sangrar muito ao cortar, mas não tanto assim.
Seu short jeans estava com um rombo no lugar que antes era apenas um rasgo estético, e suas roupas estavam com barro, carrapichos e folhas de grama seca.
—Você quer tomar um banho?— perguntou Bárbara diante da cena da sobrinha horrorizada em frente ao espelho— A Liliana disse que tem ervas na gaveta do banheiro. Não pode molhar a cabeça.
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O Verão dos Pace
Teen FictionAna Clementina Rinaldi Pace sempre sonhou em ter uma bela casa de férias na pequena cidade histórica de Ceuci, lar das mais diversas religiões e lendas tradicionais como sereias, bruxas, lobisomens e até mesmo das não tão tradicionais assim. Em seu...