••••• Alerta de Gatilho: cenas sensíveis•••••O espaço fora da pista que os Pace bateram era íngrime, e o carro capotou direto para a mata aos redores.
A descida pareceu durar milhões de minutos, tanto que o reflexo de Clarissa de agarrar Rosa e protegê-la do impacto sequer pareceu um reflexo. O som de Ana gritando por seus filhos conseguia ser mais alto que o barulho do impacto do carro, Alexandre e Miguel logo desacordaram e Clarissa parecia travada, parecia para ela que o carro capotava em câmera lenta. Ela conseguiu segurar Rosa pela cintura com a força de um leão, mas não conseguiu esboçar qualquer outra reação ou responder sua mãe lhe chamando.
Quando o carro finalmente terminou de descer, Clarissa continuou travada sem saber o que fazer. Ela chamou o nome de cada um, e ninguém além de Rosa que chorava desesperada a respondeu. Ela sabia que não podia ficar carro, mas era difícil deixá-lo, sentia que estaria abandonando Miguel e seus pais se fizesse isso.
Com um impulso de coragem, Clarissa se soltou do cinto de segurança e caiu junto com Rosa. Ela desceu do carro em estado de choque, sem conseguir soltar Rosa e sem saber por onde começar. Começou soltando Rosa e examinando se ela tinha algum ferimento. Ela levantou seu vestido e se chocou com os hematomas e marcas de unha que havia deixado nela ao segura-la.
Quanto a si mesma, sentia sangue escorrer pelo seu rosto e seus cabelos, mas imaginou que poderia não ser nada demais porque não sentia dor.
O próximo passo era conseguir ajuda. Seu celular ficara dentro do carro, e Clarissa temia que o carro explodisse como nos filmes enquanto o buscasse. Foi rápido ao convencer-se que aquilo era apenas ficção e pôs-se a procurar. Rosa gritava desesperada para Clarissa não voltar ao carro e a puxava. Ela ignorou a irmã com o coração apertado e entrou parcialmente no carro para procurá-lo e o sentiu embaixo do banco de sua mãe, estava difícil de alcançar, ela apenas sentira sua capinha de silicone com o dedo médio.
Ela sentiu medo de abrir a porta do passageiro onde sua mãe estava e ela cair, Clarissa sabia que em acidentes não era prudente mover ninguém do lugar porque o risco de piorar o estado da vítima era mais que provável. Então esgueirou-se o quanto pôde para alcançá-lo.
Foi difícil, mais de uma vez Clarissa teve que sair do carro para tomar um ar porque passava mal com a cena de sua família desacordada. Rosa ainda gritava e a puxava, e Clarissa a rechaçava para que ela se afastasse do carro.
Como se a situação não pudesse piorar, ela sentiu um animal farejando seus pés. Com medo de que fosse uma ratazana ou um lobo-guará, por impulso berrou desesperada.
Era a cadela grávida da pista. Clarissa fez um breve carinho em sua cabeça se perguntando como ela havia chegado lá. Ela havia descido aquela ladeira com essa barriga enorme?
Com certeza era chocante, mas Clarissa resolveu apenas ser grata que a cadela havia sobrevivido. Finalmente, conseguiu alcançar seu celular. Ele estava com a película completamente quebrada, então retirou-a para conseguir digitar, ligou para uma ambulância e explicou sua situação com sua ansiedade a mil por hora, e a atendente não a ajudava com suas inúmeras perguntas. Provavelmente no início da ligação ela pensara que era um trote de algum desocupado que decidiu atazana-los inventando que Alexandre Pace havia sofrido um acidente.
Eles chegaram em duas ambulâncias e uma viatura.
(E saíram entre muitos cochichos e empolgação velada por terem participado do socorro de um dos jornalistas mais famosos do Brasil).
Uma mulher de uniforme da polícia militar com uma sobrancelha mal feita marcada com rena afastou Clarissa da cena do acidente. Clarissa estava com a cadela em seu colo, ela era mansa e estava a acalmando mais do que qualquer adulto que conversou nas últimas horas. A mulher, que apresentou-se como Ana Claudia, lhe ofereceu água com açúcar e pediu para que uma enfermeira as acompanhasse.
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O Verão dos Pace
Teen FictionAna Clementina Rinaldi Pace sempre sonhou em ter uma bela casa de férias na pequena cidade histórica de Ceuci, lar das mais diversas religiões e lendas tradicionais como sereias, bruxas, lobisomens e até mesmo das não tão tradicionais assim. Em seu...