A presença de Sandra aborrecia Elsa profundamente. Elsa era do tipo que gostava mais que tudo estar no comando, de ter o controle. Mas não sabia se impor para tê-lo, as pessoas naturalmente lhe davam por ela ser mais velha.
Bem ao contrário de Sandra, que era tão imponente que tomava a liderança do jeito mais espaçoso possível e ninguém lhe questionava. Desde que Sandra pisou na casa, decidiu quais seriam as refeições, refez as rotinas de limpeza da casa e projetou o que fariam para ajudar Ana e Alexandre com Miguel e as meninas.
A gota d'água veio bem antes do que Elsa imaginava. Na noite anterior, Olímpia queria assistir a um filme que passaria tarde da noite, Elsa estava morrendo de sono e insistia para que Olímpia fosse dormir logo.
— Pode deixar Elsa, quando sua mãe quiser dormir eu levo ela pro quarto— ofereceu Sandra.
Na manhã seguinte quando acordou, Sandra, Olímpia e Luciano estavam jogando truco na mesa da cozinha. Com excessão de Rosa, Luciano e Olímpia, todos estavam meio bêbados. Alicia estava batendo um bolo e Bárbara estava conversando com Ana por ligação.
— O que é isso?— perguntou Elsa chocada arrancando a taça de vinho que estava na mão de Olímpia— Passou um furacão por essa cozinha?
— Pai, a Ana quer falar com a Clarissa— interrompeu Bárbara dando o celular para Luciano.
Luciano deu um olhar para Sandra como se dissesse "resolve isso aí" e subiu com Rosa para dar o celular para Clarissa.
— A gente acabou se empolgando um pouco, não foi nada demais.
—Nada demais? Vocês sequer dormiram?— perguntou Elsa recolhendo os potes de amendoim e as garrafas de vinho vazias.
— A gente dormiu depois do filme e acordou as quatro, aí a gente resolveu jogar truco e...
— Encher a cara— desdenhou Elsa— mãe você é adulta, você sabe que não pode misturar seus remédios com bebida.
—Disse bem. Eu sou adulta.
Era insuportável para Olímpia como parecia que todos ao tinham dimensão do que era estar para morrer e ao mesmo tempo não tinham. Ao mesmo tempo Elsa havia redobrado os cuidados com ela, agia como se ela já estivesse morta.
Ela até entendia o lado de Elsa, mas cacete, era tão impossível assim de entender que se ela tomou aquela mísera taça do vinho caro que Alicia trouxe dos Estados Unidos ela tomou consciente das consequências?
Não era só isso. Se Elsa estivesse a tratando como criança estava de bom tamanho, mas Elsa assumiu o papel de mãe ciumenta de um recém nascido com Olímpia. Ela reparou os olhares enciumados da filha quando Alicia, Sandra,Bárbara e Liliana lhe ofereciam ajuda. E nem tinha como não reparar.
E não havia ninguém com quem pudesse desabafar. Ela amava Elsa e era grata pelos cuidados. Mas apesar de toda a empatia que recebia, ninguém a entendia de verdade. Ela era censurada quando falava de morte, reclamava, fazia uma piada auto-depreciativa, quando era sarcástica e até mesmo quando falava um palavrão, todos estavam claramente aflitos com sua morte, mas não podiam falar em voz alta e só restava fingir que eram otimistas e que não pensavam nisso, quando claramente não havia um segundo em que não pensassem.
Esperar para morrer nunca era igual para todos, mas uma coisa Olímpia tinha certeza que era: o famoso filme da vida que todos diziam que viam quando estavam a minutos de morrer se transformava em um desses seriados longos que os produtores não tinham coragem de finalizar.
E o seriado de Olímpia não era dos melhores, ela queria que cancelassem logo e fingissem que nunca aconteceu.
Enquanto Olímpia esperava Elsa terminar de dar o sermão, Luciano desceu com as meninas, fazendo sinal pelas costas de Clarissa que ela já sabia. Bárbara pediu para Clarissa se sentar com ela no sofá de dois lugares diferente da sala, era um balanço.
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O Verão dos Pace
JugendliteraturAna Clementina Rinaldi Pace sempre sonhou em ter uma bela casa de férias na pequena cidade histórica de Ceuci, lar das mais diversas religiões e lendas tradicionais como sereias, bruxas, lobisomens e até mesmo das não tão tradicionais assim. Em seu...