Capitulo 6

51 11 55
                                    

Laerte já havia visto os Pace algumas vezes. Ele sabia que Nina e Clarissa eram grandes amigas há anos, tanto que ela fizera companhia para Nina em algumas viagens de férias. Na opinião de Laerte, os Pace eram responsáveis e agradáveis, pois sempre se certificaram e fizeram questão de conhecer a família de Laerte antes de permitir a filha a ir em viagens ou passar a noite em sua casa com Nina.

  Eles haviam jantado juntos algumas vezes para conversar sobre Clarissa, e Laerte sempre soube que Ana era um tanto quanto alternativa, digamos assim.

   Ele também sabia que ela era a psicóloga do colégio em que Nina e Clarissa estudavam. Ele sempre viu Ana com saias estampadas enormes, muitas pulseiras para um braço só e certa vez viu a sala de Ana no colégio, que tinha um cheiro forte e nauseante de incenso e o excesso de plantas fazia com que parecesse uma selva.

   Laerte sabia que Ana tinha um estilo hippie. Mas nada o preparara o suficiente para ver como era a casa dos Pace.

  O cheiro forte de incenso persistia, e Laerte não fazia ideia de como os Pace ainda não haviam morrido sufocados. Imagens espirituais de tudo quanto é tipo de religiões, estavam por todos os lados, e vulgarmente, dava para ver que Ana era do tipo extremo de fãs de mitologia.

Cristais estavam por todos os lados, e Regina, que estava logo atrás dele com Nina e Lourenço, derrubou uma cesta cheia deles, que felizmente não quebraram. E se a sala de terapia de Ana parecia uma selva, a casa dela era outro patamar, parecia a floresta Amazônica.

  Laerte se considerava ateu, e não via problema algum nas pessoas escolherem suas religiões, com tanto que realmente escolhessem. Ana estava muito longe de ter escolhido, visto as imagens de Buda, orixás, Jesus Cristo, Ganesha e mais várias outras que Laerte não conseguiu reconhecer.

  Ele estava sendo educado e disfarçando sua surpresa com o excesso de informações da casa, mas realmente estava sendo difícil. Ele, Nina e os funcionários foram recebidos por Alexandre, que gentilmente os convidaram para a sala de jantar para tomar um café.

A sala de jantar era um pouco mais normal, tinha um cheiro menos forte de incenso que o resto da casa, e apesar de ter bastante flores, não era uma poluição visual.

Clarissa estava sentada na ponta da mesa, Nina sentou-se do lado da amiga e a deu um abraço apertado, como se não se vissem há anos.

   Ana entrou na sala com o filho mais velho do casal que estava com o cabelo molhado como se tivesse acabado de tomar banho, Ana convidou todos a sentarem e se servirem.

A mesa estava posta com café, chá,suco de laranja ,um bolo de cenoura, pães, frios, roscas e frutas. Laerte e Lourenço aceitaram o café, e Regina e Nina se serviram com o suco.

Miguel pegou uma maçã da fruteira, e a mordeu enquanto observava Nina e Clarissa cochichando cheias de segredos. Ele se enganara. Com certeza sua irmã sabia o porquê o pai de Nina queria conversar com seus pais.

Antes que Laerte pudesse falar alguma coisa, Lourenço reparou na vara de pesca no canto da sala de jantar e perguntou a Alexandre se ele pescava. Ele respondeu que sim, e quando Laerte viu, Lourenço e Alexandre estavam engajados numa conversa de iscas, pontos de pesca e espécies de peixes.

Enquanto esperava Lourenço e Alexandre encerrarem a conversa, Nina perguntou para Laerte se ela podia subir para o quarto de Clarissa. Ele respondeu que podia e as meninas saíram da sala de jantar conversando e dando risadinhas.

Laerte escutou Alexandre dizendo a Lourenço que ele tinha uma casa na praia que tinha um lago em cerca de um quilômetro de distância, e que ele já ouvira inúmeras histórias fantasiosas de pescadores por lá. Ele amaldiçoou Nina quando Ana disse que eles iriam para a casa de praia no mesmo dia. Ela sabia que Clarissa tinha outros planos e o fez incomodar os Pace em cima da hora.

Isso com certeza era um castigo por ter sido descuidado com seu notebook.

Laerte entrou na conversa e disse que era sobre isso que ele queria falar, amaldiçoando Nina ainda mais por fazê-lo ser tão invasivo.

Todos o olharam esperando ele se explicar, ele deu um gole no café e escolheu bem suas palavras:

— Nina me pediu para convidar a Clarissa para ir para Aspen com a gente— disse Laerte como se arrancasse um band-aid— Se vocês permitirem, ela irá no avião particular com a gente, e como sempre eu e Regina vamos estar de olho nelas o tempo todo.

Mas é claro que estariam.

Laerte observou a reação neutra dos Pace, eram educados demais para reagir conforme a situação. Ele terminou sua xícara de café em um gole e continuou:

— Serão apenas duas semanas. Lourenço e Nina vão deixá-la na casa de praia de vocês assim que ela pisar novamente no Brasil.

—Olha, nós até deixaríamos ela ir com vocês, mas dessa vez ela não vai dar — respondeu Ana — Minha vó está em seus últimos dias de vida, e eu gostaria que a Clarissa ficasse o máximo possível com ela e com a gente na casa de praia.

Laerte ardeu de constrangimento. Não é que a situação dava para piorar?

—Entendo, tudo bem, desejo uma ótima viagem para vocês.

— Claro, muito obrigado pelo convite— respondeu Alexandre — Mas diga a Nina que a Clarissa vai debutar daqui a algumas semanas, e a festa será lá. Enviaremos o convite para ela.

Laerte estava pronto para se despedir, quando Miguel teve uma ideia para ajudar sua irmã.

— Mas a Nina também pode ir um pouco antes da festa da Clarissa, ela vai precisar de alguém para ajudar ela com o aniversário.

— Elas vão adorar, se a Nina quiser ir antes, está mais que convidada — animou-se Ana.

— Obrigado, vou avisa-la senhora Pace— disse Laerte.

Ele esperou Lourenço terminar de comer a rosca polvilhada de açúcar que ele tinha se servido e pediu para Regina chamar Nina.

O Verão dos PaceOnde histórias criam vida. Descubra agora