Capitulo 17

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Um certo dia em que Alexandre jogava sinuca no Bar do Curupira, José Mário mencionou ter uma filha enfermeira, que trabalhava em um hospital próximo a cidade. Ao acordar da cirurgia, Alexandre se lembrou disso em algum momento, e as peças que juntou indicavam que ela trabalhava neste mesmo hospital.

Ele não esperava encontrá-la, o hospital era bem grande, e se acaso a encontrasse, imaginava que ela seria alta, teria olhos meio esbugalhados e a cara fechada como seu irmão Antônio.

Por coincidência, ela era uma das enfermeiras que cuidavam de Ana, ele a reconheceu pelo sobrenome de José Mário, "Guaitoli". Mas ela era baixa, tinha olhos bem escuros e pequenos e um semblante bem mais agradável do que pensara. Era bonita.

Alexandre ouviu Ana chamando-a de Mayla. Ele tentava disfarçar, mas por algum motivo, não conseguia parar de reparar nela. Ela possuía uma tatuagem de uma figueira na panturrilha, usava muitas pulseiras, e era muito simpática com Ana, a chamava de "minha paciente favorita". Mayla percebeu os olhares curiosos de Alexandre, ele envergonhado com a indiscrição lhe disse que era amigo de seu pai, e que ela se parecia muito com a mãe. Instigada, Mayla uma dada hora o chamou para tomar café em uma cantina do hospital.

— Não a principal, esta outra é mais privada, é só seguir a linha azul— disse ela sorrindo.

Apesar de ser jornalista, Alexandre não era perspicaz em perceber as intenções das pessoas rapidamente. Ele pensou que toda essa discrição era para evitar que o reconhecessem com facilidade enquanto conversavam sobre a saúde de Ana, só percebeu que era um convite com segundas intenções quando a encontrou cheia de flertes e risadas na tal cafeteria.

— Então, como você conheceu meu pai?— perguntou ela de um jeito caloroso assim que o viu.

Ele respondeu a pergunta, apesar de acostumado com mulheres muito mais bonitas dando em cima dele, alguma coisa em Mayla o atraía, ele não estava desconfortável com ela, pois via nela algo de familiar, que pensou ser o fato dela ser filha de um grande amigo.

Em geral, Alexandre sempre costumava se afastar desse tipo de situação, e sabia que deveria começar a se esquivar dela em alguma momento, mas suas maneiras espontâneas, suas conversas sobre essa infância diferente na cidade de Ceuci e o carisma com que contava aventuras de sua época de faculdade o prendiam.

Uma ligação o desprendeu, era de Sandra. Ele pediu licença para Mayla para atender, ela assentiu e ao se lembrar que tinha esposa, se despediu dela e se afastou o mais rápido que pôde da cafeteria.

— Você não sabe como a Clarissa tá estranha filho— começou Sandra— Não quer comer, só quer saber de ficar no quarto. Ontem depois que ficou sabendo do Miguel, cismou que queria dar uma volta na praia e voltou nove horas depois com um galo enorme na testa. Quando decide sair desse quarto essa menina vem e me some, eu tô preocupada.

— E você só me avisa isso agora?— perguntou Alexandre indignado.

— Ai filho, já tá tudo tão difícil aí, a Ana já tá sofrendo muito, se ela soubesse disso ia ficar pior ainda. E de qualquer forma, eu tô te avisando agora, não tô?

— Ela tá dormindo agora?— perguntou Alexandre— Se tiver acordada eu quero falar com ela.

— Ela tá enfurnada naquele quarto, tá acordada, sei disso porque uma hora atrás pedi pra Alicia levar um misto quente pra ela e ela me disse que a Clarissa tava lendo.

Antes que Alexandre pudesse dizer alguma coisa, escutou Sandra abrindo uma porta e conversando com Clarissa para que ela pegasse o celular. Quando Clarissa atendeu, Alexandre tentou jogar um verde para ver o que ela tinha, parecia que era uma melancolia comum para casos como o que ela passara, mas para ter certeza, pediu que Sandra a trouxesse para o hospital para vê-la, mesmo que Ana tivesse dito que não queria ela envolta nesse ambiente por agora.

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