Capitulo 18

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   Havia uma semana que Ana e Alexandre tiveram alta do hospital, e tudo parecia sensível. Ana passava os dias no hospital para acompanhar Miguel, e Alexandre não perdia nenhuma oportunidade de beber para afogar as mágoas. Bebia no Bar do Curupira pela parte da manhã, passava as tardes nas espreguiçadeiras da piscina tomando inúmeras garrafas de vinho e ia dormir tomando uísque ou conhaque.

  Bárbara passara a semana alternando entre fazer companhia para Alexandre de tarde, brigar com Bruno por ligação e levar os cachorros para passear. Elsa ainda estava furiosa e dava alfinetadas tão sutis em Sandra que apenas quem a conhecia bem sabia que eram alfinetadas, e as alfinetadas que dava em Alexandre para descontar a raiva que nutria de sua mãe eram bem mais diretas, era mais fácil, ele não era reativo como ela.

  Como sempre, uma agulha fora do lugar era o suficiente para Luciano e Sandra entrarem e guerra, mas tentando não piorar a situação da casa, os dois brigavam aos cochichos e com alfinetadas passivas agressivas como se ninguém percebesse. Ninguém nunca sabia como as brigas começavam, mas não tinha como não saber como terminavam. Só nesta semana, Sandra havia "acidentalmente" pousado uma travessa de lasanha quente nas mãos de Luciano e dito na frente de toda a família e de Liliana que seu maior arrependimento era não ter se casado com um antigo namorado de sabe se lá quantas décadas atrás. Luciano revidara pescando quilos de peixes para ela limpar escamas, espinhos e tripas e dando em cima da senhora do caixa do supermercado na frente dela.

  Alicia, Clarissa e Rosa resolveram explorar a cidade para se distraírem te toda essa confusão velada e encontraram uma espécie de loja de souvenirs que também era uma cafeteria. Se chamava "O Louco", inspirada no arcano do tarot. Qualquer um com bom olho conseguia ver que era uma armadilha perfeita para turistas deslumbrados. O casal de donos sensacionalistas, Nena e Júlio tinham um talento especial para inventarem histórias, o que fazia com que ninguém conseguisse sair da loja sem levar pelo menos um ímã de geladeira.

  Essas coisas ganharam Clarissa na hora. Ela adorava filmes e livros de terror e todos os artigos vendidos na loja eram nesse estilo. Também era uma fã assídua de teorias da conspiração que lá tinha aos montes, apesar de não acreditar em grande parte, ela sem exagero conhecia dezenas e poderia passar horas falando sobre se alguém lhe desse corda. Alicia não compartilhava dos mesmos gostos peculiares da sobrinha, mas a ótima comida da cafeteria fazia com que ela topasse em frequentar.

  Mas uma coisa que com certeza as duas compartilhavam era a admiração pela astúcia dos donos em inventar macacos curandeiros, mulheres místicas maravilhosas que se você as olhasse por mais de quinze segundos ficaria cego com sua beleza, espécies de peixes marqueses, condes, viscondes e barões que habitavam o reino das sereias, exposições de fotos de flagras de licantropos, teatros de fantoches de seres místicos para crianças, proteções para vampiros que na teoria viviam aos arredores, figurinhas colecionáveis de demônios e entre muitas outras invencionices.

  Qualquer pessoa que tivesse esse dom e capricho para a trambicagem merecia sim um quê de admiração.

  Clarissa descobriu que Iris,a filha de Liliana,  trabalhava como garçonete na cafeteria, e as duas sempre se cumprimentavam e tinham breves conversas que se resumiam a elogiar as roupas e os acessórios uma da outra.

Era um ambiente mais que agradável, Clarissa criou uma rotina que consistia em chegar no meio da manhã com Alicia e Rosa e tomar cappuccino enquanto dividia um doce com a tia, depois voltar para casa para almoçar e lá para as duas da tarde Clarissa retornava sozinha para escolher músicas para Miguel, ler, conversar com Paige pelo notebook antigo que seu pai lhe dera após o seu ter estragado no acidente e ocasionalmente ouvir as fofocas que Luna tinha para lhe contar no fim da tarde.

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