— Ela não quer entrar em um carro de jeito nenhum— explicou Sandra— Insiste que quer descer essa montanha a pé.
— Como assim a pé?— indagou Bárbara.
O que? Clarissa queria mesmo descer uma montanha inteira a pé?
— Aparentemente tem um caminho de nove quilômetros aqui que uns vinte gatos pingados de turistas por ano usam pra fazer trilha.
— Faz um esforço vai mãe, ela tá traumatizada e você faz caminhada todo dia, não deve ser tão diferente.
— Não é esse o problema, eu tenho medo de ter bandido — ofendeu-se Sandra por sua filha pensar que o problema era andar nove quilômetros.
Ela quase se gabou dizendo que era como uma atleta e andaria dezoito sem reclamar, mas sabia que a filha riria de sua cara.
— Mas que bandido vai inventar de subir e descer uma trilha de nove quilômetros pra testar a sorte de achar um mochileiro? — perguntou Bárbara.
Concentrada demais em convencer sua filha a ajudá-la com Clarissa, Sandra só reparou que ela havia descido de um carro diferente do dela quando sentiu cheiro de cigarro e achou que vinha de Bruno, pensou que ele havia voltado a fumar e correu para lhe dar uma bronca. Se deparou com Lola Labres fumando distraída, e olhou para Bárbara como se perguntasse o que diabos havia acontecido.
— O babaca do seu filho pegou o meu carro escondido pra ir transar com a mulher da luz.
— Mulher da luz?— vociferou Sandra fechando os dedos em sua testa para digerir o absurdo.
— A mulher que trabalhou iluminando a entrevista. Ele saiu de fininho enquanto eu conversava com a Lola e com o câmera e só se deu ao trabalho de me mandar isso— contou Bárbara erguendo seu celular para mostrar para Sandra a mensagem que dizia "Vou levar a Giselle pra almoçar e já já volto com seu carro, é rapidinho".
— Eu vou matar esse moleque.— ameaçou Sandra pegando o celular de Bárbara para ligar para Bruno.
Bruno atendeu com uma grosseria por Bárbara ter ligado tantas vezes e disse que já estava pronto para ir, Sandra o mandou encostar o carro para receber a bronca com o mesmo tom que usava quando daria uma surra nos filhos quando eram crianças.
Havia um déjà-vu envolvido, quando Bruno tinha dezenove anos, pegou o carro de Sandra para ir à uma festa com alguns amigos no dia exato que ela estava com hora marcada para fazer as unhas. O amigo menos bêbado de Bruno que voltou dirigindo o carro atropelou um garoto de treze anos, resultando em duas pernas quebradas e um pára-choque destruído que o seguro não cobriu.
Satisfeita como uma criança, Bárbara assistiu os gritos de Sandra que diziam que Bruno pensava com a cabeça de baixo, que era um imaturo egoísta e sem educação. Era isso que as pessoas queriam transmitir quando diziam ter a alma lavada. Sandra disse por fim que se não visse o carro de Bárbara em duas horas Bruno iria apanhar quando como era criança, desligou o celular e disse à Bárbara para não se preocupar porque logo Bruno chegaria com seu carro e lhe pediria desculpas.
—Agora voltando ao assunto da trilha, pode até ser que não tenha bandido, mas nós duas estamos de salto, não encontrei tênis quando fui comprar roupas pras meninas hoje cedo.
— Eu te dou o meu tênis— ofereceu Lola entrando de repente na conversa— Tenho um reserva no porta-malas, deve te servir.
Sem jeito, Sandra olhou para Bárbara perguntando o que fazer. Bárbara pediu para ela fazer esse esforço por Clarissa, disse que ela a conhecia bem e ela nunca pedia nada para ninguém, então devia ser importante, então Sandra aceitou o tênis, era um número maior mas parecia dar para usar. Ela gritou pelas meninas, as duas vieram com Liliana e a vira-lata grávida numa coleira e ficaram boquiabertas com a presença de Lola e foram cumprimenta-la. Clarissa ficou tímida, mas acompanhou Liliana para ser educada.
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O Verão dos Pace
Teen FictionAna Clementina Rinaldi Pace sempre sonhou em ter uma bela casa de férias na pequena cidade histórica de Ceuci, lar das mais diversas religiões e lendas tradicionais como sereias, bruxas, lobisomens e até mesmo das não tão tradicionais assim. Em seu...