Black Beauty

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Enid não voltou pra casa naquele dia, não voltou naquela noite, ela não voltou nem mesmo nos dias seguintes, estava com medo, medo de encarar Wednesday, medo de estragar tudo de novo, tinha sido completamente exposta, cada desejo e vontade mórbida de sua mente tinha sido desvendada, estava envergonhada mesmo sabendo que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria, mas tinha que superar, lidar com aquilo tudo, com o peso de suas escolhas e consciência, ela tinha que aprender a se apoiar sozinha. Morar com Wednesday de fato era aconchegante já estava se acostumando a acordar rodeada pelo cheiro dela, com os olhos negros a encarando com tanta intensidade que parecia que iria queimá-la viva, com as paredes escuras e o silencio que inconscientemente a davam gatilho, mas a partir do momento em que aquilo colocou em risco o bem estar da pessoa que amava não pode continuar. Sabia que Wednesday também apreciava a sua companhia, que talvez ela nunca admitisse mas também sentiria o peso daquela separação, e céus torcia para que sim, torcia para que Wednesday sentisse o mesmo que ela sentia.

Os dias se passaram rápidos e só podia agradecer por sua compatriota Parker ter lhe cedido o sofá de sua casa nas noites frias já que não tinha dinheiro para investir em algum aluguel ou sequer movéis para isso. Seus benefícios de veterana estavam retidos e só poderia retirar se comprovasse que não estava mais apta a retornar se caso a convocassem de novo, agora não era só uma questão de estar mal, ela TINHA que estar. O sistema era uma piada e queria que ele fizesse parte do show, mas ela não faria, não perderia pelo cansaço e lutaria pelos seus direitos, jamais voltaria para aquele inferno novamente.

As primeiras semanas foram as mais difíceis, tudo havia se potencializado todo seu trauma misturado com frustração, a impotência de não conseguir um emprego fixo, e mais ainda a falta de Wednesday. As noites quando se estreitava no pequeno sofá da sala se virava para o lado e agarrava a manta que Bethany havia separado para seu uso, sentindo falta do corpo pequeno que a aquecia todas as noites, então chorava quase a noite inteira adormecendo por exaustão poucas horas antes do sol raiar e tentar outro dia mais uma vez. Não tinha palavras para agradecer Parker pelo suporte. E os dias correram assim...

Todo dia era uma briga diferente entre Parker e sua esposa Bethany, não havia paz no café da manhã, ainda que saísse a maioria dos dias e ficasse fora fazendo bico de segurança que Parker arrumou para ela, quando voltava as duas não tinha paz nem no jantar. Conseguia ver claramente o estado de confusão mental da amiga, Bethany não entendia Parker e Parker não entendia o porque ela não entendia, a loira sempre gritava que Parker sequer falava com ela, como ela poderia entender se não se comunicavam? E Parker gritava de volta que ela não entenderia de qualquer jeito, e ela tinha razão, Bethany não entenderia, era algo difícil de entender e que ninguém sabia explicar, então ficava por isso mesmo. Alguns dias eram intensos, Parker sem motivo aparente amanhecia empenhada em quebrar toda a casa, a impediu algumas vezes até mesmo da amiga descontar essa fúria em Bethany, dias assim fazia a loira gritar e chorar histericamente correndo para casa da mãe dela, tentava falar com Parker de como aquilo estava se tornando absurdamente tóxico para o relacionamento dela, mas ruiva só ficava mais transtornada e se recusava a conversar sobre o assunto. Algumas vezes tudo amanhecia em paz, conseguia ouvir as risadinhas pela casa, os olhares apaixonados, Parker fazendo de tudo para agradar a esposa que sorria bobamente para ela, eram dias assim que afirmavam seus sentimentos e planejavam o futuro, com os 5 filhos hipotéticos que teriam e fazia Bethany gargalhar. Certa vez chegou e ambas estavam valsando no meio da sala com Parker cantarolando uma música lenta, e verbalizando como a amava, como eternas namoradas, sorriu com a cena jamais tinha imaginado uma Parker romântica. E eram dias assim que deixavam Bethany mais triste, conseguia ver ela se ocupando com os deveres de casa e chorando ressentida pelos cantos, ao questionar se ela estava bem a loira acabou confessando que momentos como aquele a fazia lembrar de como tudo era antes de Parker ingressar numa carreira militar e ser chamada para guerra, o quanto ela sempre fora divertida e amorosa, sempre fora uma namorada e esposa devota de como era elas contra o mundo, mas agora era Parker contra elas, contra o que tinham construído, não entendia o porque ela as sabotava tanto, e mesmo com tanta insistência de sua parte Parker não deixava de correr atrás do exército, como se ela quisesse voltar para lá constantemente. Estava lutando arduamente por ela, mas Parker não queria melhorar e por mais que doesse admitir estava considerando terminar aquele relacionamento por sua própria sobrevivência mental. Enid não comentou nada sobre aquilo, apenas a ouviu tentando a consolar o máximo possível, se sentia mal por aquela situação, se pudesse ajudar a amiga, ajudaria mas não tinha muito o que fazer, já que Parker não queria ajuda, sentia muito por ela.

After You (G!P Wenclair - AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora