Love In The Dark

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Wednesday acordou levando alguns segundos para identificar onde estava, puxou o ar para dentro dos pulmões com dificuldade como estava sendo de uns dias pra cá, o que a fez recorrer a medicina para entender o que estava acontecendo com sua saúde física, mas os resultados vieram limpos, não tinha nada em seu sistema respiratório, seus pulmões eram límpidos como água mas mesmo assim sentia essa dificuldade todas as manhãs, e isso a levou a conclusão mais óbvia... ansiedade. Vinha tendo dificuldade para dormir, para comer e isso afetava sua respiração também. Seu livro tinha sido lançado digitalmente e esperava completar a marca de venda para começarem a vender os exemplares físicos, mas nem isso a empolgava, sua cabeça não estava no mood, não queria lidar com nada. Negou as visitas e ligações de sua mãe, se isolou dos amigos e se absteu até mesmo dos livros que gostava de ler.

O vazio parecia ter se infiltrado em cada fibra do seu ser, consumindo-a como uma chama voraz. Sentimentos em geral sempre foram muito confusos para ela e sempre a acertaram de jeito, mas não conseguia entender porque dessa vez parecia ser pior do que os meses que passou esperando Enid voltar da guerra. E talvez esse fosse o X da questão, naquela época sabia que Enid voltaria, mas agora? Agora era como se estivesse se afogando em um oceano do pior sentimento que já a atingiu, a saudade. Cada lembrança de tudo o que aconteceu era uma luta contra a correnteza que ameaçava arrastá-la para baixo. Talvez se tivesse segurado as pontas por mais tempo, se não tivesse falado tudo que falou, se não fosse tão curiosa nada daquilo estaria acontecendo. Aquilo já ultrapassava de ser uma simples obsessão, obsessões são como brinquedos que uma hora ou outra a criança enjoa de brincar, mas ela não enjoou, pelo contrário queria cada vez mais.

E ao perceber isso, se lembrou das palavras ditas por Enid antes dela sair correndo da casa de seus pais "Eu amo você Wednesday" entendia agora o porquê de tanto sentimento e porque tais palavras foram proferidas a meio choros e soluços, porque amar doía. Doía pensar em Enid sofrendo as consequências de suas escolhas de guerra, doía pensar que não foi capaz de ajudá-la, doía o egoísmo de querer tê-la por perto mesmo em um momento tão infortúnio e inflamado, e doía mais ainda a ausência dela. As paredes de sua casa pareciam se fechar ao seu redor toda vez que lembrava que a tenente não estava ali, o sentimento sufocando-a com a sensação de solidão esmagadora, desejava poder escapar daquele tormento, mas não havia para onde ir, nenhum refúgio seguro onde pudesse se esconder do peso esmagador da sua própria dor... de seu próprio amor.

No fundo sabia que o caminho da cura seria longo e árduo, uma jornada solitária através do deserto de sua angústia. Mas não estava mais acostumada a ser solitária, já havia percebido isso há um tempo, porém nada dissertou já que seus dias eram preenchidos por cores irradiantes e abraços brandos. Não podia fazer nada, no entanto, por enquanto, tudo o que ela podia fazer era render-se ao vazio que a consumia, permitindo-se sentir cada gota dessa experiência até que finalmente talvez alguma hora esse sentimento passasse.

O relógio na parede parecia arrastar-se, cada tic-tac marcando o ritmo lento e doloroso da passagem do tempo, indicando que os dias passavam devagar, como tormentas tediosas e algumas vezes dolorosas. Enid não fazia contato desde a última vez que a viu na Mansão, ela também não voltou para a casa nem para pegar suas coisas. Casa... se ela não se sentia em casa ali então do que valia toda aquela preocupação que sentia? Todas as noites olhava para as paredes escuras de seu quarto e o outro lado de sua cama também vazio, todas as noites engolia seco e se forçava a dormir ainda que mal, ansiando pela manhã seguinte que talvez encontrasse aquele lado ocupado, mas o vazio sempre a atingia fazendo-a segurar o fôlego e ficar estressada pelo resto do dia. Andava pelo apartamento analisando tudo, cada cômodo escuro que tanto apreciava agora não fazia sentido nenhum. A cozinha não tinha nenhuma cor, a sala não tinha nenhuma cor, assim como no restante do recinto, assim como na sua vida, foi quando percebeu que não tinha nada de Enid ali, não tinha sua doçura, não tinha seu cheiro, não tinha suas cores.

After You (G!P Wenclair - AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora