Hostage

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"Estava com medo, aterrorizada. A cena ao redor era de um horror inimaginável: seu quarto se transformou num cenário destruído, rochas quebradas e sangue espalhado pelo chão de cinzas. No centro do caos, um corpo jaz inerte, olhos fixos no vazio, uma expressão de medo e dor congelada no rosto. Sua respiração fica irregular enquanto se move com cautela para encontrá-lo. Mais um vulto e o cenário muda. Suas mãos tremem ao olhar para elas, cobertas de sangue fresco. Ela sabe, com uma certeza aterradora, que foi a causadora daquilo. O peso da culpa é esmagador, quase insuportável. Levantou, mas suas pernas estão fracas, quase incapazes de sustentá-la. Cada passo que dá pela floresta escura parece um eco de sua própria condenação. As lembranças vêm em flashes: a raiva incontrolável, o som dos gritos, o impacto de cada golpe.

De repente, um espelho quebrado reflete sua imagem distorcida. Seus olhos vermelhos e rosto ensanguentado, encontram o seu próprio reflexo, e vê o monstro que se tornou. A sensação de pânico aumenta, e se afasta, tropeçando nos destroços e caindo num abismo fundo e escuro, colide com o chão ao lado de um corpo. Chorou em cima dele, chorou copiosamente e desesperadamente. A realidade do que fez é insuportável. Cada detalhe grotesco da cena ao seu redor parece gritar sua culpa. Tenta cobrir os ouvidos, mas não há como escapar dos gritos, das súplicas, da violência que cometeu. Inconscientemente sabia que não estava lá, mas mesmo assim a sensação é como se estivesse. Ela percebe que não há como fugir da verdade. O remorso a consome, sufocando qualquer esperança de redenção. E então, com um último suspiro de desespero, ela acorda."

...

Enid acordou num sobressalto, seu cérebro assimilando o imaginário com o presente. Sentiu o aperto no peito antes de qualquer outra coisa. Era como se um peso invisível estivesse pressionando seu coração, dificultando cada respiração. O ar ao seu redor parecia se fechar, tornando-se espesso e sufocante. Seu olhar se fixou em um ponto qualquer do quarto, mas as bordas de sua visão começaram a se borrar, como se um véu escuro estivesse descendo lentamente. Os sons ao redor, se calaram e apenas ouvia o ruído constante de seus próprios batimentos cardíacos que ecoavam em seus ouvidos, cada batida rápida e irregular reforçando a sensação de desespero iminente. Suas mãos começaram a tremer, e um suor frio cobriu sua pele, trazendo um contraste perturbador ao calor que sentia em seu rosto.

Pensamentos caóticos invadiram sua mente, cada um mais urgente e alarmante que o outro. Ela tentou focar em algo, qualquer coisa que pudesse ancorá-la à realidade, mas tudo parecia escapar por entre seus dedos, como areia fina. A certeza irracional de que algo terrível estava prestes a acontecer tomou conta de seu ser, apesar de saber, em algum lugar profundo e racional, que não havia perigo real. Tentou controlar a respiração, inspirando profundamente e soltando o ar devagar, mas cada tentativa parecia apenas aumentar sua ansiedade. A sensação de estar fora do controle, de ser uma marionete cujos fios estavam sendo puxados por mãos invisíveis e impiedosas, era esmagadora, e essas linhas estavam em seu pescoço. Ela fechou os olhos, tentando encontrar um refúgio no escuro, mas mesmo assim, as imagens aterrorizantes persistiam. Queria dar um basta! Precisava de um basta! E sabia que a única opção para isso era cessar de vez sua respiração já dificultosa.

Seu coração estava no topo da garganta e sua mente atormentada, apenas queria paz. No pequeno quarto da kitnet alugada moveu-se desesperada procurando por qualquer coisa que a livrasse de seu sofrimento, achando na mesa ao lado da cama a faca no prato que tinha jantado noite anterior, imaginando que como seria rápido a lâmina perfurar sua jugular e toda sua vida ser expelida em questão de segundos. Pegou rapidamente apontando para o pescoço, era só um impulso e tudo acabaria. Porém exitou... mas por que não tinha coragem? Por que não conseguia se libertar? Chorou desesperada, por que tinha que ser tão covarde? Com as mãos tremendo e suas pernas cambaleando, alcançou seu celular ligando para um número seguro.

After You (G!P Wenclair - AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora