What I'm Becoming

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– Pelo que observo, não me parece delírio nem transtorno. E, com certeza, nada psicótico. A meu ver a experiência que você teve junto com o estado de alerta constante dispara em você ansiedades passadas, presentes e futuras, mais o estresse seguido por insônia às vezes – Dra Kinbott olhou para Enid que abaixou a cabeça e confirmou – Você tem feridas que não se fecharam ainda. E é possível que nunca se fechem completamente, é a natureza do trauma. Mas você pode aprender a por controle nisso com o tempo, não será fácil, e terá muito trabalho pela frente – finalizou se intrigando logo em seguida – Agora... me interessa muito saber o que faz aqui Wednesday?

Wednesday a fuzilava com os olhos, acompanhando tudo, sempre odiou aquela mulher, porque odiava como ela estava certa algumas vezes e como ela era irritante sem fazer esforço nenhum, nunca imaginou que depois de tanto tempo voltaria a vê-la novamente, mas estava ali por Enid, então manteria sua guarda.

O acordo foi, Enid continuar vendo a Dra Kinbott até que sua vaga na clínica do Sargento Walker vazasse e não aceitaria um não como resposta. Apesar de tentativas de controvérsias, conseguiu convencer a tenente, assim como a fez se mudar daquele lugar mofado, para um melhor, mais perto e dentro do orçamento dela, a ajudou arrumar móveis adequados como algumas velharias da Mansão Addams, que ainda davam para o gasto, coisa que a loira amou por não precisar gastar nada e segundo ela ainda a fazer lembrar dos Addams. Os dias se passaram depressa e apesar de manterem esse relacionamento complexo e intenso, Enid não voltou mais para seu apartamento, nenhuma vez. Estavam indo devagar agora, não a via com muita frequência e geralmente se encontravam no apartamento da loira, para buscá-la para algo ou para tomar o café da manhã juntas, coisa que Enid insistia muito às vezes, pois a maioria dos dias eram difíceis demais para ela suportar e não a deixaria sozinha. Não diria que as coisas tinham esfriado entre elas, pois o desejo estava lá, sentia aquela chama a consumir por dentro assim como via a mesma nos olhos da loira. Porém não precisavam expressar aquilo o tempo todo, se quisessem sobreviver como um casal, tinham que se comportarem como tal, uma dando suporte a outra no momento de necessidade, e queria passar por aquilo, mas mais ainda que Enid passasse por aquilo.

– Enid e eu estamos em um relacionamento – Wednesday confessou e cruzou os braços, Kinbott alternou o olhar entre as duas e Enid sorriu sem graça com as bochechas avermelhadas.

– Interessante... – Kinbott observou – E como tem lidado com sua sociopatia em relação a isso? – Wednesday não respondeu – Para alguém que gosta do caos, e não se importa com as interações humanas, Enid é uma pessoa altamente desafiadora, uma vez que ela tem um trauma que requer muita atenção, contato físico e empatia.

– Isso não é sobre mim! – a gótica respondeu já querendo enforcar a loira oxigenada na sua frente.

– Se você está aqui, é sobre você também! – Kinbott rebateu com a voz doce e sorriu gentilmente. "Cínica" Wednesday pensou.

– Wednesday vem me ajudado... – Enid interrompeu aquele clima estranho entre as duas, entrelaçou seus dedos aos dedos frios da gótica achando fofo a forma que ela estava quase pulando no pescoço da terapeuta – Ela é meu pé no chão, meu parâmetro de realidade quando tudo é confuso ou doloroso demais pra suportar.

O silêncio se fez presente mais uma vez, e ninguém ousou falar nada após aquela confissão. A doutora observou bem, Wednesday sempre foi uma incógnita para ela, na adolescência os pais achavam que ela era psicopata, especialmente depois de um incidente envolvendo os colegas escolares, mas com o tempo foi percebendo que apesar de ser fora da caixa, Wednesday tinha sentimentos genuínos e não objetivos, ou seja... quando convém, tal qual um psicopata. Depois de algumas sessões deu o diagnóstico então de sociopatia, ela tinha uma capacidade embora que limitada de sentir empatia e remorso e era muito altruísta, coisas que um psicopata jamais teria. Agora depois de alguns anos, ela estava preocupada e empenhada, podia ver que ela era capaz de sentir muito mais. Se orgulhou de todas as vezes que a instigou ao limite e da evolução da pequena Addams.

After You (G!P Wenclair - AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora