The End of Love

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" – Disseram para nos preparamos o melhor possível para o que nos aguardava. Como por exemplo crianças na frente dos nossos veículos tentando nos distrair, disseram que tínhamos que atropelá-las pois não podíamos parar por nada pois podíamos ser atacados. Todos os comboios que foram para o norte foram atacados ou emboscados. Ser atacados ou não nem sequer era uma questão, e sim quando seria, porque uma hora ou outra seríamos, era inevitável...

Como pode imaginar, essas coisas são difíceis de digerir. Estou fazendo o que posso, sei que ando deprimida, mas procuro me manter sã, e isso é cansativo, céus como é cansativo! E acho que isso é um deslumbre da minha alma, eu estou cansada, exausta.

Ainda não consigo expressar o que sinto, e isso já faz meses, eu tento e tento e tento, mas nada sai do lugar, estou parada nessa areia movediça e estou afundando aos poucos. Disseram que eu logo esqueceria, que seguiria minha vida, arrumaria um emprego, uma casa, alguém para amar, que depois você consegue olhar para a ferida e tocá-la. Mas leva muito tempo para entender o que aconteceu, e eu ainda não estou lá, minha ferida está totalmente aberta e com isso estou ferindo todos ao meu redor. É um choque quando você percebe isso, e então o choque passa rápido e o que resta é a dor e a culpa, e dor e culpa são amantes aladas das quais você não consegue se livrar facilmente.

Quando tudo acabou e pude ser realmente destacada, eu senti alívio, eu realmente senti alívio. Eu esperava voltar pra casa, que meus pés estivessem pisando em terras firmes e seguras, que teria finalmente a aprovação que tanto busquei, mas eu deduzi demais e minha cabeça sempre acaba repetindo várias e várias vezes todas as coisas horríveis que cometi por nada. Eu sei... sei o que vai dizer "a culpa não foi sua; você não podia fazer nada; você não tinha escolha" eu tinha sim, eu escolhi não me impor o suficiente e dedicar a minha vida fazendo mal a outras pessoas apenas para agradar uma que nunca se importou comigo de verdade, que nunca me aprovou, talvez sequer tenha me amado como filha. Como fui tola, como fui ingênua e imatura. Hoje eu entendo. Por isso não aceito que falem que não foi culpa minha, pois eu tinha plena consciência do que eu estava fazendo, mas a troco de quê? Uma migalha de afeto, uma falsa aprovação? O que eu esperava?

Tanto horror eu vi, tanto mal eu fiz...

Isso não sai de mim, tudo que vivi lá, tudo que experienciei, são como sombras que me perseguem até nos sonhos, não, sonhos não, pesadelos. Wednesday... ela é importante pra mim, talvez seja a única coisa na minha vida que realmente importa, que valha a pena... e como eu pude fazer mal a única coisa que me importa? Não posso continuar com isso, não posso expor mais ninguém a esse contato tóxico comigo, especialmente ela. Eu sei que ela quer me ajudar, me consertar, eu vejo isso nos olhos dela por mais que ela não verbalize, e eu amo isso nela, eu... eu a amo. Mas não há mais nada para consertar aqui, nada que eu possa oferecer, não sobrou nada de mim.

Eu já não tenho mais coragem de continuar há um tempo, eu penso muito nisso, sobre tudo o que aconteceu, eu entendo o Joel, o porque ele fez o que fez, talvez pra finalmente encontrar a paz, pra acabar com essa tortura, pra proteger quem ama, talvez assim seja melhor, assim as pessoas ao seu redor podem seguir em frente, e parem de te olhar com pena.

Isso me remete a tempos remotos, onde eu olhava para as pessoas que passei os últimos meses... vivi, protegi, lutei. Eles não sabiam de toda minha vida e eu não sabia de toda a vida deles, mas acabamos nos tornando uma família e nossa família teve baixas demais para serem superadas. Eu queria poder estar com um sorriso enorme no rosto, contar histórias incríveis de guerra e como sobrevivi, mas não tenho nenhuma, não me sinto vitoriosa. Sinto que fracassei, fracassei como filha, como pessoa, fracassei como tenente... metade do meu pelotão se foi, seja em batalha, ou sucumbindo a própria mente, os que sobraram? Sequelados... assim como eu, não conseguem mais se inserir na sociedade, e a culpa disso tudo é minha. Eu não estava pronta para liderar, mas meu nome carrega o peso de gerações, a farda sendo passada anos após anos. Numa alcateia o alfa é quem toma as decisões, têm força e habilidades superiores aos outros, mas eu não sou um alfa como dizem, minhas decisões só nos levaram às ruínas.

After You (G!P Wenclair - AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora