𝐑𝐄𝐏𝐀𝐈𝐑𝐒

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Meus pulsos estão menos doloridos hoje.

Retorno para o meu quarto após almoçar no refeitório do hospital. Insisti para as enfermeiras que poderia comer sozinho, então permitiram. Eu fingi não notar que me privaram de usar talheres perigosos. É estranho pensar que qualquer passo que dou, deixo as pessoas com medo de que eu me degole - não que me falte vontade.

Sento-me na cama e pego uma das revistas que disponibilizaram para passar o tempo. Não estou em posição de reclamar, mas não tenho como dizer que é divertido. O conteúdo das páginas é bem antigo e desatualizado, e estas roupas brancas que uso me deixam com a aparência de um cadáver.

Começo a ouvir balbucios no corredor. Suponho que sejam alguns médicos ou funcionários, mas ao se aproximarem do meu quarto, sou capaz de reconhecer as vozes de Choso e Yuji.

— Tenha cuidado — Choso abre a porta, permitindo que seu irmão mais novo corra até mim e me abrace com força. — E se possível, deixe-o respirar.

— É tão bom ver você.

— Eu não posso morrer sem assistirmos Minhoca Humana quatro. — retribuo seu afeto, mas não consigo usar tanta força nos meus braços. — É bom ver você também.

Choso nos trouxe até o jardim do hospital e voltou para dentro. É uma boa vista, tem flores bem tratadas e um cheiro agradável. Com certeza é melhor do que lá dentro.

Eu e Yuji sentamos em um dos banquinhos.

— O fushiguro e a Kugisaki também estão deprimidos sem você. — ele repousa a cabeça no meu ombro e depois a ergue. — Não somos completos sem o [Apelido].

Sorrio um pouco triste, mas não permito que transpareça.

— Choso me repassou seus recados. — ele chuta uma pedra qualquer. — Quando disse "sim", se referiu a Yuta?

— Vamos evitar este nome. — franzo o nariz. — Mas, é. Era a ele sim.

— Desgraçado.

— Esqueça isso. — Cerro os punhos sem forçar os músculos, apenas o suficiente para manter as mãos fechadas. — Nós dois sabemos que seria inútil insistir nessa situação.

— O que aconteceu naquele banheiro?

Penso um pouco antes de responder para evitar detalhes desnecessários.

— Ele apenas girou algumas peças na minha cabeça.

— Isso é uma resposta muito vaga.

O vento acaricia minha pele, fraco o suficiente para não causar arrepios.

— Foi como a outra vez?

— Coisa parecida. — tento forçar um tom humorado na voz. — Mas ele não trouxe drogas.

Yuji cruza os braços sobre o peito e recolhe os lábios para o interior da boca. Pelo tempo que o conheço, consigo notar alguns sinais de seu corpo em casos de vergonha, mentiras ou qualquer outra coisa similar. E neste caso, sei que tem algo preso em sua garganta que deseja me dizer.

— Preciso te contar uma coisa.

Sorrio, satisfeito com minha adivinhação.

— Desembuche.

— Sua irmã.

— Não. — eu arregalo os olhos, levantando para ficarmos de frente. — Yuji, não.

— Agora já era. — ele olha o relógio em seu pulso. — Ela deve chegar daqui umas cinco horas.

— Puta merda. — levo as mãos à cabeça. — Caralho.

𝐀𝐑𝐑𝐎𝐆𝐀𝐍𝐓 𝐒𝐄𝐗 - (sᴀᴛᴏʀᴜ ɢᴏᴊᴏ × ʟᴇɪᴛᴏʀ ᴍᴀsᴄᴜʟɪɴᴏ)Onde histórias criam vida. Descubra agora