A Dança Da Solidão

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"Seu sorriso.
Seu sorriso me dá o mundo.
Você sempre sorri, ok?
É como se o céu esfregasse os cantos dos seus lábios.
Minha garota talentosa."

𝐊𝐚𝐭𝐞

Hoje era um daqueles dias em que a gente para em frente ao espelho e se pergunta quem é aquela pessoa refletida. Minhas olheiras estavam enormes, e meu rosto, inchado de tanto chorar, parecia um completo desastre. Mas, por incrível que pareça, nada podia estragar meu dia: era a apresentação do Dia das Mães na escola da Adrielly. Não tinha certeza se deveria ir, mas uma promessa é uma promessa.

Decidi começar meu ritual ligando minha playlist favorita. Normalmente, prefiro silêncio enquanto me arrumo, mas minha mente estava tão caótica que precisava de outra voz além da minha. A introdução de "Valentine" começou a tocar e fui até meu armário. Escolhi um vestido preto longo, ideal para enfrentar o inverno americano, e um casaco grande para me aquecer. No cabelo, fiz um coque despojado com alguns fios soltos, e optei por uma maquiagem simples, nada muito elaborado, apenas o suficiente para esconder as marcas do choro. Nos pés, coloquei botas de cano alto, e finalizei com um perfume de fragrância doce.

Peguei as chaves do carro e de casa e parti rumo a uma floricultura. Escolhi um belo buquê de orquídeas, algo que sei que Adrielly adoraria. Com o buquê em mãos, voltei para o carro e segui para a escola.

Ao chegar, fiquei encantada com a decoração: flores por todos os lados, frases carinhosas e até alguns bolinhos distribuídos pelas mesas. Logo avistei Sydney, a babá da Adrielly, e fui até ela.

- Oi, Sydney! - cumprimentei com um aceno.

- Oi! Adrielly me pediu para guardar um lugar para você. Sente-se - disse ela, tirando a bolsa da cadeira ao lado.

- Obrigada. Onde está a Adri? - questionei, enquanto me acomodava.

Sydney apontou para o palco, onde várias crianças estavam alinhadas, prontas para começar a apresentação. E lá estava ela, minha pequena Adrielly, com um sorriso radiante. Seus olhos brilharam ao me ver, e naquele instante, todo o cansaço, as lágrimas e as dúvidas desapareceram. Hoje era o dia dela, e eu não podia estar mais orgulhosa.

A apresentação começou com uma música sobre profissões. Quando mencionavam a profissão de uma das crianças, elas faziam uma dancinha relacionada àquela profissão. Chegou o momento em que falaram sobre "uma galeria de arte onde podemos encontrar uma artista", e Adrielly levantou a mãozinha simbolizando a profissão da mãe dela. Minhas lágrimas queriam descer; a vida tem dessas surpresas. A gente pode ser mãe mesmo sem gerar uma criança.

A primeira parte da apresentação terminou e agora era a hora de entregar os cartões para as mães. Adrielly veio correndo ao meu encontro e me entregou um cartãozinho com a mensagem: "Ser mãe é um dom que vai além da gestação; é um ato de coração." As lágrimas finalmente escorreram dos meus olhos. Adrielly voltou para o palco e começou a tocar a música "Happy". As crianças dançavam descoordenadamente, mas era algo encantador de se ver. Eu, assim como outras mães, levantei e bati palmas com entusiasmo.

Naquele momento, percebi que, apesar dos desafios e dificuldades, a alegria de ser mãe superava qualquer tristeza. Eu estava lá, presente, e isso era o que importava.

Enquanto as crianças dançavam ao som de "Happy", a energia no auditório era contagiante. Cada mãe ali presente exibia um sorriso orgulhoso, e era impossível não se emocionar com a espontaneidade e alegria das crianças.

Depois da dança, houve um breve intervalo para que todos pudessem se servir dos bolinhos e refrescos dispostos em mesas decoradas com flores e laços coloridos. Caminhei até uma das mesas e peguei um bolinho de chocolate, o favorito de Adrielly. Enquanto degustava o doce, observei ao meu redor. Era reconfortante ver tantas mães e filhos compartilhando aquele momento especial.

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