"Então as cidades ficarão entre nós e nunca nos encontraremos. Mesmo as coincidências não serão capazes de nos unir. Então talvez um de nós morra e o outro nunca saberá..."
Tiago
A manhã começou com um gosto amargo, como se o sol estivesse mais forte do que o habitual, um reflexo cruel da noite anterior. Ainda estamos nos resquícios do Natal, com luzes piscando aqui e ali, e a aura do Ano Novo já se aproximando rapidamente, trazendo consigo promessas de recomeços e novas esperanças.
Ontem à noite, eu e Oliver decidimos nos entregar à euforia de uma festa, uma tentativa de prolongar o clima festivo que o Natal sempre carrega. Rimos, dançamos, brindamos ao que passou e ao que está por vir. A música alta, as conversas animadas e os sorrisos compartilhados criaram uma atmosfera quase mágica.
No entanto, agora, enquanto a luz do dia inunda o quarto, a ressaca faz seu efeito. Minha cabeça lateja, e cada movimento parece exigir um esforço colossal. Oliver está ali, deitado ao meu lado, também sentindo o peso das escolhas da noite anterior.
- Você está vivo? - pergunto, a voz rouca e entrecortada.
Oliver solta um gemido e vira-se de lado, os olhos entreabertos, tentando focar em mim.
- Mal. E você? - ele responde, com um meio sorriso cansado.
- Sobrevivendo... Acho que exageramos nos brindes. - dou uma risada fraca, lembrando das inúmeras taças erguidas.
Oliver ri suavemente, e o som é quase uma música suave para meus ouvidos doloridos.
- Bem, pelo menos a festa foi incrível. - ele diz, esticando-se na cama. - Você viu quando o Lucas decidiu fazer aquele discurso improvisado?
- Como poderia esquecer? - respondo, rindo mais forte agora. - Ele estava tão emocionado que até chorou. Quem diria que ele tinha tanto sentimento guardado?
Oliver balança a cabeça, um sorriso nostálgico se formando em seus lábios.
- Esses são os momentos que fazem valer a pena. Mesmo com essa ressaca.
Sento-me na cama, respirando fundo, tentando reunir forças para começar o dia.
- Vamos levantar. O ano novo está batendo à porta, e não podemos recebê-lo assim. - digo, estendendo a mão para Oliver.
Ele a pega com firmeza, embora a expressão de dor em seu rosto seja evidente.
- Vamos lá, parceiro. Que o próximo ano nos traga mais risadas e menos ressacas. - ele diz, levantando-se com dificuldade.
- E que possamos criar memórias tão boas quanto as de ontem. - respondo, sentindo um renovado senso de propósito.
De repente, uma lembrança me atinge como um raio.
- Estou na merda. - digo, mostrando a tela para Oliver.
Ele olha para mim com uma expressão de desaprovação misturada com preocupação.
- Tiago, você sabe a minha opinião sobre esse assunto. Eu sou contra. - diz Oliver, cruzando os braços.
- E quando você vai contar para ela sobre a melancia? - pergunta ele, baixando o tom de voz, mas ainda assim soando sério.
- Para de chamar o bebê de melancia. - respondo, revirando os olhos enquanto tomo um gole do café, tentando me despertar.
Oliver solta um suspiro profundo, claramente preocupado.
- É sério, cara. Você precisa contar logo. Não dá pra adiar isso eternamente.
- Eu sei, eu sei. - digo, colocando a caneca de café sobre a mesa com um pouco mais de força do que o necessário. - Eu vou falar para ela, você vai ver.