Aproximações Frustradas

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"Amar e esperar não são a mesma coisa. Todo mundo ama, mas nem todo mundo pode esperar..."

Kate
Aquele primeiro encontro acidental deu início a uma série de interações breves e casualidades que pareciam tudo menos casuais. Tiago buscava a minha presença com a determinação de um marinheiro seguindo as estrelas, enquanto eu, distraída pela minha arte e meu mundo interno, mal percebia o rumo que se traçava entre nós.

Naquela tarde ensolarada, a rua estava movimentada, com pessoas indo e vindo em meio ao burburinho cotidiano. Eu caminhava apressadamente, perdida em meus pensamentos, quando de repente senti alguém puxar meu braço com força. Assustada, virei-me e vi um homem desconhecido olhando para mim com um sorriso malicioso.

— O que você pensa que está fazendo? — exigi, tentando me soltar.

— Calma, gatinha, só queria te conhecer melhor — disse ele, sem soltar meu braço.

Um arrepio percorreu minha espinha e comecei a me sentir amedrontada. Antes que pudesse reagir, vi o rosto conhecido de Tiago surgir ao meu lado.

— Está tudo bem, Kate? — perguntou ele, com um tom firme e determinado.

Ao ver a expressão preocupada de Tiago, senti um misto de alívio e gratidão. Assenti com a cabeça, indicando que precisava de ajuda para lidar com aquela situação desconfortável.

Tiago então se interpôs entre mim e o homem desconhecido, olhando-o nos olhos com uma postura decidida. — Ela não está interessada, amigo. Por favor, solte-a e siga seu caminho — disse Tiago, em um tom que não admitia contestação.

O homem, surpreso pela intervenção de Tiago, soltou meu braço e recuou alguns passos, sem dizer uma palavra. Senti-me aliviada ao vê-lo se afastar e agradeci a Tiago com um olhar cheio de reconhecimento.

— Obrigada, Tiago. Você chegou na hora certa — disse, com um sorriso tímido nos lábios.

— Tem certeza que está bem? — perguntou Tiago, sua voz carregada de preocupação.

— Estou bem. Posso te recompensar com um café? — sugeri, apontando para um pequeno café com detalhes simples e minimalistas. No mesmo instante, reparei em um homem de cabelos castanhos curtos, em um terno que devia custar todo o meu salário e mais seis meses de adiantamento. — Se você quiser, claro — completei, um pouco sem graça.

— Eu aceito o café — disse Tiago, interrompendo-me antes que eu pudesse hesitar mais.

Caminhamos juntos até o pequeno café que eu havia apontado. O ambiente era aconchegante e tranquilo, um refúgio acolhedor da agitação da rua. Sentamos-nos em uma mesa próxima à janela, onde podíamos observar as pessoas passando do lado de fora.

Enquanto esperávamos pelos pedidos, Tiago quebrou o silêncio. — Kate, eu realmente fico feliz por ter chegado a tempo de te ajudar. Aquela situação foi assustadora, e fico aliviado por ter conseguido intervir — disse ele, olhando diretamente nos meus olhos.

Sorri, agradecida pela presença reconfortante de Tiago. — Sim, foi um susto, mas fico grata por você ter aparecido. Parece que você estava destinado a cruzar meu caminho novamente — respondi, com brilho nos olhos.

Os pedidos chegaram, e logo estávamos imersos em conversa, compartilhando histórias e risadas. Descobri que Tiago era uma pessoa atenciosa e gentil, com uma paixão pela vida e um espírito aventureiro.

— Pela sua paixão por Van Gogh, posso supor que você é uma artista? — disse Tiago, olhando para a capa do meu celular, que era uma reprodução de "A Noite Estrelada".

— Artista é demais, sou apenas mais uma amante da arte — respondi, saboreando meu café.

Antes de dar mais detalhes sobre a capa do celular, continuei: — Gosto de observar e apreciar diferentes formas de arte. Van Gogh sempre me fascinou com suas pinceladas tão vibrantes e cheias de emoção. É incrível como ele conseguia transmitir toda a sua alma através das cores e da textura das suas obras. Acho que todos nós podemos ser um pouco artistas em nossas próprias maneiras, não acha? — perguntei, com um brilho nos olhos.

Tiago sorriu e disse: — Se ser amante da arte não é ser uma artista, então você é uma artista no coração. A paixão que você tem por Van Gogh transparece em cada palavra que diz.

Rimos juntos, e a conversa fluiu naturalmente, cheia de leveza e flertes sutis.

— Você já tentou pintar algo? — perguntei, curiosa.

— Ah, já tentei. Mas minhas tentativas de desenhar resultam em algo que parece mais com "rabiscos de uma criança de dois anos" — brincou Tiago, rindo.

— Bem, a arte é subjetiva. Talvez você esteja apenas à frente do seu tempo — respondi, piscando para ele.

Tiago riu e respondeu: — Vou me lembrar disso da próxima vez que alguém zombar dos meus rabiscos.

À medida que o tempo passava, a conexão entre nós crescia, e a casualidade do encontro acidental dava lugar a uma afinidade profunda. Sentíamos que algo especial estava nascendo naquele café simples, algo que transcendia o acaso e apontava para um futuro cheio de possibilidades.

— Tiago, muito obrigada por ter me ajudado hoje e espero ter recompensado — disse, vestindo uma simples calça cargo e uma camisa maior que o meu tamanho normal, com uma eco bag onde carregava aquilo que mais amava.

— O prazer foi todo meu, Kate — respondeu Tiago, levantando da mesa. — Até qualquer dia.

Enquanto Tiago se afastava, olhei para a capa do celular, onde uma pequena reprodução de "A Noite Estrelada" de Van Gogh estava estampada. Sorri, sentindo-me grata por ter conhecido alguém que entendia e compartilhava minha paixão pela arte.

Caminhando pelas ruas da cidade, pensei sobre o encontro inesperado e como um simples café poderia ter dado início a algo tão especial. Estava ansiosa para explorar mais sobre a arte, compartilhar minhas ideias com Tiago e descobrir juntos novas formas de expressão.

À medida que o sol se punha no horizonte, senti um calor reconfortante no coração. Sabia que aquele encontro tinha sido apenas o começo de uma jornada cheia de inspiração, criatividade e conexão. E com um sorriso nos lábios, segui em direção ao horizonte, animada com as possibilidades que o futuro reservava.

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