Epílogo

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Esse epílogo é dedicado a todos os meus leitores que não me deixaram em paz até esse capítulo estar pronto, obrigada por persistirem em mim.

No meu peito aberto onde a sua nuca dorme
Dá pra ouvir as suas artérias chamando o seu nome
Sou tua linha de frente
Tua religião
Teu escudo bizantino
Teu sim, o teu não.

E toda essa gente que reza por nós
Mudaria num instante a nos ver a sós
No meu ouvido o som da sua voz é tão bonito.
Eu vou estar onde você estiver
Eu vou queimar pelo preço de te ter

— Religião, Jão

3 anos depois

Jão Romania:

Eu sempre achei que o amor me arrebataria no momento em que estivesse pronto para isso. Talvez quando por fim, após anos, a minha carreira conseguisse se firmar, longe de tantas críticas e ódio. Ou então, no dia que eu encontrasse o aconchego da minha família, conseguisse passar noites sozinhos em paz ou quando as pessoas entendessem mais sobre esse meu sentimento de vazio, que por tanto tempo me perseguiu.

Eu achava que o amor me encontraria em uma festa cara, agradaria os meus pais, que faria bem ao meu ego, provavelmente me surpreenderia com beijos gelados na chuva, cozinharia para mim, que contaria das suas histórias de infância, que seria doce e bondoso e sem dúvidas nenhuma, confortaria o meu peito.

Mas quando o amor chegou, ou melhor, me reencontrou, não foi em festas caras, e sim em uma estrada deserta depois de ter batido no meu carro. Quando o amor me reecontrou, ele não agradou os meus pais, muito menos o meu ego, no lugar de beijos gelados na chuva, tivemos muitas discussões e eu jurei por muitas vezes que eu poderia socar o seu rosto. Quando o amor me reencontrou, ele mal sabia cozinhar, e não me contou das suas histórias de infância, mas sim das nossas. Quando o amor me reencontrou, ele muitas vezes foi grosseiro e amargo me fazendo persistir e ver o lado doce que ele escondia de tantas pessoas.

Eu precisava entender que o amor não foi feito para corresponder as minhas expectativas; O amor é tudo o que dissemos que ele não era.

E eu sei que ele existe, porque nós existimos e após tantos desencontros estamos aqui, juntos.

— Baby?!
A voz rouca de Pedro soa sonolenta um pouco longe de mim, na nossa cama.
— Baby?

Mordo com força meu lábio inferior, ansioso.
O moreno para na minha frente me observando sentado ao chão com celular em mãos, provavelmente meu semblante é humilhante, com rosto inchada de choro e lábios ainda trêmulos, mas eu não me importo. Pedro podia me ver assim, só ele.

— O que aconteceu?
Franzindo as sobrancelhas ele se ajoelha ao meu lado, puxando o meu rosto junto ao dele.

Meu coração quase pula pela boca.
Como eu explicaria a ele que o nosso maior sonho por fim, tinha acabado de se realizar?

Sinto que é por isso que ando tão nostalgico, a jornada que Pedro e eu percorremos nos últimos anos nos mostrou o quão fortes somos juntos, e principalmente que poderíamos passar por qualquer problema se houvesse a nossa conxão nos entrelaçando. Entretanto, em muitos momentos dos dois últimos anos eu duvidei de que tudo poderia permanecer bem.

Existem circunstâncias que não dependem apenas da nossa força de vontade, do nosso querer, principalmente se estamos falando de um casal homossexual que sonha em ser pais.

Seus olhos se perdem no mar de melancolia que os meus se encontravam, talvez em toda a minha vida eu nunca tivesse sentido Pedro tão preocupado assim, estava na densidade do ar, na dificuldade do meu coração se acalmar, eu sabia que ele poderia escutar, e com certeza ele sabia que havia alguma coisa de diferente naquela manhã de domingo.

Meu Nêmesis - 𝐩𝐞𝐣𝐚̃𝐨.Onde histórias criam vida. Descubra agora