Pilantra

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Jão Romania

Meus olhos brilhavam assim que os pus na gravadora. Fazia bastante tempo que eu não pisava em uma, e ainda mais tempo em uma gravadora tão grande como essa.

Evito alguma fala impressionada e controlo um pouco os meus olhos que entregavam claramente as minhas impressões com o lugar, não quero demonstrar que estou deslumbrado, não na frente de Pedro.

Mas ao contrário de mim, Renan não parava de tagarelar com Pedro em como o estúdio era de última geração e bem equipado, enquanto o garoto exibia um sorriso convicto.

Babaca, o estúdio nem era dele.

— Você pode pelo menos desfazer essa ruga no meio da sua testa?
Pedro me pergunta repentinamente.

— Eu não tenho rugas!

Tento soar com convicção mas minha mão vai rápido para o meio da minha testa, examinando o local.

Pedro segura a risada com o meu desespero.

— É de estresse! Fico assim perto de você.

— Tá vendo Renan?
Pedro põe a mão no peito fingindo que estava ofendido.
— Ele me culpa até pela velhice dele.

Quando estou prestes a xingá-lo por ter me chamado de velho, um homem barbudo na faixa dos 29/30 anos entra no estúdio.

— Oii
Ele sorria carregando uma guitarra nas mãos.

— Zebu!
Pedro abraça o homem e nos apresenta.
— Jão, Renan, esse é o Zebu, ele vai ser o  produtor de vocês nos próximos dias.

Ele se vira para Zebu e cochicha, não tão baixo assim.
— O João bem difícil de lidar e quase sempre amargurado e chato mas com o tempo você se acostuma.

— Dá 'pra ficar quieto?
Pergunto

Zebu ri com a cena.

Talvez ele tenha achado a situação cômica no começo, mas por volta da 15° farpa que trocamos naquele dia, tanto Zebu quanto Renan começaram a ficar irritados.

— Vocês vão me deixar maluco! Pensei que a letra já estava pronta e que hoje íamos começar a cuidar do simple.
O barbudo diz passando a mão no rosto.

— E ela está, você não vai mudar merda nenhuma na música, Pedro!

— Para de ser burro, isso tá ruim.
O moreno se levanta do sofá e senta na mesa entre mim e o produtor.

Reviro os olhos.

— O refrão fica!

—  O refrão sai!

Renan que até então continuava sentado se levanta saindo correndo da sala.
— Vou buscar mais café.

Era obviamente uma desculpa besta para se livrar da gente.

— Que tal você repetir essa parte da música 'pra vermos sefica ou sai.

Me levanto indo até a área com isolamento acústico, e logo em seguida canto.

"Você finge que me odeia e que eu sou seu pilantra
Então pode ficar 'ni mim,
sentar 'ni mim
Faz o que tu quiser em cima de mim
Desse nosso jeito, esse vai ser o nosso mantra.

— Volta pra 'cá Jão
Zebu chama.

Assim que volto para sala me deparo com Zebu sério enquanto Pedro cobria todo o rosto com suas mãos.

Que merda ele tinha?

E então seus ombros balançam.

Não.

Meu Nêmesis - 𝐩𝐞𝐣𝐚̃𝐨.Onde histórias criam vida. Descubra agora